Sem “sigilo da fonte”, irão todos naufragar?

Dizem que o “sigilo da fonte”, ou algo parecido está na Constituição. E se não é uma cláusula pétrea, deveria ser.

Pelo menos é assim que desejam os jornalistas. Os jornalistas e aqueles bestificados que entendem ser a liberdade sem responsabilidade o verdadeiro fulcro da suprema garantia do homem.

Para estes, o homem deve ser livre como acontece na internet. Pode até jogar o seu excremento, desde que não se possa identificar a procedência fedentina.

Fedentina, de aca malcheirosa, e fescenina, por obscena, suja e devassa.

Sem falar da impudicícia de maltratar o nosso inculto e belo idioma. Ninguém lhe quer bem. Falar com apreço e escrever melhor são atributos principescos: uma “fidarguia”, como dizia um compadre meu. Algo que o mofo deu. Uma cacofonia fora de moda.

Neste contexto, ao amparo da “liberdade de imprensa”, querem errar e nunca receber admoestação, correção ou reprimenda.

Jamais ter a ferina língua “borrachada” por um verniz corretor, pagar pelo erro descoberto e denunciado, sob pena de tolher a liberdade de imprensa?

Liberdade para errar?

Desconstruir via deslize, informar viciosa e corruptamente num desacerto deliberado, tão escondido quão escamoteado, só porque melhor vale a versão que a realidade?

Liberdade para omitir a bisbilhotice da fonte perniciosa?

Ser isso um segredo maior que o do Sacerdote absolvendo pecados, via penitencial no confessionário?

Por acaso o segredo da fonte não é algo muito mais perigoso e deletério do que uma eventual violação presbiteral? 

Há muita coisa errada na Constituição Cidadã. Uma delas, falo agora, é essa tão decantada cláusula de incolumidade nefasta, embora não seja vista bem assim.

Infelizmente, se do Sacerdote sempre é possível fugir do confessionário, discutindo até mesmo o perdão ali concedido, do Jornalista, resta nunca o mea-culpa necessário.

É o que se viu agora com o formidável jornalista Reinaldo Azevedo. O melhor texto na safra atual. Revelou-se frágil, como todos, em sua intimidade.

Possuía uma fonte de quem devia se distanciar, afinal isso poderia, como ocorreu, lhe perturbar a imparcialidade exibida.

É a velha e tola frase da mulher de César.  Ninguém é tão puro quanto parece ou se denuncia.

Por outro lado, quem resiste à intimidade violada, sendo divulgados os comentários que deviam ser só seus, exclusivos?

E aí eu me lembro daquele indivíduo que grampeou o próprio telefone para escutar a intimidade do lar na sua ausência. Ouviu o que não queria, desligou a parafernália de escuta e não acreditou no que grampeou.

Histórias à parte, quem resistirá a tantas quebras de sigilo que a modernidade inserirá para gozo bisbilhotar, por enfermiça ansiedade?

Por acaso em futuro próximo não estarão os pensamentos devassados, numa quebra de intimidade comezinha?

Será isso bom? Será ruim? Uma inevitabilidade no progresso das comunicações? Poderemos estar livres de eventuais apedrejamentos?

Não estava correta a Igreja, dizendo que há pecados por pensamentos, palavras e obras, e a santificação se faz impossível por esforço próprio exclusivo, porque o erro inicia, quando o pensamento se projeta, por inerente imperfeição dos filhos de Eva?

E com tais pensamentos denunciados, ampla e irrestritamente, não estará evidenciada a nossa vã imperfeição? Imperfeição que só Deus apascenta e pacifica?

Acalmia que não está a acontecer na alma nacional. Ouviu-se o que não era para ter acontecido e o mundo está desabando.

E logo agora que segundo propaganda do governo Temer estávamos em festejos de nova era de felicidade geral e terna harmonia entre os poderes da República?

Em tantas escutas divulgadas, vão todos naufragar, inclusive os Jornalistas?

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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