A historiografia sergipana dos primeiros séculos tem como base as notícias, relatos, informações de viajantes, cronistas, padres, destacando-se dois documentos: a Carta do Provincial da Companhia de Jesus, Inácio de Tolosa, de 1575, e o Tratado descritivo do Brasil em 1587, de autoria de Gabriel Soares de Souza. O século XVII tem, também, duas fontes importantes: O Livro da razão do Estado do Brasil, de 1611, de autoria de Diogo de Campos Moreno, e o livro de Gaspar Barléus, sobre o Brasil holandês, de 1645. Nos setecentos a melhor informação sobre Sergipe está nas Notícias e Relatos sobre as Freguesias espalhadas no território sergipano, de responsabilidade dos respectivos vigários. Trata-se de uma visão objetiva dos lugares, atividades, presença religiosa, singularidades de cada uma das Freguesias, em 1757. Com a Emancipação política de 1820, acelerando seu crescimento e ganhando visibilidade perante o País, Sergipe passa a contar com textos mais amplos, como a Memória sobre a Capitania de Serzipe, de Dom Marcos Antonio de Souza, escrita em 1808, publicada em 1877, e os verbetes do Dicionário de Saint Adolphe, que foi editado na França, em 1845 e logo reproduzido nas páginas do Correio Sergipense, já com correções e atualizações. O século XIX é encerrado com a publicação da monumental História de Sergipe (Rio de Janeiro:Editora Perseverança, 1891) de Felisbelo Freire. Por longo período, desde a edição do livro de Felisbelo Freire e até os anos de 1930, o assunto dominante na historiografia sergipana foi o dos limites com a Bahia, tanto ao sul, quanto ao oeste, estimulando o surgimento de muitos textos, de vários autores, destacando-se o clássico de Ivo do Prado A Capitania de Sergipe e suas Ouvidorias, memória de defesa do território sergipano, em sua integralidade, apresentada no Congresso de Geografia, em Belo Horizonte (MG) em 1919, data também da publicação da obra. Para celebrar o primeiro Centenário da Emancipação Política, Clodomir Silva elabora o Álbum de Sergipe (Rio de Janeiro: Pongetti, 1920), um dos mais completos trabalhos sergipanos. Durante a primeira metade do século XX o tema recorrente dos historiadores foi Aracaju, que desde 1855 é capital de Sergipe.
São escassos os estudos sobre a influência espanhola na formação de Sergipe e dos sergipanos. Os 60 anos de dominação da Espanha sobre Portugal, de 1580 a 1640, passaram, praticamente, sem maiores referências, mesmo que a conquista empreendida por Cristóvão de Barros tenha ocorrido sob o domínio espanhol e a cidade fundada como afirmação do seu poder bélico (daí a invocação de Nossa Senhora da Vitória, não a santa espanhola, martirizada aos 16 anos, em Córdova, no ano 138, mas Nossa Senhora da Vitória cultuada após o sucesso de Dom João de Áustria, irmão de Felipe de Espanha, na guerra contra os turcos, em Lepanto, em 1571) na guerra contra os indígenas tenha recebido o nome de São Cristóvão, em homenagem a Dom Cristóvão de Moura, preposto de Felipe II em terras portuguesas. O domínio espanhol foi um duro golpe para Portugal, que perdeu o controle de colônias importantes, e viu crescer as divergências espanholas, principalmente com a Holanda e com a Inglaterra, com repercussões desagradáveis, que se arrastaram por um período largo da história portuguesa. As divergências entre Portugal e Castela eram antigas e tenderam a crescer com as viagens e descobertas marítimas. Portugal, que desde 1579 assinara o Tratado de Alcaçovas com Castela, garantindo que o senhorio da Guiné, com todos os seus mares, ilhas e costas já descobertas e por descobrir até as Índias lhes pertenciam, teve que firmar outro Tratado, o de Tordesilhas, em 1494, revisando o anterior e fixando uma linha imaginária, desde Cabo Verde, para dar a parte ocidental a Castela e a Oriental a Portugal, evitando-se maiores conflitos. De 1580 a 1640 a história de Portugal e de Espanha, dentro e fora dos palácios, na Europa, na América, na África e noutros pontos do mundo, está marcada por guerras, conspirações, traições e gestos heróicos, não raro exigindo a mediação dos Papas. As ordens religiosas, embarcadas nas caravelas para o serviço moral, a predicação, a transmissão cultural, não distinguia espanhóis e portugueses no esforço catequético.
São poucas as anotações sobre a ação de padres espanhóis nas diversas ordens religiosas, a começar pelos jesuítas, e na difusão da língua e da cultura castelhana no Brasil. As sobrevivências, que não são poucas, podem ser encontradas no amplo repertório da cultura popular, nos romances, contos, ditos sentenciais, práticas e devoções, folguedos e autos populares, tradições que estão incorporadas pelos brasileiros, e que remanescem como vestígios marcantes de uma contribuição encoberta por problemas políticos europeus. A Chegança, que confronta cristãos e mouros, é uma das mais representativas criações das lutas da Reconquista espanhola, e sobrevive, ainda hoje, em alguns lugares da Espanha, repetindo a sorte do navio da cristandade e do quartel da mourama, cada um com sua fé. O culto a São Jorge, nascido da audácia de um cavalheiro que retirou das mãos de um tirano infiel, representado por um dragão, uma bela donzela, continua reunindo multidões, tanto no Brasil, quanto na Espanha. Desde Silvio Romero, e até Jackson da Silva Lima, a recolha de romances mouriscos, fronteiriços, de tradição ibérica, cantados em Sergipe, pode ser cotejada com as coleções publicadas na Espanha, reunidas por Agustín Duran e estudadas por Menendez Pidal. No cancioneiro em geral também são muitas as aproximações culturais entre o Brasil e a Espanha.
Há, portanto, muito a ser pesquisado e interpretado sobre a cultura espanhola em Sergipe. A publicação de Os Espanhóis em Sergipe Del Rey, de Robervan Barbosa de Santana é uma rica e esclarecedora contribuição, destinada a servir de fonte a outros estudos, que possam passar a limpo esse capítulo da história do velho e do novo mundo, tendo Portugal e Espanha no centro das descobertas e da colonização das terras além das Colunas de Hércules. Robervan Barbosa de Santana percorre, cuidadosamente, o itinerário da história dos primeiros séculos do Brasil (e de Sergipe), cotejando os fatos e repertórios com as fontes arquetípicas, notadamente as fontes espanholas, cujas marcas de sobrevivência no Brasil foram, de certo modo, apagadas.
A bibliografia sergipana ganha um aporte de conhecimento novo, original, que passará, sem dúvida, a servir de referência para pesquisadores e interessados, como deverá servir de ponto de partida para outras interpretações. Há muito ainda a ser feito em favor do conhecimento da história e da formação da cultura brasileira. Portugueses precisam ser melhor estudados e na esteira deles os africanos, holandeses, espanhóis, fixando a contribuição de cada um, como o faz Robervan Barbosa de Santana com seu livro (Aracaju: Info Gráfica, 2008), um repositório sincero de dados que apontam para uma larga influência, que interessa a Sergipe conhecer e preservar.