SEIXAS DÓRIA

Seixas Dória com velhos amigos: José Aparecido de Oliveira, Gerardo Melo Mourão e Celso Furtado.
A NORCON inaugurou um bonito prédio de apartamentos, na avenida Beira Mar, com o nome de Seixas Dória, na série de homenagens a políticos sergipanos que contribuíram com a luta de resistência política, quando o Brasil mergulhou nas brumas do autoritarismo militar. Concorre para o avivamento da história o gesto da NORCON, para que as novas gerações de Aracaju tenham conhecimento da participação de figuras como Arnóbio Patrício de Melo, padre, vereador à Câmara Municipal de Aracaju, Octávio Martins Penalva, médico, deputado à Assembléia Legislativa, Lucilo da Costa Pinto, médico, vereador, dentre outros já homenageados. Seixas Dória tem uma biografia singular na história política de Sergipe.

 

Advogado, formado no início dos anos 1940 em Niterói, militante no foro de Salvador, na Bahia, antes de voltar para casa e ser, logo na chegada, Secretário Geral da Prefeitura Municipal de Aracaju, ao tempo do prefeito Josafá Carlos Borges, no Governo Freitas Brandão. Seixas Dória tinha feito os primeiros estudos em Aracaju e depois foi para a Bahia, estudando no célebre Colégio Antonio Vieira, dos jesuítas, tendo como um dos diretores o padre português Luiz Gonzaga Cabral, o último Provincial da Companhia de Jesus em Lisboa, quando da proclamação da República portuguesa, em 1910.

 

O trabalho na Prefeitura, com a Secretaria Geral empalmando a coordenação administrativa e operacional, deu imagem pública a Seixas Dória, levando-o a ser convidado para participar da organização da União Democrática Nacional – UDN, partido que teve em Sergipe o comando de Leandro Maciel e que contou com nomes como o de Luiz Garcia, Heribaldo Vieira, Niceu Dantas, Jocelino Emílio de Carvalho, Benjamim Alves de Carvalho, Lourival Baptista, Walter Franco, Francisco de Souza Porto, Eraldo Machado de Lemos, Pedro Diniz Gonçalves Filho, Espiridião Noronha, José Dórea de Almeida, padre Edgar Brito, dentre outros que obtiveram mandatos na Câmara Federal e Assembléia estadual Constituinte de 1947, depois Assembléia Legislativa.

 

Seixas Dória, eleito duas vezes, foi o líder da UDN nos dois mandatos, revelando sua oratória, seu preparo intelectual, sua vocação política, sua capacidade de argumentação, como opositor aos Governos de José Rollemberg Leite e de Arnaldo Rollemberg Garcez, ambos eleitos pela coligação do Partido Social Democrático – PSD, e Partido Republicano – PR, liderados no Estado, respectivamente, por Francisco Leite Neto, seu tio Júlio Leite e por Armando Rollemberg, dentre outros quadros que ocuparam cadeiras na Câmara Federal e na Assembléia Legislativa.

 

Os mandatos e a atuação de líder de Seixas Dória permitiram que ele fosse, em 1954, candidato a Deputado Federal, obtendo votação expressiva – 8.625 votos, o 2º mais votado da UDN, superando a Luiz Garcia que obteve 7.033 votos, e perdendo apenas para Walter Franco, que somou 9. 919 votos.

 

De colarinho aberto, gravata solta, Seixas Dória acompanha Leandro Maciel e Jânio Quadros.
Na Câmara Federal Seixas Dória destacou-se como um dos mais respeitados e aplaudidos oradores. Agitou a tribuna da Câmara dos Deputados com discursos nacionalistas, principalmente defendendo as riquezas do País, o petróleo, os minerais estratégicos, e clamando por justiça para o Nordeste, região atingida, ciclicamente, pelas longas estiagens. Já em 1957 subscreve, com dezenas de colegas, o Manifesto da Frente Parlamentar Nacionalista, que atraia quadros da UDN, então apelidados de Bossa Nova. Crítico do Governo Juscelino, Seixas Dória era um dos mais requisitados parlamentares, com destaque na mídia do País.

