Sobre o pensamento conservador na UFS

A eleição para o Diretório Central dos Estudantes da UFS tem sido motivo de atenção e discussão tanto dentro do campus universitário quanto nas redes sociais e em alguns setores da imprensa sergipana. O motivo de uma eleição de entidade estudantil extrapolar os muros da universidade? A preocupação com o pensamento conservador que se apresenta para esse processo eleitoral, mais precisamente na Chapa “Liberte-se”, que, dentre os seus membros, tem integrantes da Juventude Conservadora de Sergipe, organização que tem se caracterizado pela defesa de propostas e medidas que vão na contramão dos avanços democráticos que o Brasil já conquistou e dos avanços que ainda são necessários para consolidar a nossa democracia. Vejamos alguns exemplos.

Em uma postagem no perfil oficial de uma rede social, a Juventude Conservadora de Sergipe (JCS) adjetiva a Comissão Nacional da Verdade como Comissão da “patifaria” e da “mentira” e afirma com todas as letras que no Brasil “não houve golpe militar, mas sim uma proteção do país”. Para a Juventude Conservadora de Sergipe, “os nobres militares foram honrados e defenderam a pátria, honraram a missão deles”.

Sugiro aos integrantes da JCS que reservem um tempo para conhecer a história da Operação Cajueiro, para conversarem com Marcelio Bonfim ou com Milton Coelho, que ficou cego por conta da tortura sofrida. Ou podem ainda acessar o relatório final da Comissão Nacional da Verdade e saber sobre os três sergipanos assassinados pelo regime militar ou sobre os deputados que tiveram os mandatos cassados.

Em outra postagem no facebook, a Juventude Conservadora de Sergipe afirma que no Brasil não existe extermínio da juventude negra das periferias. Segundo a entidade, o fato de mais negros morrerem no Brasil é apenas o “bom senso”. Para eles, “mata mais, morre mais. Independe de cor, raça ou religião”.

Aos estudantes que integram a JCS, sugiro a leitura das últimas edições do Mapa da Violência, elaborado pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos. As estatísticas mais recentes mostram que são, em média, dois jovens negros assassinados por hora, 48 mortos por dia, 355 por semana, 1344 por mês. Se preferirem, há outros dados: 25% dos jovens negros já vivenciaram ou estão vivenciando uma situação de violência. Desses, 50% já perderam um parente próximo.

Para a mesma JCS, a homofobia no Brasil é uma “farsa” e a “cultura do estupro” é uma “invenção” das mulheres. Será uma farsa algo que motiva o assassinato de uma pessoa gay, lésbica, bissexual, travesti ou transexual a cada 28 horas? Será uma farsa algo que motivou a morte de 312 pessoas apenas em 2013? Será uma invenção a recente pesquisa divulgada na revista “Violência e Gênero”, que revelou que um terço dos estudantes estuprariam mulheres se tivessem certeza de que não sofreriam consequências logo em seguida? Será uma invenção num país em que, por dia, 35 mulheres denunciam casos de estupro? São perguntas que precisam ser respondidas tanto pela Juventude Conservadora de Sergipe quanto pela Chapa “Liberte-se”.

Sobre a política institucional, o discurso da chapa “Liberte-se” é de negação dos partidos políticos. De início, é um discurso pode ser criticado a partir do entendimento da filiação partidária como um direito conquistado e garantido na Constituição Federal. Mas, nesse caso, a contradição entre discurso e prática da chapa “Liberte-se” precisa ser escancarada:
– O perfil oficial da JCS no facebook, em uma postagem no dia 4 de outubro do ano passado, “recomendou” votos em Georgeo Passos e Antonio dos Santos, para deputado estadual, e Laércio Oliveira para deputado federal;
– Também pela rede social, a JCS afirmou ser uma “maravilha” o fato de, a partir deste ano, o Brasil ter o Congresso Nacional mais conservador desde 1964;
– Um dos integrantes da chapa é articulador do Partido Novo (em criação), partido que defende o livre mercado e é contra as cotas nas universidades públicas;
– E outro integrante da chapa é filiado ao Partido Democratas desde 2007, partido do atual prefeito de Aracaju, João Alves Filho.

