Do ecodesenvolvimento ao desenvolvimento sustentável

Os pressupostos do ecodesenvolvimento, entendidos como uma busca de compatibilização do desenvolvimento com os limites do ambiente, foram propostos por Maurice Strong e aperfeiçoados por Ignacy Sachs. Este especificou as dimensões sociais, culturais, espaciais, econômicas e ecológicas do termo:

“Ecodesenvolvimento é um estilo de desenvolvimento que, em cada ecorregião, insiste na busca de soluções específicas para seus problemas particulares, levando em conta não só os dados ecológicos, mas também os culturais, bem como as necessidades imediatas e de longo prazo” (2007a, p. 64).

Sobre as multidimensões do ecodesenvolvimento, Sachs as conceitua da seguinte forma: a) sustentabilidade social: busca da igualdade real e da justiça distributiva; b) sustentabilidade econômica: eficiência macrossocial na alocação e gerenciamento de recursos e a superação das barreiras e desigualdades entre Norte e Sul; c) sustentabilidade ecológica: utilização da tecnologia para otimização do uso de recursos naturais e da capacidade de suporte do planeta, limitação e substituição dos recursos e produtos não renováveis por renováveis, redução da produção de resíduos e poluição, limitação do consumo e implementação de uma normatização ambiental sistêmica e efetiva; d) sustentabilidade espacial: busca de uma configuração urbano-rural mais equilibrada; e) sustentabilidade cultural: modelos e soluções buscadas no saber local e adequadas a cada realidade específica (ecorregiões) (SACHS, 2007a).

Recentemente, o mesmo autor, na evolução de seu pensamento, simplificou tal conceito, identificando três dimensões principais:

“É com esses adjetivos acrescentados ao conceito de desenvolvimento que se dá ênfase a alguns dos aspectos que devem ser priorizados. E, nessa lógica, trabalho atualmente com a idéia do desenvolvimento socialmente includente [emprego, pobreza e desigualdade], ambientalmente sustentável e economicamente sustentado. Ou seja, um tripé formado por três dimensões básicas da sociedade”. (SACHS, 2007b, p. 22. Grifo nosso).

Após a publicação do relatório Brundtland, a busca pela harmonia entre desenvolvimento e ambiente passou a ser denominada pelo termo “desenvolvimento sustentável” que, com a Conferência do Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecida como Eco-92, Rio-92 ou Cúpula da Terra, foi difundido e utilizado mundialmente:

A humanidade é capaz de tornar o desenvolvimento sustentável – de garantir que ele atenda as necessidades do presente sem comprometer a capacidade de as gerações futuras atenderem também às suas (CMMAD, 1988, p. 9).

Martins (2005) ressalta que o termo “sustentável”, atrelado ao “desenvolvimento”, refere-se à capacidade de suporte da biosfera para fornecer matéria e energia e, de outro lado, a capacidade de absorver os resíduos produzidos.

Atualmente, 20% da população mundial, localizada nos países desenvolvidos, consomem 80% dos recursos naturais do planeta (PORTILHO, 2005), sendo que, por simples análise matemática, verifica-se que, se o resto do mundo quiser seguir este padrão de consumo, serão necessários quatro planetas para atender a 100% dessa necessidade consumista. Hoje há mais de seis bilhões de habitantes na Terra, vivendo em um sistema econômico que busca recursos ilimitados de um planeta finito e que fomenta, como qualidade de vida e felicidade, padrões de consumo e estilos de vida que, paradoxalmente, estão esgotando as reservas naturais e contaminando o planeta com os resíduos produzidos.

O simpósio sobre produção e consumo sustentáveis, ocorrido na cidade de Oslo, na Noruega, em 1994, estabeleceu, com muita propriedade, o conceito de consumo sustentável, adequável à definição de desenvolvimento sustentável, construída em 1987 pelo relatório Bruntland (CMMAD, 1988) como:

“Uso de bens e serviços que respondem a necessidades básicas e propiciam uma melhor qualidade de vida, enquanto minimizam o uso dos recursos naturais, materiais tóxicos e emissões de resíduos e poluentes sobre o ciclo de vida, de modo a não comprometer as necessidades das gerações futuras” (tradução nossa)1.

Verifica-se, como bem observado por Portilho (2005), que o enfoque dado às causas da crise ambiental evoluiu historicamente nestas últimas décadas do crescimento populacional (Neomathusianos) para o sistema econômico produtivo e, finalmente, principalmente depois da Eco-92, para o problema do consumo ilimitado. Em verdade, inserido num processo complexo e sistêmico como é o ambiente, todas essas variáveis interferem no agravamento da crise ambiental, havendo a necessidade de se focar em caminhos trilhados para a busca da “sonhada” harmonia entre o ser humano e o ambiente.

1The use of goods and services that respond to basic needs and bring a better quality of life, while minimising the use of natural resources, toxic materials and emissions of waste and pollutants over the life cycle, so as not to jeopardise the needs of future generations”. Disponível em: <http://www.iisd.ca/consume/oslo004.html>. Acesso em: 24 jul. 2009.

2. Artigo retirado do Livro: COSTA,Sandro Luiz da.Gestão integrada de resíduos sólidos urbanos: aspectos jurídicos e ambientaisAracaju: Evocati, 2011.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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