Sem Mea-culpa.

Não sei se existe o perdão de pecados e erros mediante confissão e arrependimento nas religiões não cristãs.

Na religião Católica, por exemplo, o perdão dos pecados só é concedido por Deus, mas é obtido por intermédio do Sacerdote.

E, para acontecer o Perdão de Deus, há um Sacramento específico, chamado de Reconciliação e Penitência, que no meu tempo de criança chamava-se “Confissão dos Pecados”.

Neste Sacramento, somente o Padre, enquanto ser ungido e ordenado, tem missão de intercessor entre a humanidade e seu Criador, por mister deferido por Jesus Cristo.

Por conta desta missão, inclusive, é comum dizer-se numa premissa a ensejar discordâncias, que fora da Igreja não é possível a salvação.

Premissa que tem suscitado discordâncias múltiplas em excedente convite à dúvida e descrença.

Neste particular e em defesa da Fé, enquanto única sucessora dos Apóstolos, a Igreja vem combatendo muitas heresias, algumas delas sendo repelidas até com violência, a suscitar reações como a vitoriosa Reforma Protestante de Lutero e Calvino, Zwinglio, e agora com tantos outros líderes de facções e seitas, todos tomando para si a missão de livre interpretar o conteúdo Bíblico e Evangélico, muitas vezes relativizando os procedimentos na busca da salvação.

De modo que: Para uns, só a Fé é que salva. Para outros, a salvação só se dá pelas obras. Outros ainda entendem que o perdão de Deus é tão imenso, que ele compreende e perdoa o nosso agir. Sem falar que há ainda aqueles para quem a Salvação se dá com tanto sacrifício e esforço que é sonho inútil a conquistar por próprio empenho, e só acontece exclusivamente por vontade Deus.

A Salvação é, portanto, um grande estuário para onde convergem caudalosas correntes em sinuosas e tormentosas corredeiras.

E neste descambar de ambiciosas escolhas, há espaço até para agnósticos e nihilistas, descrentes de todas as cores e sabores, afinal esta embocadura inevitável e perigosa pode ser tanto dadivosa e misericordiosa, como um simples termo final inexorável de imaginação em suprema incerteza.

Uma dúvida que nos atinge a todos, ou suprema maioria, a despertar questões do tipo: Seria este salto inevitável uma queda maravilhosa como os crentes propagam, descanso  delicioso  de salvação prometida por Cristo e seus Apóstolos?

Atingiríamos com este pulo majestoso a dissolução pacífica e paradisíaca do ser, segundo a qual estaríamos já mergulhados no seio de Deus, obtendo a comunhão de Santos, sendo aí saciados os múltiplos e comuns anseios e dirimidos todos os nossos desagrados?

Ou seria este salto uma múltipla ficção edênica, tão impossível quanto uma quimera, que bem melhor será pensar em um simples esboroar-se no nada, enquanto derrapada vertiginosa, requerendo muita coragem em descrenças múltiplas, por implicar ausência de suportes de esperança, enquanto sonho finito e terminal de toda missão concluída, sem interesses remotos de recompensas?

Eis então um tema que bem situaria posições controversas. Assunto que, recompensas à parte, não pretendo discutir afinal não me anima semear crenças nem suscitar conversões , muito menos discutir sobre o além túmulo, preferindo-o pensar distante, quando chegar.

Pretendo, se isso é possível, discutir as nossas escolhas em muitas faltas cometidas e nunca assumidas enquanto erros, daí o mote inicial: o perdão dos pecados sem “Mea-culpa”. Ou seja; ninguém ousa confessar os próprios erros em escolhas e pregações, sempre prosseguindo no engano e deles se eximindo.

Digo assim porque há uma inculpação geral e irrestrita de responsabilidade com a atual política nacional, todos metendo o cacete na Presidente Dilma Rousseff, como se não devesse respeitar a sua escolha por maioria eleitoral.

E o tema me veio à mente ao ler na revista ISTOÉ, no 2392 de 7/10/2015, uma entrevista notável do Ator e Dramaturgo Juca de Oliveira, expoente maiúsculo da nossa dramaturgia contemporânea.

