É só chegar à São Cristóvão (SE), distante pouco mais de 20km de Aracaju, que se tem a sensação de voltar ao tempo. A cidade faz remeter o pensamento ao Brasil colonial e foi fundada em primeiro de janeiro de 1590, sendo a primeira capital do Estado de Sergipe.
Considerada a quarta cidade mais antiga do país é hoje um dos sítios arquitetônicos mais importante do Estado. São cerca de 15 prédios tombados pelo Patrimônio Histórico e Cultural somente na parte alta da cidade. Não é por menos que ela é Patrimônio Histórico e Artístico Nacional desde 23 de janeiro de 1967 e pleiteia o título de Patrimônio Mundial para a Praça São Francisco.
Basta chegar nesta praça para observar um conjunto arquitetônico harmonioso. Do lado direito, a antiga Santa Casa de Misericórdia, hoje o Lar Imaculada Conceição. Do lado esquerdo, um enfileirado de casarios. Ao fundo, é de encher os olhos a vista da Igreja e do Convento de São Francisco ou de São Cruz, onde funciona o Museu de Arte Sacra. Do outro lado, o Museu Histórico de Sergipe com diversos casarões ao redor, um delas a antiga Ouvidoria. No meio da praça, um cruzeiro remota aos tempos do século XVI.
Não deixe de percorrer a praça, de dar uma entrada no Museu Histórico de Sergipe para conferir os quadros, fotografias, mobiliário do Brasil colônia, as salas que conservam a história do Cangaço, e a arquitetura do prédio. Logo após, visite o Lar da Imaculada Conceição, antiga Casa de Misericórdia. O prédio passa por reformas e há uma sensação de decadência, porém, atenha-se aos detalhes de como foi o casarão em tempo de outrora. Observe os detalhes e adornos das portas, o pouco mobiliário que ainda resta, a capela, os jardins e o melhor, aprecie os famosos bricelets, biscoitinhos feitos de forma artesanal pelas freiras carmelitas.
Conheça a Igreja e o Convento de São Francisco, mas antes reze uma prece para ter sorte de encontrá-los abertos, ou melhor, é preferível ir no turno da tarde, pois a nova gestão governamental tem incentivado a abertura de alguns prédios histórico a partir das 13h. Se tiver um pouquinho de paciência, também poderá ter uma conversa com um dos carmelitas do Convento para adentrar e conhecer melhor a religiosidade do local, com suas colunas desenhadas e abóbadas arredondadas.
Em estilo barroco, a construção do conjunto iniciou-se em 1693 através de doações da população local aos padres franciscanos. Quando São Cristóvão era a capital da Província funcionou, no convento, a Assembléia Provincial. O grande salão da Ordem Terceira era ocupado pela Tesouraria Geral da Província. Serviu, também, para aquartelar as tropas do batalhão que combateu os seguidores de Antônio Conselheiro, em Canudos, em 1897.
Hoje o Museu de Arte Sacra, que também fica no complexo histórico, abriga um acervo considerado o terceiro mais importante do país. A maioria das peças pertenceu às famílias nobres da região e foram doadas ao museu. E haja história para ver e curtir.
O passeio só está começando e é hora de passar pela Rua dos Poetas, pela praça da Igreja Matriz de Nossa Senhora das Vitórias (Praça da Matriz). Há um sobrado denominado Balcão Corrido, o antigo fórum de justiça, a prefeitura e várias casarios, um deles chamado de Casa da Queijada, que vende queijadinhas, outro sabor encontrado em São Cristóvão. A iguaria é feita de coco, leite, farinha de trigo e açúcar, nada de queijo, mas é bom se apressar, pois o conjunto arquitetônico do Convento da Ordem Terceira do Carmo lhe espera.
O conjunto compreende a Igreja do Carmo e a Igreja da Ordem Terceira (Senhor dos Passos), o Convento do Carmo e a sala Irma Dulce, onde a carmelita começou seus dias de reclusão. Pode-se se encontrar pertences, bonecas, fotos e um memorial. Na Igreja da Ordem Terceira ou do Senhor dos Passos, o Salão dos Ex-votos chama atenção. Como penitência e agradecimento por uma graça alcançada, fiéis depositam no salão réplicas de partes do corpo esculpidas em madeira, fitas, cruzes, livros, fotos, tudo, tudo que se imaginar.
