A polícia sergipana estava em alta com a elucidação, em tempo recorde, do assassinato do deputado estadual Joaldo Barbosa. Inclusive surpreendeu a sociedade sergipana pelos nomes envolvidos no processo. O índice de satisfação com a ação policial aumentou com a prisão de Floro Calheiros, um homem conhecido pela violência. Um milionário que tem poderes em vários segmentos da política regional. Sua prisão ocorreu de forma surpreendente, em uma ação conjunta das polícias Civil e Federal. Floro estava com preventiva decretada, por participação no roubo de urnas eleitorais em Canindé do São Francisco, mas, também, por suspeita de participação na execução do deputado Joaldo Barbosa. A sua permanência em Aracaju movimentou o sistema de segurança e, ao invés de ser colocada em uma penitenciária ou outro local mais seguro, ficou em uma delegacia de ponta de esquina, sob a vigilância de soldados de baixos salários. O local facilitava a sua fuga ou a sua morte. Aconteceu a fuga e a população sentiu que a segurança fora deflorada, principalmente depois da entrevista do fugitivo e do depoimento da delegada responsável por sua segurança, Meire Belfort, à Polícia Federal… Evidente o fato atingiu toda a estrutura policial de Sergipe e vem pondo a nu um amontoado de equívocos, erros e sinais de corrupção que comprometem exatamente a quem é pago para por na cadeia quem faz isso. Na realidade, o que vem acontecendo em Sergipe é apenas a fotografia do que se registra em todo o país, onde milhares de floros atuam nos porões que dão sustentação aos poderes constituídos. Os floros, que ficam milionários do dia para a noite, são bem sustentados, e melhor protegidos, por uma elite que decide os destinos de cada cidadão, que trabalha honestamente para manter a família em níveis suportáveis. E de uma imensa maioria que passa fome e está desempregada. Presidentes, ministros, governadores, deputados, senadores, prefeitos, desembargadores, juizes, promotores, procuradores, empresários, industriais, fazendeiros, todo esse bloco de posição e aparência insuspeita, tem os seus floros para executar os servicinhos que o trabalhador que pretende batalhar o seu salário, não tem coragem de fazer. São os floros que elegem prefeitos importantes, deputados federais, deputados estaduais, governadores. Que indicam secretários, ministros, diretores importantes e têm influência junto a desembargadores, juizes, promotores e empresários, indicando representações classistas e dando o tom da distribuição dos recursos. Um cidadão como Floro Calheiros é muito poderoso para ficar preso em uma delegacia de bairro, numa cidade pequena como Aracaju. Assim como os hildebrandos, no Acre, ou como os “comendadores”, no Mato Grosso. Para não falar no que vem acontecendo no Espírito Santo, que tem um legislativo apodrecido por vários floros que comandam o Estado. Assim como, por trás de um Fernandinho Beira-Mar, existe muito mais gente importante do que se imagina. Os floros são os pilares da burguesia, porque eles fazem o jogo sujo que deixa toda essa gente arrotando grandeza e honestidade. E isso é tão claro, que a prisão de um homem desse abala estruturas pesadas de todos os segmentos importantes dos podres poderes que mantém uma imensa fatia da sociedade submissa às suas ordens e desejos. Existem, também, os “floros” que não têm tanto poder, mas que estão em indústrias, fazendas, empresas, órgãos públicos, na própria Polícia, como é o caso de Michael e Brás, que estão sempre dispostos a atender a qualquer ordem dos seus chefes, que podem estar no legislativo, no executivo, no judiciário ou na iniciativa privada, mas são homens que se arrogam de bem e freqüentam as amplas páginas sociais. São nomes que aparecem no noticiário da imprensa, participam de clubes