Nada mais difícil do que lidar com pessoas de egos inflados; às vezes nem os cabelos brancos os separam dos procedimentos adolescentes dos radiosos anos de suas vidas, quando ainda eram meninos. Na verdade, ao que parecem, essas pessoas, mesmo quando já sessentões, comportam-se como crianças querendo um pirulito de ki-suco. Ainda não ultrapassaram a fase contestatória e irracional do tudo meu! Tudo meu! Procedem e agem com as mesmas, inexplicáveis e insustentáveis opiniões adolescentes, confundem: desejo com direito, querer com puder e obrigação com liberdade.
São criaturas afetadas, que se “emburram” com facilidade, que relativizam tudo, que só vêem o que lhes convém, que não toleram derrotas, que não sabem perdoar, que não aceitam a máxima “de que o seu direito acaba quando o do outro começa” e que o mundo é a casa de todos e que todos respiram o mesmo ar e dividem os mesmos espaços e têm as mesmas necessidades.
Deliberadamente, essas pessoas não entendem que nem sempre se é vitorioso em tudo, no nosso claudicante caminhar dos dias, às vezes ganhamos, outros perdemos; vitórias e derrotas fazem parte do jogo da existência e é exatamente quando perdemos que mais aprendemos.
São xenófobos, ciumentos, rudes e, sobretudo, do contra: “é fulano que faz? Não quero, é ruim, é mal feito”. São pessoas que “escurecem luz de refletor de estádio”; que conseguem, como diz o Prof. Marins, “azedar balde de sal de frutas”.
Conheço muito bem os cidadãos que assim procedem, eu mesmo fui, por muito tempo, um deles. Como fiz sofrer quem não merecia! Como sofri também, pois ninguém consegue amar um rabugento assim. As pessoas toleram. Amar é um pouquinho mais difícil. Peço sempre perdão até hoje por isso. Sinceramente, quando me lembro de como eu era, sinto-me ridículo. Obrigo-me a tudo fazer para me distanciar deste padrão. Felizmente acordei da letargia. Hoje, ajo e penso totalmente diferente. Procuro entender as coisas do ponto de vista dos outros também, afinal eles, “os outros”, têm também os seus direitos, seus questionamentos e suas necessidades. Esforço-me para ver as coisas como realmente são, não apenas como quero que elas sejam, ou como me disseram que elas são.
É bom ser bom, já escrevi sobre isso, e acrescento é bom compreender que as nossas aspirações nem sempre serão alcançadas. Para chegarmos onde queremos, haverá sempre algumas barreiras e, se quisermos chegar, teremos de ultrapassá-las. Não basta querer, temos de fazer e, sobretudo, temos de tolerar. A tolerância é, sem dúvida, – ou deveria ser – a nossa companheira nessa trajetória. Viver é ultrapassar obstáculos e vencer concorrência e adversários, é vencer opiniões e embates, é seguir sempre em frente. Porém, quando as vitórias não acontecerem devemos seguir com as derrotas e aprender com elas. Enfim: ganhar ou perder faz parte do jogo.