Eu cheguei a escrever um artigo apreciando a ação policial na desocupação do terreno do patrimônio público estadual. Como era uma defesa da coisa pública, o artigo não daria ibope, não valeria à pena publicá-lo. No geral, coisa pública é coisa de ninguém e invadir o público e o privado não é contravenção nem merece vil consideração. Com má consideração, o oficial e o profissional liberal estão a tratar a nossa polícia sem arrimos e defesas. Todos a querem em excesso liberal desocupando e banindo invasores, com cravos, rosas e jasmins, belas palavras e coisas afins. Porque a moda atual é acarinhar o desordeiro, o bandido ou aquele que violenta qualquer lei. Há um desvirtuamento da palavra bandido, ou melhor, o vocábulo bandido não merece ser aplicado a ninguém. Nem o condenado, por transitado e julgado, merece hoje ser chamado assim. A palavra bandido, inclusive, seria banida dos dicionários, não restasse apenas a sua última aplicação. Aplicá-la aos que lhes pensam diferente, igual a mim e poucos. Assim, o bandido contido agora no noticiário foi só a polícia, jamais o desordeiro, e eu agora, por mexer neste vespeiro. A polícia porque fez o trabalho necessário, e eu porque de ordinário não compactuo com o bestiário dele surgido, inclusive esta tola estória de denúncia à ONU, à OEA, à UNESCO, às cortes internacionais, ao tribunal de Haia, ao arco-íris mundial, ao greanpeace, às associações para-normais, antinormais, por desnaturais e excepcionais, e ao escambau internacional. Tudo porque não voga mais aquela velha estória de reclamar ao bispo, embora o vício recalcado do colonial inculcado nos permaneça por medíocre. Mas eu não quero falar de dentadas, arranca-madeixas e arranhões, nem de saudosismos vãos paroquiais, muito menos da nossa republicana necessidade de ser servil e feudal ao colonial banido mais jamais esquecido por provincial e protetor. Também não desejo falar destes organismos externos invocados, pintados como fada madrinha e boa, ou como o bruxo saneador, com poções mágicas, venenos e mezinhas. Desejo repelir o noticiário comezinho e tolo, destacado agora no paroquial obtuso, de requerer para nosso uso o que já está fora de hora: a mediocridade provincial do feudal servil partido. Perdido e jamais esquecido, mas que por nostalgia está agora requerido, portando outros nomes, é verdade, mas serviente por igual! Excedente testemunhal do calamitoso o viajar dos homens! Mas eu não desejo falar do calamitoso, nem de tolices, muito menos de estultices de um colonato ominoso, invocado agora e fora de hora, quando é inglória a sua memória. Desejo falar de coisas boas, da frugalidade do viver e do bem querer. Falar do amor, da beleza, do viver junto ao ser amado; o namorado, a namorada, o seu outro lado, a preencher. Falar de travesseiros compartilhados anos a fio, sem perder o fio e a esperança do envelhecimento junto, colhendo todas as falências na vida concedida e estendida, mudando o amor, amainando o ardor, restando mais doce, mais terno, mais amigo e mais companheiro por inteiro. Falar de companheirismo, de amizade, de troca de carinhos em louvação ao céu e a cada sol amanhecido. Falar de bênçãos que a vida alegra o existir no conviver, no caminhar sempre junto, no desejo de par-a-par sempre seguir em muitas promessas e juras de meiguice, por trilhas nem sempre de farto riso, brilho ou cores, mas dos nossos risos, nos mesmos trilhos, lacrimando as mesmas dores. Ah! Como é bom amar! Como é bom ser amado! Como é bom ser querido, ser desejado, aportar o ancoradouro seguro na alma do bem amado. E é tão simples! Mas os homens se desentendem, e não se entendem, e se repelem. Há homens que não conseguem segurar suas mulheres. Há mulheres que não conseguem segurar os seus homens. E as mulheres culpam os homens, e os homens culpam as mulheres, sem falar dos que, no convexo e também até no côncavo, se descartam ao sabor do gozo mal-empregado, mal-ajustado, mal-querido ou mal-adquirido, recém findo, mal-terminado. Amor com ferro ferido, marcado para sempre com um sabor amaro, azinhavrado. Daí eu ter pena dos homens