Será por esse motivo (afinidade partidário-ideológica com o prefeito da capital), então, que a Juventude Conservadora de Sergipe, por mais de uma vez, condenou propostas para melhoria e democratização do transporte público de Aracaju, a exemplo do Passe Livre?

Além das posições citadas acima, integrantes da Juventude Conservadora de Sergipe e da Chapa Liberte-se têm defendido medidas como pena de morte; aumento do uso da força policial; armamento individual para qualquer cidadão; e redução da idade penal. Apenas propostas que o Brasil não precisa.

A preocupação de professores, estudantes e funcionários da UFS – da qual também compartilho – é, portanto, mais que legítima, afinal estamos falando da eleição de uma das principais entidades estudantis do estado e de uma universidade que se constituiu ao longo da história pela presença ativa das mais diversas correntes progressistas e de esquerda, mas nunca de um segmento declaradamente conservador como agora.

As eleições para o DCE acontecem nesta terça e quarta, dias 27 e 28. O meu desejo é, portanto, pela vitória da “Chapa 1 – É Preciso Avançar”, mas principalmente pela organização e mobilização de diversos segmentos que possam, logo após o resultado das eleições, coibir o avanço do pensamento conservador na UFS.

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Textos de resposta
Integrantes da Chapa “Liberte-se” e representantes da Juventude Conservadora de Sergipe, em momentos diferentes, entraram em contato com este colunista e solicitaram a publicação de textos em resposta ao meu artigo. Como defensor do debate de ideias e do irrestrito direito ao contraditório, publico as respostas na íntegra, apesar do texto da JCS conter ironias que não fazem parte de um debate real de ideias. Abaixo seguem os textos, publicados na ordem em que chegaram até mim.

1 – Texto da Chapa Liberte-se UFS

Os integrantes da chapa “Liberte-SE UFS” acordaram na manhã de hoje estarrecidos com o teor da publicação aqui feita. Apesar de esdrúxulos e imorais, boatos que levaram ao preconceito do colunista têm sido espalhados em demasia. Sempre deixamos claro o nosso caráter plural, democrático e aberto ao diálogo: oposto ao que o autor insinuou em sua coluna. Não compactuamos com correntes extremistas, seja de qual lado for. Publicamos nota de repúdio nos primeiros dias de campanha como forma de esclarecimento para a comunidade universitária. A Juventude Conservadora, por sua vez, fez o mesmo, enaltecendo assim as completas divergências entre nossos discursos e práticas. Não temos compromisso, submissão ou qualquer relação com a Juventude Conservadora ou correntes integralistas. A evidente difamação a nós tem se mostrado como temor daqueles que não querem perder o monopólio do poder.

2 – Texto da Juventude Conservadora de Sergipe

No dia 26 de janeiro de 2015, o jornalista Paulo Victor Melo, emitiu sua opinião sobre a Juventude Conservadora de Sergipe em seu espaço pessoal na Infonet. Ele inicia o texto comentando que "defendemos medidas que vão na contramão de avanços democráticos que o Brasil já conquistou". Porém, qualquer brasileiro com uma percepção real da nossa situação, percebe que tais avanços no fim não são avanços, mas, retrocesso puro e simples. Vejamos adiante.

O jornalista comentou positivamente sobre a Comissão Nacional da Verdade, relatando como algumas pessoas que sofreram ataques e foram reprimidas. Iniciamos informando que todo crime real e comprovado por parte dos militares deveria ter sido punido na sua época. Porém, o colunista esquece de mencionar (sabe-se lá o motivo) casos onde militares morreram nas mãos de pessoas que praticaram atos criminosos e terroristas, desde assaltos a bancos a morte de militares e civis. Para evitar tal pensamento unipolar do colunista, recomendamos, para que ele possa conhecer mais a história, os seguintes dados.

