Sergipe e o Conselheiro (II)

Foi Silvio Romero quem recolheu da oralidade sergipana duas quadras sobre a presença de Antonio Conselheiro no Estado de Sergipe, levando-as para os seus primeiros e pioneiros trabalhos sobre o folclore brasileiro. Ao registro no livro ESTUDOS SOBRE A POESIA POPULAR NO BRASIL, do autor da História da Literatura Brasileira, seguiram-se outras divulgações, como a do jornal A NOTÍCIA, editado em Aracaju, como órgão da propaganda republicana, que na sua edição do dia 19 de maio de 1897, estampa os versos:

“ Do céu veio uma luz

Que Jesus Cristo mandou

Santo Antonio Aparecido

Dos castigos nos livrou.

 

Quem ouvir e não aprender

Quem souber e não ensinar

No dia do juízo

A sua alma penará.”

Em outras oportunidades Silvio Romero tratou da presença de Antonio Conselheiro na zona sul de Sergipe, embora tenha deixado escapar um juízo negativo, preconceituoso, como a demonstrar uma rejeição aqueles fatos sociais ocorridos no Brasil e em Sergipe. No curso de sua vasta obra o escritor sergipano não volta ao tema do Conselheiro. No final do século XIX a obra romeriana ganha uma diversidade e assim segue até seus últimos livros, como O REMÉDIO BRASILEIRO, publicado no ano de sua morte (1914) e que, na verdade, era a edição do seu Discurso como paraninfo da Faculdade Livre de Direito, do Rio de Janeiro, turma de 1913.

Não há como desvincular Sergipe do movimento messiânico do Conselheiro. Em Canudos, mesmo que Antonio Conselheiro nada soubesse do mito da Cocanha, não conhecesse os traços do Sebastianismo e não conhecesse as velhas Santidades, que foram ferrozmente combatidas pela Inquisição, na Visitação da Bahia, que incluía Sergipe, nos anos de 1592-1593, ele sintetizou as características principais de cada uma dessas erupções sociais. Há muito quem ateste, com registros que a imprensa e os livros garantiram à posteridade.

É possível que os republicanos tenham preferido, como está no amplo noticiário dos jornais da Bahia, de Sergipe e de outros Estados do Brasil, enfrentar Canudos como um sítio monárquico, cheio de rebeldes ameaçadores. Canudos encobre, por exemplo, a carnificina promovida pelas tropas chefiadas pelo Moreira César, quando nomeado Governador Militar de Santa Catarina. Dos 185 mortos um era magistrado importante, nascido em Sergipe, o desembargador Francisco ANTONIO VIEIRA CALDAS, pai do poeta e jornalista Caldas Júnior, nascido na antiga Vila Nova, atual Neópolis,  fundador do CORREIO DO POVO, em Porto Alegre (RS). Foram assassinados, dentre muitos outros, o marechal Manoel de Almeida Gama Lobo d’Éça, Barão do Batovi, e o almirante Frederico Guilherme de Lorena, tidos como revolucionários federalistas, contrários a Floriano Peixoto, fugidos de Desterro para o Rio Grande do Sul. A cidade e capital mudou de nome, passando a ser Florianópolis, e Moreira César passou a ser herói, recebendo a missão de derrotar Conselheiro em Canudos.

O ferroz militar, segundo noticiário da imprensa (Jornal do Brasil, edição de 27 de março de 1897), deu ao cavalo que o conduziu pelo sertão baiano, o nome de CONSELHEIRO, deixando o animal, com sua morte, para o general Dionísio de Cerqueira. Por ironia, Moreira César morreu nos domínios de Antonio Conselheiro, em 4 de março de 1897, deixando ao povo, de algum modo vingado, a chacota:

                   “Moreira César

                   Quem foi que te matou ?

                   Foi uma bala de Canudos,

                   Que o Conselheiro mandou.”

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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