Falando pouco de teatro, Juca de Oliveira aprecia na revista o atual momento por que vive a nossa pátria, a partir do chamado “Lulo-petismo” insatisfeito em meio a tantos desmandos e escândalos, universalmente execrados.

E pelo descortinar opinativo, tudo é analisado pelo vitorioso ator e dramaturgo como algo que jamais desejáramos, mas aconteceu.

Fora uma risonha comédia, e que se transformou em undécima praga do Egito? , pergunto eu. Fora uma tragédia desferida por um demiurgo terrível, perante quem nunca tivemos o poder de repelir, ou um infortúnio que consentimos, e disso tudo somos um pouco responsáveis?

As perguntas são colocadas porque todos procuramos nos eximir desses erros, querendo afirmar por ominosa inculpação que o “Lulo-petismo” aconteceu por geração própria, e a deslize de tudo que está no noticiário não pode ser atribuído a nenhum dos que hoje muito revoltados se encontram, em tantos comediantes e trágicos, país afora, que agora e não em boa hora, se confessam decepcionados com as ideologias de esquerda e seu viés socialista. Caso de Juca, que só agora aos oitenta anos, começa a pensar assim.

Uma inutilidade que vem tardia, e que dita agora e não em boa hora, chega quando o leite já foi derramado e azedou com tal fedentina, que muito mais que um antídoto para o “Lulo-petismo”, surge quando nos falta um elemento saneador em tanta contaminação nos poderes constituídos da nação.

E foi este pensar de “unanimidade burra” o grande responsável por termos construído um país de um pensamento hemiplégico canhestro de contexto ideológico único.

Somos um país de esquerda. País perdido, ideologicamente falando, com um povo que demoniza o Capital, e que se alinha no panfletário convite à desordem, com o “Fora a Burguesia!”, rotineiramente repetido.

Neste particular, há uma pichação antiga numa residência no alto do Santo Antônio, na Praça Siqueira de Menezes, aqui em Aracaju, que vale à pena reproduzir. Está ali há muitos e muitos anos. “Fora Burguesia Voto 13”.

Se a panfletagem anônima é fruto da radicalidade anárquica, o país envereda igual aos constituir 35 partidos políticos, salvo engano, todos com o viés de esquerda, em promessas paradisíacas remidas pelo Estado.

Vejamos se minha análise é dissociada da realidade.

Comecemos pelo PSDB, do Fernando Henrique, do falecido Covas e tantos outros.

O PSDB nasceu na moderna esquerda, com ares “sorbônicos” e jamais sardônicos. Sua prática inaugural foi tão ideologicamente daltônica e anacrônica, que tentou votar na Constituinte um projeto muito mais estatizante, que o vingado.

Defendeu um país estatizante que só não conseguiu implantar, porque surgiu um “Centrão”, uma espécie de mistura de amplo espectro liberal, incluindo os velhos defensores do patrimonialismo estatal, outra vertente da sempre usurpação dos recursos públicos.

Daí surgiu a “Constituição Cidadã”, geradora de crises sucessivas, como todos os Presidentes têm confirmado, mesmo eleitos em vasta preferencia de dois turnos.

Se a Constituinte nos fora impingida como salvação pátria, de lá para cá o  Partido Liberal mudou de nome para “Democratas”, porque o liberalismo os incomodava sobremodo.

Os liberais renegaram o seu passado como PDS, outro partido “Democrático” também, aquele que sucedeu a ARENA, o suporte hegemônico no Regime Militar.

Quanto ao PMDB, outro partido dito “Democrático”, oriundo do MDB, agremiação que fazia oposição ao “nefasto” Regime Militar, o PMDB inchava à medida que os generais desciam a rampa do poder, qual bolha crescente por coalescência do PDS que minguava em rotineira esperteza.

Ou seja: enquanto o PDS diminuía, o PMDB crescia, virando um partido ônibus, com os mesmos nomes mudando de sigla por mera conveniência de sobrevivência política. Um incomodo para muitos ditos “autênticos”, hoje de baixa validação.