e das mulheres, que se degradam em cios de machos e de fêmeas tresloucadas, a colecionarem gozos e parcerias, em descobertas inúteis de eretismos e orgasmos animalescos, nas bestiais orgias, na exaustão dos fluidos defluidos, desflorescendo-se em intenções vazias. E o amor nunca se esvazia, daí o dia dos namorados; o dia dos que se amam. Ele precede no Brasil ao dia de Santo Antônio de Pádua, taumaturgo franciscano, homem de muita fé nascido em Lisboa a 15 de agosto de 1195, que é reverenciado todo 13 de junho, dia de sua morte, pelo que se sabe e conhece. O que todo mundo conhece, por tradição, é que Santo Antônio é o santo casamenteiro, é o santo que promove o namoro e o casamento; um santo muito querido e festejado, sobretudo em Aracaju, que tem uma colina com seu nome. Antigamente as casas de Aracaju se engalanavam para homenagear Santo Antônio. Lembro, inclusive, que na minha infância e adolescência era missão noturna visitar 13 casas contendo altares de Santo Antônio. Hoje a cidade mudou. Ninguém mais pode receber a visita de estranhos, mesmo que seja para homenagear o santo. Sem temer mais a Deus nem a nada, os indivíduos usam até a crença e a benquerença em devoção para roubar e violentar. Assim, no lugar de visitar treze lares com altares do santo, limito-me hoje a sair passeando de automóvel pelos bairros mais humildes de minha cidade, contando fogueiras com que os Antônio homenageiam o Santo do seu nome nas portas de suas casas. Com fogueiras e fogos têm sido as minhas festas juninas de São João e de São Pedro, mas Santo Antônio nunca recebeu de mim a mesma homenagem. Rezo, porém, com Tereza, minha mulher, a trezena de Santo Antônio agradecendo as suas bênçãos ao nosso amor. Já sei até decorada a antífona do seu responsório, que repito: SE MILAGRES DESEJAIS, RECORREI A SANTO ANTÔNIO, VEREIS FUGIR O DEMÔNIO E AS TENTAÇÕES INFERNAIS. RECUPERA-SE O PERDIDO, ROMPE-SE A DURA PRISÃO E NO AUGE DO FURACÃO CEDE O MAR EMBRAVECIDO. TODOS OS MALES HUMANOS SE MODERAM, SE RETIRAM. DIGAM-NOS AQUELES QUE O VIRAM, E DIGAM-NO OS PADUANOS. RECUPERA-SE O PERDIDO… PELA SUA INTERCESSÃO FOGE A PESTE, O ERRO, A MORTE; O FRACO TORNA-SE FORTE E TORNA-SE O ENFERMO SÃO. RECUPERA-SE O PERDIDO… No mais, desejo dizer que Santo Antônio fora inicialmente um frade agostiniano, mas ao ver em Coimbra o enterramento de vários franciscanos martirizados no Marrocos, resolveu fazer-se também um deles. Foi recebido pelo próprio São Francisco de Assis, que o nomeou primeiro Professor de Teologia da Ordem dos Franciscanos. Morreu muito cedo, com 36 anos, numa sexta-feira 13 de junho de 1231, no caminho para Pádua. Daí ser Santo Antônio, tanto de Lisboa, quanto de Pádua, por invocação das duas cidades. Por que é o santo casamenteiro ainda não sei. Deixo a critério do leitor, esclarecer. Do folclore nordestino há muita canção com o santo. Há aquela cujo refrão é bastante conhecido, atribuído inclusive ao próprio São João. “- MATRIMÔNIO, MATRIMÔNIO, ISSO É LÁ COM SANTO ANTÔNIO”. De forma que é melhor curtir o dia dos namorados e o dia de Santo Antônio, do que falar desta tolice de invocar anistia internacional como cura dos nossos males. Nós é que precisamos sanear o nosso viver. Quanto a Santo Antônio, foi promovido a soldado de 2º Regimento de Infantaria pelo rei Pedro II de Portugal no século XVII, quando Portugal guerreava a Espanha para se manter independente. Depois foi promovido a capitão. E em seguida a rainha Maria I, avó do nosso D. Pedro I o fez general em 1780. Já D. João VI o fez tenente-coronel do exército brasileiro. Segundo Amaral Fontoura, por citação em seu Calendário Cívico de um dos seus biógrafos, o santo hoje faz parte da reserva nacional não remunerada, reformado “depois de três séculos no serviço ativo do Exército”. E assim eu termino, convocando os namorados a rezar a Santo Antônio para que se amem e se preencham em anelo mútuo, recuperando o elo perdido, sem medo da prisão ou furacão, nem do mar embravecido, como nos recomenda a sua antífona e o seu refrão.
O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
Comentários