filantrópicos e não perdem missa. Vão até ao enterro de suas próprias vítimas. É exatamente essa estrutura, também deflorada, que se precisa denunciar, cassar mandatos, demitir dos cargos e prender. É essa gente que deve estar em julgamento, porque são os floros ricos que elegem e os floros pobres que executam e todos têm proteções de personalidades de muito respeito. Há necessidade de se colocar tudo isso a limpo, para que se tenha a mais absoluta certeza de que homens como Floro Calheiros é muito mais importante para o sistema corrupto e corruptor, do que qualquer um cidadão de bem que precisa de trabalho e dignidade. SUDENE O governador João Alves Filho viajou, ontem, a Fortaleza, para participar da assinatura de recriação da Sudene, pelo presidente Lula da Silva. A solenidade aconteceu às 15h45, no Centro Administrativo do Banco do Nordeste. João ia viajar no domingo à tarde, mas um problema no avião da Vasp o fez ir hoje. Retornou de carona no avião do governador da Bahia, Paulo Souto (PFL). MEDIDAS O governador João Alves Filho reúne, hoje, todo o secretariado.Vai analisar a situação complicada em que se encontra o Estado, pela queda do FPE. João vai adotar medidas draconianas nos gastos, para poder pagar o décimo terceiro salário dos servidores públicos: “será uma reunião longa”, disse. MUDANÇA Na mesma reunião, o governador João Alves Filho anunciará pequenas alterações na equipe de auxiliares, inclusive com mudanças de nomes. Segundo João, “não é coisa profunda, mas o suficiente para dar mais agilidade ao Governo, que está emperrado”. João admitiu que “é preciso dar agilidade entre a decisão e a realização”. MISSÃO João Alves Filho está muito envolvido com a missão difícil da Reforma Tributária e luta para ela não ser aprovada em sua forma original. Acha que se não houver mudanças que favoreçam os estados mais pobres, “significa que vamos perder três vezes mais a capacidade de investir”. CONVOCAÇÃO O governador João Alves Filho será convocado para outra missão (não quis revelar) e precisará ficar mais tempo fora do estado. Disse que este ano vai precisar dedicar muito tempo a Brasília: “muito mais do que o normal”. Em razão dessa ausência, é que vai precisar fazer alterações no secretariado, para que não haja problemas de continuidade. NOVOS NOMES O Governo pretende mudar toda a coordenadoria viciada da Secretaria de Segurança, que vem comandando a pasta há vários anos, num rodízio pernicioso. Quatorze delegados serão promovidos para poder chegar à área de comando da Segurança. Esse pessoal, que sempre aparece na organização policial, será esquecido. VOLTA OU NÃO Há expectativa em torno do que vai acontecer, a partir de agora, com a Secretaria de Segurança. O promotor Luiz Mendonça retorna ou não? Há informações que o superintendente da Polícia Federal, Kércio Silva Pinto, que se aposentada dentro de dois meses, teria sido convidado para a Secretaria. NÃO ACEITA Domingo à tarde, consultado por Plenário, o superintendente da Polícia Federal, Kércio Silva Pinto, disse que em nenhum momento foi convidado para ocupar a Segurança. Deixou bem claro que se isso acontecer ele não aceita. Inclusive a sua família é contra. Kércio diz que vai se aposentar, mas jamais para ser secretário. INOCÊNCIO Corre informação de que o deputado federal Inocêncio Oliveira (PFL-PE) teria telefonado para pedir por Floro Calheiros. Não fora atendido. Mas, se isso aconteceu, demonstra que Floro não é um bandido comum, que poderia ficar preso em uma delegacia de esquina. Tem gente muito grossa que ele ajudou a eleger. DÚVIDA Uma coisa ficou sem esclarecimento: quem era o informante da Polícia ao preso Floro Calheiros? Ele sabia de tudo que se tratava na cúpula. E que telefone ele utilizou para conversar com familiares e