Seu “cancelamento” não vale de nada. ACEITE!

A coisa funciona assim:

– Fala do artista/personalidade: discurso de ódio, asneiras, indução e preconceito contra gay, preto, trans e obesos.

– Fala da Internet: vamos cancelar…!

– Fala do artista: “Passei o dia todo refletindo. E depois de refletir tanto, refaço o meu pedido de desculpas. Aproveitei pra aprender mais sobre o assunto. Sobre como ajudar” (discurso de Marília Mendonça, recentemente).

Fim da história. Nada mudou!

O que me faz pensar que o tal cancelamento, febre da juventude, não passa de uma maneira de chamar atenção, seja de outros internautas ou até mesmo de quem falou merda, apenas. Porque lá no fundo, bem no fundo do problema, talvez, quem cancela não quer nem mesmo se ater do problema em si, mas causar um pouco. Claro que algumas pessoas levam o “cancelamento” ao pé da letra, mas se a gente for analisar o número de seguidores desses artistas preconceituoso, em nada se alterou, muito pelo contrário eles ganham até mais seguidores, o que é um absurdo, mas que condiz com a atual cena brasileira: somos preconceituosos sim. E no caso dos famosos, estes só pedem desculpa porque a merda se espalha, e eles precisam se “redimir” através dos 280 caracteres do Twitter.

O que estamos presenciando, principalmente, após as várias lives, é uma grotesca cena preconceituosa, onde estes e tantos outros artistas, que já pagaram de “Moderninhos”, não conseguem disfarçar ou esconder o que são: preconceituosos, genuínos. Só que no contexto das falas, dos discursos de ódio, uma coisa que precisa ficar clara é a rapidez com que as desculpas são publicadas, onde falas prontas de assessores já estão sendo postadas assim que as merdas são faladas ou sutilmente sugeridas. O lance aqui não é nem o discurso de ódio em si, que por si só é desnecessário e incapaz de construir laços, mas a rapidez com que as desculpas chegam, e quase sempre são enlatadas.

Cabe ao agredido aceitar ou não tal pedido de desculpas. Você faz parte de qual lado?
Vamos lá…

Num Brasil, que é o país que mais mata transexuais no mundo, sendo que por aqui, a cada hora um gay/lésbica é agredido/a por sua orientação sexual, onde também vemos a cada minuto um preto sendo perseguido dentro do supermercado, e apontado como ladrão, nesta terra linda onde uma pessoa obesa precisa adoecer para se adequar ao olhar alheio, não cabe mais para os atingidos serem apenas o alvo e pronto. É preciso um levante de quem sofre qualquer tipo de agressão em não perdoar um “famoso” ou anônimo, só porque esse ainda não teve tempo de se desconstruir! Não existe isso de tempo para se desconstruir num Brasil que elegeu um presidente preconceituoso, por exemplo.

O tempo não corre pra trás, e se hoje, em pleno 2020 uma pessoa (pública ou não) sugere com risinhos que alguém é menor por simplesmente existir é preciso que se veja sim essa maldade. É necessário que a desconstrução aconteça, sempre e constantemente, eu sei. Mas isso não valida passar a mão na cabeça de quem quer que seja porque essa pessoa (preconceituosa) nunca parou pra pensar que suas falas e atos machucam e endossam a violência. Se for sempre assim, jamais acabaremos com o preconceito visto que o tempo necessário para “ressignificar”, “reaprender”, “requalificar” nunca será finalizado, e será uma constante… se o preconceito é constante o ressignificar precisa ser agora, para assim se criar um escudo.

O mal sorrir de maquiagem numa live sem sentindo. Todos riem. Muitos morrem.

A partir do momento em que passamos a mão na cabeça de um agressor porque ele merece uma segunda, terceira, quarta chance estamos dando a outra face para mais um tapa. Se no mundo atual, com acesso à informação e às falas dos oprimidos, ainda temos pessoas jovens reproduzindo falas de preconceito, não é porque essa pessoa não teve tempo de ressignificar seu olhar, apurar sua fala para não ser preconceituoso, mas sim, porque tais temas nunca foram importantes para serem tratados com respeito.

O pedido de desculpa, não anula o desinteresse em saber que tanta gente vem morrendo diariamente porque estamos acostumados a justificar nossos erros só porque “ainda” não temos educação. Quem não sabe tratar o outro com respeito, quem ri de cantinho de boca ao falar que uma mulher trans é menos mulher porque biologicamente não nasceu com uma vagina, e que por isso não merece ser tratada decentemente, como qualquer outra pessoa… quem comete algo assim precisa sim não ser cancelado, mas anulado socialmente. Não existe nada mais engraçado que um preconceituoso tentando provar que está se desconstruindo. Nada mais engraçado e perigoso!

Está mais do que na hora de se combater discurso de ódio com a mais pura verdade dos fatos: é ódio sim, e não menos porque se pediu desculpas prontas ou se prometeu analisar o que se falou. Enquanto houver mão para acalentar um preconceituoso que diz publicamente que vai mudar não estaremos melhorando ninguém enquanto ser humano, porque passar mão em cabeça de quem fala merda não vai cicatrizar a flecha que atinge o outro só porque o outro se é quem se é!

Sonho com o dia onde um discurso de ódio será combatido juridicamente, acarretando prejuízo financeiro. Acredito na dor que a falta do dinheiro vai causar, mas não acredito que depois de tantos anos, acesso à informação, essa pessoa mude. Se você ainda crer em contos de fadas, boa sorte caro/a leitor/a!

Para conversamos mais sobre esse e outros temas vai lá no meu Instagram: @jaimenetoo. Estou sempre por lá!

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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