Para facilitar nossa resposta, colocaremos links para o senhor acessar:
-Lista dos militares mortos nas mãos dos "anjos" da esquerda:http://pastebin.com/LzspiMvq
– Os mortos da ditadura: mito e realidade :http://www.averdadesufocada.com/…/201-2911-os-mortos-da-dit…
– Alguns documentários sobre o tema: https://www.youtube.com/watch?v=UeXIrPc_O8o e https://www.youtube.com/watch?v=XGwYHMuZn60

Sobre o relatório dessa CNV (ou CN[M]V, Comissão Nacional da [Meia] Verdade), percebe-se que ela oculta o comprometimento de integrantes do PT que, na época dos fatos, cometeram crimes e agora querem se fazer de vítimas do Regime. Percebemos também que não querem acabar com a anistia apenas para um lado. Se for pra punir, terá que punir a todos, inclusive e presidente Dilma.
Seguindo o seu pensamento, o colunista leva o assunto para o extermínio da juventude negra, o qual comentamos aqui há um tempo. Certamente, afirmamos e confirmamos que quem mata mais, morre mais e isso independe de cor, raça ou religião. Vamos para as estatísticas? "As estatísticas mais recentes mostram que são, em média, dois jovens negros assassinados por hora, 48 mortos por dia, 355 por semana, 1344 por mês." Ok, mas porque existe esse extermínio? Apenas por puro ódio racial? Cremos que não e que, se ela existissem os culpados deveriam ser punidos conforme previsto em lei. Será que todas essas mortes foram por conta de injustiças? Foram por causa de força policial usada de forma indevida? Novamente, nosso entendimento é negativo.

Para que o senhor possa enxergar com os odis olhos, e não apenas com o esquerdo, recomendamos que leia o seguinte artigo e observe suas fontes para comprovar a autenticidade das informações:
-O Brasil rumo ao Apartheid – http://www.midiasemmascara.org/…/14499-o-brasil-rumo-ao-apa…

Continuando o texto, o colunista inicia o assunto sobre um dos temas mais amados pela esquerda liberal e moderna: a famosa "homofobia". Certamente o jornalista Paulo Victor não leu nossa argumentação na página e não se preocupou em responder, limitando-se a questionar muitas coisas que já foram respondidas. Mas responderemos novamente.

O que seria homofobia para o senhor? Para nós, um exemplo prático seria se um homem/mulher atacasse/agredisse um homossexual por conta de sua opção/escolha, correto? O que o senhor me diz de vários casos (incluído já nesses 312) onde quem mata o homossexual é justamente outro homossexual? O parceiro(a) acaba matando. No dia 10 de janeiro a Folha de São Paulo publicou um levantamento realizado pelo Grupo Gay da Bahia (GGB): 336 gays, lésbicas e travestis foram assassinados em 2012 – dado que significa um homicídio a cada 26 horas [1]. O propósito do movimento gayzista [2] é demonstrar que existe uma matança generalizada de homossexuais no país e, consequentemente, provar que o Brasil é um país “homofóbico”. Seria prudente analisar os números do Grupo Gay da Bahia e os critérios adotados para a pesquisa. Mas, que se dê um crédito à organização: 336 gays, lésbicas e travestis foram assassinados em 2012. Acontece que, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2012), 45.308 pessoas foram assassinadas em 2011 [3]. Adotando a forma expositiva do GGB, o homicídio no Brasil produz 5 cadáveres por hora. Portanto, estabelecer o comparativo – 336/45.308 – é uma obscena falta do senso das proporções. Em 2011 um ativista do movimento gay noticiou o seguinte: “O dia de hoje foi atípico. Sentimento de dor, perda, injustiça. Na noite de ontem, mais um jovem gay assassinado no Brasil. Dessa vez, em São João del-Rei/MG. Um jovem de 18 anos perde a vida de forma brutal e injusta. No velório amigos, família e comunidade. Um só discurso: foi injusto, queremos justiça”.

Este homicídio entraria automaticamente nas estatísticas do Grupo Gay da Bahia. Mas, qual foi a motivação do crime? Foi por ódio contra homossexuais? “Homofobia”? O próprio texto esclarece a dúvida:

“Até que a Polícia Civil investigue e conclua o inquérito o que se tem como certo é um jovem gay assassinado pelo próprio companheiro por não aceitar o término do relacionamento conturbado dos últimos meses”[4].

O que mais observamos é isso: qualquer violência contra gays hoje em dia vira caso de homofobia, descartando outras diversas possibilidades inclusive uma violência do seu parceiro.