advogado, inclusive para determinar o assassinato da filha de Luiz Mendonça em caso dele ser morto? FILHA Até a filha da delegada Meire Belfort está sofrendo as conseqüências do problema da fuga de Floro Calheiros da primeira delegacia. Ela tem freqüentado a escola acompanhada de uma segurança. A delegada teme também por seus familiares. AMEAÇA O delegado Sergio Ricardo disse ao promotor Luiz Mendonça que iria dar um tiro no radialista Gilmar Carvalho. Uma fita com gravações que complicam Sérgio será divulgada. Gilmar Carvalho vai ao governador João Alves Filho, hoje ou amanhã, relatar a ameaça e pedir providências. PESQUISA Durante reunião dos secretários municipais, o prefeito Marcelo Déda apresentou uma pesquisa, com ele em primeiro lugar, seguido por Almeida Lima e Gilmar Carvalho. Segundo informação cedida por Gilmar Carvalho, ele é que tem a menor rejeição dos três nomes que aparecem na pesquisa. Como Meire depôs Uma coisa ficou sem resposta, em todo esse depoimento da delegada Meire Mansuet Belfort: por que ela procurou a Polícia Federal para depor e não a Polícia Civil? Domingo, no período da tarde, o superintendente da Polícia Federal, Kércio Silva Pinto, contou toda a história. Disse que almoçou, na quarta-feira, com o pessoal da Polícia Civil no restaurante João do Alho, localizado na avenida Beira Mar. No mesmo dia, por volta das 19h30, os delegados Marcos Passos e Sérgio Ricardo, coordenador das Delegacias da Capital, telefonaram para Kércio, pedindo que ele fosse até o mesmo restaurante, dizendo que a delegada Meire Belfort queria falar com ele. Kércio Silva Pinto atendeu e lá encontrou os dois delegados, acompanhados de Meire Belfort, que manifestou o desejo de prestar depoimento à Polícia Federal, incentivada por Marcos Passos e Sérgio Ricardo. Kércio ponderou que esse era um problema da Polícia Civil, a quem a delegada deveria relatar o que soubesse. Não seria atribuição da Polícia Federal. Pediu, inclusive, que ela conversasse com o seu advogado, Waldemar Calumby, e lhe comunicasse as razões de sua decisão, para que ele analisasse o que seria melhor para a delegada. Na quinta-feira pela manhã, o advogado Waldemar Calumby ligou para Kércio Silva Pinto, comunicando que a delegada Meire Belfor só prestaria depoimento a ele, na Polícia Federal, solicitando que tudo fosse dito no mais absoluto sigilo, porque não queria escândalos. Ninguém deveria estar na sala. Além disso, pediram que Kércio levasse cópia do depoimento ao governador João Alves Filho, o que não foi aceito pelo superintendente, que considerou que essa atribuição seria do secretário interino da Segurança Pública, João Eloy, o que foi aceito e feito. No depoimento a delegada Meire Belfort revelou que o pessoal da Polícia Civil queria atribuir toda culpa da fuga de Floro Calheiros, exclusivamente a ela. A delegada também demonstrou medo de ser morta, depois que havia deposto para o delegado Abelardo Inácio, que está coordenando o processo. Kércio disse que resolveu relatar o fato, da forma como aconteceu, porque havia um trato de sigilo absoluto, “e no dia seguinte deparei-me com vários repórteres em minha porta querendo informações sobre o depoimento”. Acha que alguém tratou de fazer isso: “e não fui eu”. O superintendente da Polícia Federal, Kércio Silva Pinto, concluiu dizendo que não tem a menor intenção de prejudicar o promotor Luiz Mendonça. “Gosto dele e não participo de trama nenhuma para desestabiliza-lo”. Diz apenas que ouviu a delegada por solicitação dela e do seu advogado, mas tudo foi entregue ao secretário João Eloy: “Sei que na entrevista de hoje ele pode até falar alguma coisa contra mim, mas apenas cumpri com o meu dever, sem que tenha nada contra o ex-secretário”, finalizou. Por Diógenes Brayner brayner@infonet.com.br