Sob suspeitas

Caroline de Alencar Babosa
Graduanda em História na Universidade Federal de Sergipe
Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS)
Bolsista PICVOL do projeto “Aracaju em tempos de conflito: Estudos dos espaços de lazer na Segunda Guerra”
Orientador: Prof. Dr. Dilton Cândido Santos Maynard
e-mail: caroline@getempo.org

Trabalho apoiado pelo projeto "Quando a Guerra chegou ao Brasil: Ataques submarinos e memórias nos mares de Sergipe e Bahia (1942-1945)", Edital Universal CNPq 2014.

Em 16 de agosto de 1942, o submarino alemão U-507 atacou diversos navios mercantes brasileiros nos mares de Bahia e Sergipe. Entre os navios torpedeados estavam o Baependi, Aníbal Benévolo e o Araraquara. Nas praias de Aracaju a imagem de corpos chegando a todo o momento alarmou os habitantes. Revoltada a população foi às ruas exigir do governo a posição que iria assumir diante de um conflito que até então parecia distante: A Segunda Guerra Mundial.

Após esse episódio, olhares e suspeitas recaíram sobre os integrantes do Quinta Coluna, ditos ex-integralistas declarados. A polícia passou a investigar as atividades subversivas e muitos desses suspeitos foram presos, acusados de ligação com as potências do Eixo e de ajudarem os alemães no ataque aos navios mercantes brasileiros, repassando informações privilegiadas do Brasil.

Acusados de traidores e de espiões do Eixo diversos adeptos do que parecia o “extinto” movimento integralista foram interrogados pelo chefe de polícia da época, Enoque Santiago. Segundo o historiador Marc Bloch “das eras que nos precederam, só poderíamos [portanto] falar segundo testemunhas, estamos a esse respeito, na situação do investigador que se esforça para reconstruir um crime que não assistiu”.  Nesse sentido o relatório do chefe de polícia ao interventor sobre o inquérito instaurado no Estado contra os brasileiros apontados como ex-integralistas nos auxilia na análise das possíveis ações desse grupo, como também nos apresenta nomes dos possíveis participantes do Integralismo em Sergipe.
O relatório divide os investigados em “integralistas fervorosos” aqueles que segundo Enoque Santiago “trazem sempre acesa a chama viva do Integralismo” e “amigos comerciais da Alemanha” que “se vêem alegres com as vitórias de suas forças armadas”.

Entre os cerca de 16 ex-integralistas interrogadas, percebemos nos depoimentos dos indiciados, que apesar de afirmarem o abandono do movimento, ainda eram simpatizantes com a ideologia Integralista. Na página nove do relatório vemos a declaração de Rosalvo Rosa Queiroz, Integralista veterano, detido pelo seu integralismo fervoroso e pela sua falta de piedade e patriotismo em relação aos torpedeamentos ocorridos, afirmando que: “Conserva as suas ideias integralistas, pois são estas que o governo deve aplicar neste momento: união de todos os brasileiros, respeito às autoridades constituídas e extinção dos partidos políticos”.

A partir desse relatório, podemos perceber que o Integralismo não estava “fechado” como se afirmava. A experiência dos torpedeamentos fez a polícia voltar sua atenção para os adeptos desse movimento e suas possíveis atividades de espionagem em favor do Eixo. A investigação é concluída com a ideia de que os indiciados não abandonaram o Integralismo, mas o conservam. A prova disso reside no fato, segundo o chefe de Polícia, que todos se ofendem quando suposições sobre fatos funestos recaem sobre o Integralismo ou seus membros.

Todavia devem-se ressaltar que apesar dos integralistas ainda persistirem com alguns ideais do movimento não declaram qualquer participação no episódio dos torpedeamentos. Portanto, a partir do que foi produzido percebemos como o cotidiano de Aracaju foi afetado pela Segunda Guerra Mundial e de que forma a polícia empreendeu o combate a todos os considerados “inimigos da pátria” acusados de promoverem atividades subversivas em relação ao governo brasileiro.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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