Sobre violência contra a mulher, certamente ela deve ser combatida e os agressores devem ir para a cadeia. Nós somos bem respeitosos com as mulheres, tendo inúmeras delas em nossas fileiras. Tão guerreiras quanto os homens. Nós, que nos portamos com honra e decência, recusando a imoralidade que é o apanágio dos tempos modernos, jamais apoiaríamos qualquer tipo de agressão. Porém, o senhor acha certo que a melhor maneira de protestar contra isso sair por ai mostrando os seios? Isso resolve algo? Não. Somente chama atenção. As "feministas" clássicas não lutavam dessa forma e de fato eram mais racionais e fortes. Demais informação verificar nossas postagens.

Sobre a chapa 'Liberte-se UFS', postamos uma nota em nossa página de esclarecimento, favor ler. Sobre os políticos que recomendamos, continuamos recomendando, afinal, são os únicos que lutam por causas que concordamos ou por causas em comum, que levam a chama do conservadorismo em alguns pontos. Porém, não recebemos apoio financeiro NENENHUM deles. Porém, o senhor prefere esconder o apoio de pessoas como Rogério Carvalho a chapa 1 e a atual situação do DCE? O senhor também prefere esconder a postagem de Sônia Meire incentivando a violência contra policial? (https://www.facebook.com/juventudeconservadora.sergipe/photos/pb.103460633133529.-2207520000.1422362019./533875476758707/?type=3&theater) De fato, coerência é ago que não é observado no artigo do senhor.

Sobre 'passe livre', somos contra e já nos posicionamos sobre isso, favor pesquisar.

O senhor informou que nós apoiamos "medidas como pena de morte; aumento do uso da força policial; armamento individual para qualquer cidadão; e redução da idade penal. Apenas propostas que o Brasil não precisa."

SIM! Apoiamos sim, pena de morte deveria existir em casos específicos e proporcional, porém, dever-se-ia iniciar com prisão perpétua e trabalhos forçados e não com pena de morte. Apoiamos o aumento da polícia militar, civil, federal e todas as forças armadas. Armamento individual é essencial e deveríamos ter essa liberdade. Se tiver um incêndio em sua casa, o senhor vai esperar o corpo de bombeiros chegar ou vai usar o extintor de incêndio? Então porque o cidadão DE BEM precisa esperar a polícia chegar e não pode usar uma arma para se defender? O senhor acusa essas medidas como algo que o Brasil não precisa. Podemos concluir, então, que o senhor defende uma maior marginalidade, "Direito dos Manos" defendendo bandido e nunca indo na casa de um policial quando morre, que quando forem te assaltar ou tomar o veículo (caso o senhor possua) do senhor, apenas irá esperar a polícia chegar (ou caso não goste de polícia, o Batman) e que se o marginalzinho for menor de idade, que ele não vá para a cadeia. Sinceramente, são propostas que a maioria dos brasileiros apoia mas não se manifesta ou quando se manifesta é sufocada por meia dúzia de militantes de esquerda que não tolera ser contrariado.

Ademais, peço que o senhor verifique nossos dados, as informações em nossa página e leia mais, pois conhecer mais e refletir é sempre bom.

Nossa luta continuará, independente de perseguições, de deturpações do que falamos, de violência para conosco e do que possa acontecer. Para cada ataque surgirá novos conservadores. Pessoas podem até tombar, mas um ideal verdadeiro jamais será esquecido!

Atenciosamente, 
Juventude Conservadora de Sergipe

[1]. Cf. Folha de São Paulo, 10 de Janeiro de 2013 [http://www1.folha.uol.com.br/…/1212866-um-homossexual-e-mor…].
[2]. Observar a diferença entre o homossexual e o movimento gayzista. Este último é a transformação da sexualidade em princípio de organização política e de promoção de engenharia social.
[3]. Cf. Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2012, Tabela 10, p. 28. [http://www2.forumseguranca.org.br/node/32131].
[4]. Cf. [http://carllosbem.blogspot.com.br/…/perdemos-mais-um-jovem-…]. E o narrador ainda revela: “Pude ver um adolescente gay de 15 anos chorando copiosamente porque também está sendo ameaçado de morte pelo assassino que continua solto pelas ruas da cidade”.

*O texto foi altera do às 18h41 para acréscimo de resposta enviada pela chapa Liberte-SE UFS e às 18h do dia 27/01 para acréscimo de resposta enviada pela Juventude Conservadora de Sergipe.

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