Silêncio, por favor!

De acordo com os dicionários de língua portuguesa, a palavra silêncio, substantivo masculino, é um “estado de quem se cala ou se abstém de falar, uma privação, voluntária ou não, de falar, de publicar, de escrever, de pronunciar qualquer palavra ou som, de manifestar os próprios pensamentos etc”. É muito importante analisar a importância do uso da conjunção alternativa ‘ou’ para caracterizar o silêncio utilizado de maneira voluntária ou não. Mas, isso aqui não é uma aula de gramática.

Por muitas vezes eu ignorei o silêncio, não cabia ‘ou’ em meus atos e pensamentos, e o silêncio sempre me remeteu à passividade, omissão, medo, pois esses eram os exemplos mais próximos que eu via como ele atuava. Silenciar para não causar discórdia, silenciar para não opinar e magoar alguém, silenciar por medo de estar desrespeitando alguém. Eu, que por vezes fui tão verborrágica, faladeira, compreendia o silêncio como antagonista da liberdade de expressão.

Imatura, não percebi que o silêncio também fala, às vezes grita, como já escrevi em outro espaço. O silêncio também escancara, por muitas vezes, o que a palavra falada às vezes não consegue comunicar de maneira explicativa. O limiar da forma como usamos o silêncio é delicado, há uma linha tênue entre o uso do silêncio de maneira estratégica e o uso dele de maneira amedrontada ou egoísta. Mas, essa interpretação de formas de uso não cabe somente a mim, mas a qualquer um que faça uso dele e o interprete como queira.

É muito difícil viver sem pensar em julgar, de alguma forma, seus próprios atos ou os atos alheios, sobretudo em relação ao silêncio e ao que ele representa em momentos cruciais das relações humanas. Exemplos como o silêncio como resposta a uma situação de opressão, assédio, violência, em que as interpretações divergem e os conflitos e porquês surgem para a compreensão do que não foi dito a partir da representação de cada uma das partes e como elas atuam diretamente na vida das pessoas envolvidas.

O mundo não é justo para todo mundo, caras e caros, e é por isso, que a justiça é relativa, consequentemente a verdade também. Pela minha formação em áreas das Ciências Humanas, a verdade não passa de uma categoria relativa, portanto, dizer que acredita na verdade de alguém ou bater no peito com orgulho de sua verdade nada mais é do que a sua interpretação e afinidade com opiniões e interpretações que você tem sobre a vida, mas a verdade, não existe.

O que existem são diversas opiniões e interpretações sobre fatos, sentimentos, pessoas, lugares, o que não quer dizer que o céu não é azul e o sangue não é vermelho. Escrevo aqui sobre uma questão subjetiva que sempre foi muito difícil para uma pessoa que tem apreço pela amplitude da voz e da justiça e sempre ignorou o silêncio. Neste mês de agosto, mês de Omolu ou Obaluayé, divindade africana, orixá da doença e cura, do silêncio, a reflexão sobre o silenciar, para mim, se faz mais do que necessária, afinal, para o Tsunami acontecer, o mar precisa recuar. E o silêncio, que fere e cura, abre as portas do seu íntimo para que você se depare consigo e compreenda que o tempo, senhor de tudo, atua calado.

Atotô!

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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