Sergipe, cantigas do seu povo

A Secretaria de Estado da Cultura realizou, com pleno êxito, o XXXII Encontro Cultural de Laranjeiras. O evento, pela sua importância para a cultura popular brasileira, representou um desafio para o novo Secretário, professor Luiz Alberto dos Santos, um batismo de fogo para a administração que começa um ciclo político e de Poder no Estado de Sergipe. Evocando a própria trajetória dos Encontros Culturais, a Secretaria teve tempo de preparar e editar um CD antológico, com diversos grupos folclóricos de Laranjeiras, Lagarto, Pirambu, São Cristóvão, Itaporanga e Aracaju, graças a colaboração de Irineu Fontes. O CD conta, ainda, com uma declamação de João Silva Franco, o poeta sapateiro, de Laranjeiras, e com glosas dos poetas e violeiros Vem Vem do Nordeste e João Bezerra.


“SERGIPE, cantigas do seu povo” é o título do CD que reúne 25 expressões da cultura popular sergipana, expondo uma diversidade cultural que remete aos primeiros anos dos Encontros de Laranjeiras, quando havia pesquisa e com ela a constatação de que Sergipe era o Estado com maior número de grupos – 220 -, o que faria com que fosse considerado a maior reserva folclórica do Brasil. O Atlas Folclórico, elaborado com os dados da pesquisa, nunca foi editado. Evidentemente que o número de grupos foi drasticamente reduzido, tanto pelos fatores comuns em tal tipo de organização social, como pela falta de apoio, e, ainda, pela concorrência desleal de grupos de imitação, conhecidos como grupos de projeção ou para folclóricos.


CD traz 24 cantigas 
Nada pior, atualmente, para o folclore autêntico, tradicional, do que a política que estimula a formação e a manutenção de grupos de imitação. Tudo o que sobra nestes, tem faltado, continuamente, aos grupos que desde os primeiros tempos da colonização estão presentes, com seus cantos, danças, coreografias, músicas, expressões e ritmos. Nem a Comissão Nacional de Folclore escapou do envolvimento pelos “donos” dos grupos de projeção, capitulando diante da força movida pelo turismo e, em certa medida, pela mídia. Essa questão, que aflorou em Natal, no Rio Grande do Norte, durante o Congresso Brasileiro de Folclore, promete esquentar nos próximos meses, nos eventos regionais.


A edição do CD com as cantigas do povo sergipano é um antídoto para proteger o povo das falsificações, e ao mesmo colocar em uso uma criação artística selada pela tradição, pelos vínculos religiosos do devocionário popular, pelas ligações com a vida social. Desde Silvio Romero, nos anos de 1870, que Sergipe tem mostrado ao País sua variada cultura popular, não apenas de grupos, mas de poetas, cantadores de viola, emboladores de pandeiro e ganzá, vaqueiros e aboiadores, da lúdica infantil com quadras, parlendas, adivinhas, jogos e brincadeiras, enfim com todos os que têm mantido vivo o repertório cultural do povo. João Ribeiro, Clodomir Silva, Prado Sampaio, Felte Bezerra, Paulo de Carvalho-Neto, José Calasans, Jackson da Silva Lima, Beatriz Góis Dantas, Núbia Marques, Aglaé Fontes, e outros, repetiram com suas pesquisas e estudos, o itinerário iniciado por Silvio Romero.


O CD da Secretaria da Cultura é um remédio eficaz, destinado a repelir os ataques contra a cultura autêntica do povo. E, ao mesmo tempo, é um exercício pleno de sergipanidade, com seus sons plurais, como plurais são as manifestações populares. A edição do disco anima como um sinal a ser compreendido como uma demonstração explícita, por parte do professor Luiz Alberto e da sua equipe, de que o folclore volta à cena, para ser consumido ao lado das demais formas artísticas e culturais de Sergipe.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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