O último resultado do ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio levou alguns colégios de nossa cidade a brigar pela imprensa com cartazes e propagandas caríssimas. Os jornais, os rádios e as TVs divulgaram a exaustão quem é o maioral na educação. E as tais propagandas incomodaram a muitos, iguais a mim, pela maneira como aviltavam a matemática, uma matéria tão pura e sem ódios, suscitando enfado por desprezível, tudo o que não se pode falar de uma ciência muito bela e sem donatários. E eu ficara admirado com uma propaganda tão incomodativa, que não combinava com a educação, muito menos quando esta mesma educação se restringe a um mero hábito de bem proceder, ou de não maltratar. E eu como um maltratado ex-professor de matemática, fiquei incomodado com um comercial tão indelicado e despropositado, logo com a álgebra, tão distante e verdadeira, ali desarrimada e sem defensores. De modo que, em defesa dos seus teoremas, estas verdades incontestáveis e permanentes para sempre, resolvi analisar o resultado do ENEM, para tentar inserir alguma luz naquele debate que se revelou mais que sombrio. Ouso agora, em adição a um artigo anterior, apresentar sombriamente talvez, algumas considerações cruéis, mas verdadeiras, pedindo vênia aos que se perderão no tédio dos meus raciocínios, e requerendo mil perdões a muitos amigos que irei, sem o querer, desagradar. Mas, vamos ao tema! O resultado do ENEM para as escolas de Aracaju pode ser lido no site http://mediasenem.inep.gov.br/resultado.php que contém todos os dados das escolas do Brasil. No caso particular de Aracaju, o resultado é o que se encontra na tabela abaixo: Nesta tabela, observa-se que muitos dos colégios apresentaram um número tão diminuto de participantes (menor que 10) que o ENEM atribuiu a notação SC, que quer dizer sem comentário. Duas aferições diferentes, eis a discórdia! Por outro lado as médias no exame foram aferidas de duas maneiras diferentes, e foi aí que ensejou insatisfações inúteis e equivocadas, afinal uma regra previamente definida de um exame, não deveria sofrer, jamais, restrições extemporâneas, a não ser de nulidade, com farta comprovação. Segundo tal regra, dois tipos de média foram explicitados, conforme se verifica na tabela acima: Uma média aritmética pura e simples da Prova Objetiva e da Redação, e uma média final e definitiva, incluindo aí uma correção de participação ditada por um fator coerente com o pensamento de aferição do ENEM e do Ministério de Educação. Um fator, inclusive, que se explica e se justifica, mas que não satisfaz totalmente, porque complicado, conforme exibirei mais adiante. Excluindo os sem classificação. Por ora, refaço a tabela anterior, retirando os colégios com conceitos SC, e classifico os demais segundo ordem decrescente de pontos no resultado final e definitivo do ENEM. Da tabela acima, observa-se logo que das 65 escolas que participaram do exame sobraram 38. Um fator de correção complicado. Conforme dito anteriormente, as médias com correção de participação foram realizadas mediante um fator previamente estabelecido. Tal fator é de explicação bastante complicada, conforme se vê abaixo, evidenciando que na sua concepção não se encontra uma motivação maquiavélica de modo a estabelecer injustiças. Trata-se de um fator ultra complicado, e o transcrevo para os leitores que o desejarem desvendar. Por este fator, assume-se que o desempenho médio dos estudantes da escola i no tempo t pode ser representado pela equação complicada abaixo: nit = gi + at + f(Pit) + uit onde: nit= logaritmo das notas médias dos estudantes da escola i no tempo t gi = fator fixo referente à escola i at = fator tempo que pode ser pensado como representando a dificuldade específica do exame no ano t Pit = proporção de alunos concluintes da escola i que participaram do Enem no período t. Uit = termo aleatório Trata-se, repito mais uma vez, de uma equação cuja justificativa não me interessa, embora admita que a mesma se valide diante das motivações e interesses da avaliação do Ministério da Educação, considerando inclusive resultados anteriores, respectivamente dos anos de 2004 até 2006. Colocado assim, o resultado final é uma simulação matemática complicada, mas, jamais pode ser menosprezado, como o faz a propaganda da TV e dos jornais. A média aritmética também não representa a verdade. Para um professor, igual a mim, que não concebeu o tal fator de correção, o resultado desta normatização não reflete a realidade. Idêntico conceito é extensivo às médias aritméticas de participação. Estas médias pecam por absoluto erro. Tomá-las como único valor verdadeiro é uma grosseira fraude, uma deslavada desonestidade, com quem fez e com quem deixou de fazer o exame. Para mim e para muitos outros professores, a maioria com certeza, e a unanimidade talvez, a nota de quem faltou o exame e não realizou a prova teria que ser ZERO, coisa que não fez o ENEM. O faltoso deveria receber este ZERO bem redondo, até para bem consignar o verdadeiro valor da democracia. Ninguém é obrigado a fazer uma prova ou um exame para o qual se matriculou, mas a sua nota tem que ser marcada com o ZERO saneador da moralidade, fustigando o politicamente correto, covarde e aviltante, que teima em não ferir em brasa a realidade. E para não acontecer também, que só os bons alunos sejam aferidos dando uma nota falsa para os seus colegas faltosos e o colégio não menos errado. Um “quociente saneador”. Assim, refazendo a tabela anterior, seja-lhe introduzida agora uma coluna nova. Algo que represente um “quociente saneador” obtido por cada colégio. Um cálculo simples, que todo mestre-escola faz muito bem; um quociente obtido a partir do número de alunos que prestou efetivamente o exame, dividido pelo total de alunos matriculados e que deveria universalmente fazer a prova. Este tolo “quociente saneador”, multiplicado às médias aritméticas, expungiria a esperteza e a fraqueza dos faltosos, concedendo-lhes no resultado o seu ZERO mais que merecido. E o novo resultado, assim obtido, seria mais real por verdadeiro, conforme se vê na tabela, cruentamente exposta logo abaixo. Resultado doloroso. O resultado da tabela acima é bastante doloroso, sobretudo para algumas escolas cujo índice de comparecimento foi baixíssimo. Seus alunos faltosos zeraram a prova, reprovando-se e denegrindo a farda vestida e os seus professores; os grandes inocentes entre tantos culpados. Se há culpados, a maior falha é do próprio ENEM por ter concebido um exame não obrigatório. Tudo isso por ser fruto do politicamente correto em simbiose com a pedagogia que despreza a nota e até qualquer processo de avaliação do ensino. Infelizmente, faz o exame quem quer! Eis a grande estupidez que suscita omissões e espertezas! Os que querem sempre se enganar, como os avestruzes, enterram a cabeça fingindo que o mundo não existe, ou melhor, que as exigências ditadas pelo mundo competitivo constituem uma ilusão boba. E o mundo, a tudo isso indiferente, continuará dando paulada em quem não se prepara para a vida. Para estes, deixar de fazer o ENEM é, com certeza, fingir-se avestruz, como estudante, mau estudante, e como colégio, um mau colégio. Sem falar dos colégios espertalhões que selecionam seus bons alunos para fazer o exame e mascarar o resultado. Se for isso ou não, a tabela acima agora desmascara tudo. De parabéns permaneceu sem alardes o Colégio do Salvador com o primeiro lugar incontestável. Todo seu alunado fez a prova. Sem exceção! E o resultado é a repetição, em alto e bom som, de um antigo lema ali presente em sete décadas de vigência. “Nas contendas da vida, não reclame da educação do seu adversário. Demonstre a sua!” O resto é resto! Aliás, o resto é medo de avaliação matemática. Ah!
O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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