Estatistas radicais ou moderados somavam-se ao PDT de Leonel Brizola, e seu “socialismo moreno”, e o PT dos trabalhadores, com Lula et caterva, aí incluídas algumas pessoas dignas e raras, e uma excedente militância vadia em despreparo e parasitismo, ousando “não ter medo de ser feliz”.

Ah, felicidade! Quantos engodos ditados por suas promessas!

E tome partido. E chegando mais. Porque em saco sem fundo sempre cabe mais um.

Se os Partidos Comunistas mudaram de nome ou se mostram envergonhados, surgiram outros mais radicais como o PSOL, que está morrendo, e o REDE que vem arrastando agora velhos peixes, muitos enrustidos crustáceos e gelatinosos moluscos, prometendo ser grande almofreixe [grande saco de trastes, onde tudo sempre cabe, até roupa fedida e mal lavada], para reunir Horácios, Curiácios e Pancrácios, batráquios de lusco-fusco, e os eternos baiacus; aqueles que sorriem e estuporam quando lhes coçam a pança.

E haja baiacus! Porque o baiacu sempre cai em qualquer rede. Ele nunca muda. Resfolega com a barriga em estupor, igual ao antigo eleitor “Lulo-petista” que agora posa de decepcionado.

É quando eu me volto para Juca de Oliveira, confirmando-se desapontado enquanto socialista. Juca que se confessa um “Ex-Stalinista”, que tinha Stalin como “seu Deus”.

Uma decepção tardia poder-se-á dizer, afinal Juca de Oliveira só deixou de reverenciar Stalin, como “seu Deus” após a queda do Muro de Berlim, quando do ressurgimento das democracias no leste europeu, cerca de vinte cinco anos passados.

Ou seja, de nada adiantaram o suicídio de Maiakovski em 1930, as denúncias dos crimes stalinistas feitas por Nikita Krushchov, isso desde 1956, quase 60 anos atrás, muito menos a própria ereção do Muro de Berlim.

E que mesmo agora como um desapontado observador do Lulo-Petismo não se contempla no erro de suas escolhas.

Um vacilo que enganou a muitos também na divulgação às mancheias, das suas ideias políticas, algumas delas tornadas dogmas, como as que impigem ao regime militar brasileiro uma ditadura a invejar Stalin, Hitler, Pol Pot e Fidel Castro.

Mas, diz agora o Juca de Oliveira em descoberta de oitenta anos bem vividos, já em antevéspera de senectude, como se fora um gracejo de proscênio: “E aí eu descobri o seguinte: se até os 25 anos você não for comunista, você não tem coração, porque você não tem piedade. Se depois dos 25 anos, você continuar comunista , você não tem cérebro”.

E quando isso aconteceu?, pergunta a IstoÉ. “Eu devia ter uns 32 quando aconteceu essa coisa. Acho que o socialismo foi um enorme equivoco”

Pois é, o Lulo-petismo e tudo isso que aí está é fruto de muitos Stalinistas, Trotskistas, Polopistas, Marxistas de botequim em ingênua esperança dos que creem em ouro de tolos

E de outros que não satisfeitos em pose de anarquistas, pegaram armas, matando e assaltando, e que foram devidamente desarmados e rendidos, sempre poupados e mantidos, e jamais eliminados como poderiam sê-los.

Sim, porque os regimes autocráticos sempre podem imitar por exemplar aberração, a contumaz eficiência suasória de Lenin e seus sucessores, que não poupava nem perdoava os de sua divergência, eliminados sob clamor público, convenientemente manipulado, inclusive com própria autoincriminação dos réus com livre aceitação da pena de execução.

Exemplo que não se constatou no regime militar brasileiro, embora as Comissões de Verdade, erigidas Brasil afora hesitem em confirmar toda a veracidade em sua total isenção.

Enquanto isso, na bola da vez está o Lulo-petismo como sina miserável de errar e continuar errando, sem ousar pedir perdão nem bater o próprio peito em Mea-culpa.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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