SE: a barbárie no rádio e nas redes sociais

Quando um Secretário de Estado utiliza o seu perfil nas redes sociais para expor, como um troféu, imagens de cidadãos mortos pela Polícia Militar é um sinal de que, realmente, a barbárie está sendo legitimada, institucionalizada e naturalizada.

Pois foi isso o que aconteceu ontem (18), quando o Secretário de Segurança Pública de Sergipe, Mendonça Prado, veiculou fotos de dois homens, após mortos, suspeitos do assassinato do policial militar Silvio Diógenes.

Observem que eu utilizei a palavra “suspeitos”. Sim, porque até o momento não há confirmação, nem mesmo pela SSP, de que os dois homens mortos ontem foram os responsáveis pela morte do policial. E mais: mesmo que eles tenham sido, um Estado Democrático de Direito não pode se valer da máxima "olho por olho, dente por dente" e nem expor pessoas mortas em praça pública (nem rede social). O que deve valer, quando falamos de vida humanas (sejam de policiais ou de quaisquer outros cidadãos), é o ensinamento de Gandhi: "olho por olho e o mundo acabará cego".

Antes que alguns se apressem em atirar pedras, digo: não se trata aqui de defender impunidade, de defender quem comete crime ou pensar que a vida de um policial vale menos. Vidas humanas não devem ser objeto de comparação e não devem ser escalonadas em graus de importância. Trata-se aqui, isso sim, de defender a dignidade humana, a aplicação correta da lei e de entender que a solução para a violência nunca será mais doses de violência.

Mas essa legitimação da barbárie – refletida na publicação feita pelo Secretário Mendonça Prado – tem ecoado todas as manhãs em Sergipe, especialmente durante os programas de rádio supostamente jornalísticos.

É imperceptível qualquer diferença razoável na cobertura sobre esse caso feita pelos programas das diferentes emissoras. É o famoso mais do mesmo de discursos de ódio e de incitação à violência. Não há nenhuma discussão sobre o caráter estrutural da violência em nossa sociedade. Nenhuma reflexão sobre a relação entre violência e concentração de riqueza. Nenhuma interrogação sobre possíveis relações entre Estado e organizações criminosas. Nenhuma vírgula sobre uma política de segurança pública que promova uma cultura de paz. A saída defendida é sempre a mesma: mais Polícia Militar, mais Guarda Municipal militarizada, mais armas, mais repressão e mais violência em resposta à violência.

Afirmo que esses programas são "supostamente" jornalísticos não à toa. Afinal, o jornalismo (seja em rádio ou qualquer veículo) deve se pautar, segundo os Códigos de Ética dos jornalistas e dos radialistas, pelo respeito aos direitos humanos e pela rejeição a discursos de ódio, intolerância e violência.

Portanto, o que se ouve por essas terras todas as manhãs não tem nada a ver com jornalismo, mas com espetáculo. É uma espécie de vale-tudo, em que o mais importante não é a vida, mas sim quanto se fatura com cada vida. Assim como pensa Mendonça Prado.

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