Ser pai não é só gerar o filho, não é só provê-lo para que cresça, não é só garantir as condições elementares para que ele sobreviva.
Ser pai é um compromisso que deverá ser muito bem definido e esclarecido, antes mesmo da decisão de ter um filho.
Ser pai é, antes de tudo, uma missão: a missão de amar, guiar, amparar, tolerar, entender, ensinar. Ensinar? Ensinar como, Se ele não aprendeu? Alguém já ouviu falar numa escola própria para ensinar pais a criar filhos? Ou melhor, existe alguma faculdade que prepare alguém para a missão mais importante que existe: a nobre e divina oportunidade de gerar e gerir a vida de uma pessoa?
São bem conhecidos os cursos para todos os tipos de profissões. Porém, para orientar os jovens casais que se aventuram na sublime missão de constituir família, não existe um. Posso até estar totalmente enganado, mas, sinceramente, não conheço.
Para todas as outras atividades existem cursos preparatórios. Para ser pais, não. Por outro lado, e sem fazer comparação absurda de pessoa com objeto, e somente para exemplificar, asseguro que é fácil perceber o fato de que todas as coisas que adquirimos no comércio vêm sempre acompanhadas de um manual de instrução, onde está detalhadamente explicado como fazer e como não fazer para um adequado uso daquele objeto.
Mas, o filho quando chega não traz um manual de instrução. Os pais, ansiosos, recebem aquele que é, sem dúvida, o seu maior presente e terão que se haver com ele sem, contudo, saber nadica de nada, a não ser o que lhes foi rudimentarmente transmitido pelos seus pais, lido nas revistas da moda, assistido na televisão e, conseqüentemente, nas novelas. E assim criam os seus filhos.
Para criar um filho, a preparação deveria ser muito maior do que para exercer a advocacia, por exemplo. Para ser advogado, tem-se que estudar várias matérias durante cinco anos, colar grau, bacharelar-se e, ainda, submeter-se a um outro exame de ordem para, só então, receber a autorização para exercer o mister.
Constituir família, também deveria exigir um bacharelado e, depois de concluído, fosse feito um rigoroso exame de ordem para prover vidas. Cumpridos esses requisitos, estaria o candidato devidamente autorizado a instituir família, ter filhos.
Ser pai se assemelha à função que exerce o andaime na construção. Por ele sobe tudo de que a construção necessita: o tijolo, a massa, o ferro e a madeira. Sobem também os pedreiros e os serventes, os armadores, o reboco, o acabamento e a tinta. É pelo andaime que a própria construção sobe. Aliás, ele sempre está à frente dela. Quando ela o atinge, ele tem que subir um pouco mais para que ela, por ele, também, aos poucos vá subindo.
E, no final, o prédio pronto, limpo e pintado, o andaime sujo de massa, cimento e tinta, é retirado para que a obra apareça, imponente, bonita, perfeita. Está pronta.
Assim, também, deveria ser o pai: andaime para a construção do seu filho. Pois vai chegar um momento em que ele vai ter que se afastar, às vezes também sujo das massa cimento e tinta da vida, para que, então, o filho, que é a sua maior construção, possa aparecer e brilhar sozinho.
Para o construtor é muito importante que a obra sempre ultrapasse o criador. É pela magnitude da obra que o criador se realiza. De igual forma, é esta a expectativa de todos os pais: que seus filhos sejam sempre os melhores, que saibam mais e que errem menos.
Ser pai é ser equilibrado entre o permitido e o proibido, é ter a consciência da justeza, é ser disciplinado para o engrandecimento, é ser autoridade sem autoritarismo; é ser firme, porém estável; é ser congruente, contudo harmônico; é ser honesto e ético.
Amigos, desculpem as idéias estapafúrdias. Elas foram lançadas para demonstrar o quão delicado é, ou pelo menos deveria ser, esta sagrada missão de trazer, criar, manter, formar e preparar mais uma pessoa para enfrentar, com sucesso, as vicissitudes do mundo.
Na verdade, o texto veio a propósito do dia dos pais que será, mais uma vez, comemorado. Gostaria que todos refletíssemos e respondêssemos, com consciência, usando, se possível, mais a emoção do que a razão: será que vale a pena comemorar este dia? Será que eu, como filho, estou sendo justo com o meu pai? Será que não estou subestimando o quanto ele fez por mim? Será que não estou sendo duro com ele? Afinal o que ele me repassou foi o que aprendeu e será que no tempo e lugar onde ele viveu poderia ter aprendido mais e melhor?
Amanhã é dia dos pais. Aproveite para visitá-lo, quer ele more longe, ou sob o mesmo teto. Vá visitá-lo, você tem estado tão ausente, não é mesmo? Você não percebe, mas ele sim.
Ele está sentindo a sua falta, ele está se sentindo rejeitado. Por várias razões, que tão bem conhecemos, ele não manifesta esta “fraqueza”, mas nós sabemos o que ele está sentindo.
Não se aborreça, pois é assim mesmo. O “velho” sempre se sente só. Solidão, apesar dos familiares: filhos, noras e netos; mas ele sempre se sente só e desprezado. Sente-se desprezado e culpado. Culpado por ter cometido a “indelicadeza” de estar velho, ostentar cabelos brancos, face enrugada e idéias ultrapassadas.
Aquele é seu pai, que já foi jovem, assim como você é hoje, e ele recorda, com uma ponta de alegria, quando ainda ardia na alma a febre da mocidade. Quantos sonhos acalantados, quantas lutas travadas… Foram dias bons e outros nem tanto, mas, naqueles tempos, podia lutar. Agora não mais: está fraco e, contrito, apenas assiste ao fenecer da esperança ilusória do ontem. Com o corpo cheio de dores e a alma cheia de enganos, caminha, quase sempre, só.
Esse é o pai que está esperando seu abraço no dia que lhe é dedicado. Vá lá dê-lhe um gostoso abraço. Atreva-se, quebre esta barreira, beije-o e diga que o ama. Isso não vai lhe custar nada. Mas, para ele, seguramente, vai ser o maior presente que você poderá oferecer. EXPERIMENTE.
FELIZ DIAS DOS PAIS!