 

Em 1959, cumprindo o segundo mandato de deputado federal, para o qual foi eleito com 10.633 votos, Seixas Dória entra na articulação da candidatura de Jânio Quadros à presidência da República, tendo como companheiro de chapa o líder sergipano da UDN Leandro Maciel. Confirmada a candidatura de Jânio, em 1960, depois de uma renúncia no ano anterior, com Leandro Maciel substituído por Milton Campos, Seixas Dória permaneceu na frente da campanha, percorrendo o Brasil, acompanhando o candidato nas viagens internacionais, como a visita a Cuba, e influindo no curtíssimo Governo janista. Foi indicação de Seixas Dória, por exemplo, o nome do sergipano Geonísio Carvalho Barroso, para presidir a PETROBRAS.

 

A renúncia de Jânio Quadros, surpreendendo o País, não impediu a candidatura de Seixas Dória a governador do Estado de Sergipe, em 1962. Como a UDN apresentava, alternadamente, apenas os nomes de Luiz Garcia (em 1946 e 1958) e de Leandro Maciel (1950 e 1954), Seixas Dória e outros udenistas – Heribaldo Vieira, Albino Silva da Fonseca, dentre outros – articularam uma chapa alternativa, contando com o apoio declarado do PSD e do PR, e do PTB liderado, em Aracaju, pelo prefeito José Conrado de Araújo. Outro apoio decisivo foi o do empresário e jornalista Orlando Dantas, do Partido Socialista e da Gazeta de Sergipe, aglutinando forças populares, numa das mais ruidosas campanhas eleitorais em Sergipe. Seixas Dória concorreu contra Leandro Maciel e conquistou o mandato com 67.514 votos, contra 58.825 votos do opositor.

 

No Governo Seixas Dória construiu a Cidade dos Funcionários, instalou o Banco do Estado de Sergipe, o DESO, e iniciou arrojado plano de construção de estradas, dando, também, ênfase ao binômio educação e cultura. No entanto, o prestígio do seu nome e a situação do País, então governado pelo presidente João Goulart, exigia do governador presença constante nos eventos nacionais, nas articulações políticas e na defesa das reformas de base, como se viu no comício do dia 13 de março de 1964, na Central do Brasil, no Rio de Janeiro, que acelerou a reação militar ao Governo legítimo do presidente Goulart. Reagindo ao golpe de 31 de março com um Manifesto, Seixas Dória voltou a Aracaju no dia 1º de abril, sendo deposto e preso no Palácio Olímpio Campos, levado para a ilha de Fernando de Noronha, convertida em presídio, ao lado do governador deposto, de Pernambuco, Miguel Arraes.

 

Depois de contar o tempo na masmorra, no livro Eu réu sem crime, um campeão de vendas, Seixas Dória atuou como jornalista, conferencista, durante muitos anos, até ingressar no MDB/PMDB e candidatar-se a deputado federal, em 1982, ficando na suplência, para assumir, por duas vezes, uma de poucos meses, outra mais longa. Na Câmara renovou a mobilização parlamentar em favor das teses nacionalistas, obtendo grande número de assinaturas ao Manifesto. Circulou ao lado de José Sarney, Tancredo Neves, José Aparecido de Oliveira, e outros, na construção da democracia brasileira. Em 1986 foi candidato ao Senado, com o IBOPE registrando seu nome em primeiro lugar nas pesquisas, 10 dias antes das eleições. Apurados os votos, ficou fora do Senado.

 

Intelectual, membro da Academia Sergipana de Letras, presidente da Fundação Oviêdo Teixeira, Seixas Dória envelhece cercado do respeito e da admiração dos sergipanos e dos brasileiros, como demonstra a NORCON ao colocar o nome do político no frontal de um edifício de apartamentos, na capital sergipana. Aos 87 anos, Seixas Dória mostrou toda a sua lucidez e talento de orador, ao agradecer a homenagem recebida, sob o testemunho de uma legião de amigos.

 

 

Permitida a reprodução desde que citada a fonte “Pesquise – Pesquisa de Sergipe / InfoNet”. Contatos, dúvidas ou sugestões de temas: institutotobiasbarreto@infonet.com.br.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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