Observe o altar-mor das igrejas e as peças sacras restauradas recentemente. O forro da capela-mor da Ordem Terceira está sendo restaurando e nesse processo se descobriu que embaixo da pintura havia um verdadeiro mosaico barroco. Possui ainda um pequeno claustro interno que deve ser visitado.
Também veja o jogo de sombra e luz refletidos nas portas e colunas entre as igrejas e o convento. Não perca de visitar a sacristia também restauradas. Na sacristia da Ordem Terceira há afrescos em todo o teto e também chama atenção pela imponência da pia em pedra calcária utilizada para lavar as mãos das Irmãs Concepcionistas e hoje dos Carmelitas, responsavéis pelo sítio histórico.
Se observado, o passeio começou na Praça São Francisco e percorreu mais duas praças, ou seja, os principais prédios históricos estão concentrados em três praças principais, o que facilita a visita a cidade de São Cristóvão. Partindo da Praça do Carmo ou Senhor dos Passos em direção ao acesso à Aracaju pela Rodovia João Bebe Água, conheça ainda Igreja do Amparo (antes exclusiva para homens) e a do Rosário dos Pretos. Observe os detalhes bem mais simples do que as outras igrejas. Esta última era permitida apenas para negros. O altar não tem tanta imponência e só há uma torre bem menos longínqua.
Na cidade baixa há uma antiga estação de trem, uma bica onde os são-cristovenses se divertem no final de semana, mas necessitando de reforma urgente, ou seja, a visita é dispensável e o atracadouro, que também pode ser dispensado. O centro comercial está lá e a feira livre também, onde se pode encontrar mais um sabor são-cristovense, os famosos peixes na palha (muquequinhas). Afinal, como em toda cidade histórica, a cidade baixa também tem seus encantos e há seus altos e baixos.
Fotos: Silvio Oliveira
Dicas de Viagem
A Casa da Queijada fica na Praça da Matriz, n 56. Também se pode encontrar outros tipos de quitutes a precinhos bem convidativos. Na casa de Dona Marieta, na frente da rodoviária, na cidade baixa, bem no centro da cidade, também é referência para compra das queijadas.
O Município ainda possui bens remanescentes de antigos engenhos, que possuem valor cultural e que merecem ser preservados. Apenas duas capelas rurais de antigos engenhos em São Cristóvão possuem tombamento, a do Poxim e a de Itaperoá, próximo a Itaporanga d”Ajuda, esta última está completamente abandonada e em processo de arruinamento, ou seja, sério risco de desaparecer.
Na saída da cidade pela Rodovia João Bebe Água, a 2 km do centro histórico, há o Cristo Redentor, erguido em 1924, sobre as bases da antiga capela de São Gonçalo.
Na Praça São Francisco há guias mirins disponibilizando seus serviços, mas cuidado. Procure sempre serviços especializados.
Em Aracaju há agências de viagem que fazem o passeio “Cidades Históricas” envolvendo São Cristóvão e Laranjeiras. O passeio é bastante agradável, mas cuidado com o horário de abertura do museu e igrejas. Informe-se na própria agência antes de ir.
Curiosidade
São Cristovão ainda preserva a procissão de Senhor dos Passos, que atrai religiosos, estudiosos e pesquisadores de toda parte do país. Há também a procissão do Senhor Morto e das Matracas, realizada à noite. A cidade já foi considerada referência em Festivais de Arte e também Cidade da Seresta em tempos mais áureos. Hoje, São Cristovão amarga sucessivos problemas de gestão pública, porém, melhora a autoestima de sua população por apresentar ao mundo a Praça São Francisco, em processo de tombamento mundial pela Unesco. O valor universal da praça foi coroado pela delegação espanhola que apresentou a comissão o sítio histórico de São Cristóvão como resultado das ordenações filipinas e, portanto, espanholas, em terras de domínio português, considerando assim um exemplo material único do momento histórico em que Portugal e Espanha estiveram unidos sob uma mesma coroa.
Como chegar
Partindo de Aracaju pode-se chegar a São Cristóvão pela rodovia estadual João Bebe Água e pela BR 101. A primeira, passa por duplicação e há muitas curvas, porém, chega-se mais rápido, a pouco mais de 20km. A segunda, é bem mais movimentada e mais longe, pouco mais de 30km. Os dois trajetos são fáceis e há boa sinalização.
Fotos Registros
Fotos: Silvio Oliveira
Na Bagagem
ü Turistas assaltados enquanto fazem city tour na Colina de Santo Antônio e embarcações que afundam na região de Mangue Seco. As notícias durante esta semana não estão tão boas para o turismo em Sergipe. Precisa-se rever segurança e fiscalização.
ü Threfasico Beach é o nome da balada do momento, que irá acontecer no dia cinco de dezembro pela primeira vez em Aracaju (SE). Nos pick-ups o Dj Julião (Club A Loca -SP), Dj Erick (SP), Dj Toquinho(SE), A Lapada (SE) e mais três ambientes fazendo o agito na Cabana Torre do Mar (rodovia da Praia de Aruana).
ü A consultoria americana PricewaterhouseCoopers revela que a cidade de São Paulo pode se tornar a 6ª mais rica do mundo até 2025. Atualmente na 10ª posição do ranking das mais ricas do mundo, deve crescer 4,2% em média ao ano até 2025, ultrapassando cidades como Paris, Osaka e Cidade do México. Rio de Janeiro, Brasília, Porto Alegre, Belo Horizonte, Curitiba, Recife, Fortaleza e Salvador devem figurar no ranking das 150 cidades com maior PIB no mundo em 2025.
ü Matéria escrita no jornal “New York Times” sobre a Barra da Tijuca no Rio de Janeiro: “Barra da Tijuca: um ponto badalado no Rio com ares de Miami”. A matéria fala que o local tem pouco dos aspectos requintados da cultura brasileira, mas é lá onde encontra os corpos mais sensuais do planeta, bons restaurantes, vida noturna agitada, além de ser cheia de congestionamentos e shoppings centers de mau gosto, ou seja, “o mais recente playground dos novos ricos badalados do Rio”.
ü Recife (PE) está apostando num novo seguimento: o turismo religioso. O roteiro abrange 11 igrejas de Olinda e Jabotão dos Guararapes. No roteiro apresentações de orquestras e corais nos templos religiosos.
ü Festival de Turismo de Gramado (RS) será aberto no dia 19 de novembro, às 20 horas, no Palácio dos Festivais. Dentro da programação do festival terá homenagens, feira e a tradicional Noite de Sergipe.
Passaporte
A fachada imponente não mostra tão bem os detalhes guardados nos eixos laterais da catedral. São ninfas, guardiães, gárgulas e outras divindades, que envolvem a Catedral de Notre-Dame como um dos templos mais comentados e admirados do mundo. Em estilo gótico, suas colunas e vitrais são inspirações para vários artistas, a exemplo do romance “Notre-Dame de Paris”, O Corcunda de Notre-Dame, de Victor Hugo. Outros contos trazem as gárgulas de Notre Dame como guardiãos de toda Paris.
A construção da catedral inicia-se em 1163 refletindo alguns traços da Catedral de Saint Denis, mas nao se sabe ao certo quem colocará a primeira pedra, o bispo Maurice de Sully ou o Papa Alexandre III. Ao longo do processo (a construção, incluindo modificações, durou até sensivelmente meados do século XIV) foram vários os arquitetos que participaram do projeto, esclarecendo este fator as diferenças estilísticas presentes no edifício.
Por sucessivas decadas, a catedral sofreu alterações, inclusive perdendo seus tesouros. Foi na epoca romântica que outros olhares foram lançados à catedral. Em 1991, foi iniciado outro projeto de restauro e manutenção da catedral que, embora previsto para durar dez anos, se prolonga além do prazo.
Fotos: Silvio Oliveira