Socorro, minha mãe está no Facebook!

Pedro Carvalho Oliveira
Graduando em História pela Universidade Federal de Sergipe.
Bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET/FNDE/MEC).
Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/CNPq/UFS)

O IBGE identificou em 2012 que no ano anterior 46,5% da população brasileira, com idade a partir de 10 anos, estava ligada à Internet. Certamente este percentual já subiu. Principalmente se levarmos em consideração a rapidez dos avanços tecnológicos e das facilidades em obter computadores e smartphones. A mesma pesquisa mostrou que, embora o uso da rede mundial de computadores seja predominante entre os jovens do país, cuja faixa etária está entre os 15 aos 19 anos, houve um aumento significativo entre os usuários com idade a partir dos 50 anos, passando de 7,3% em 2005 para 18,4% em 2011. Isto significa que os pais, tios e até mesmo avós da geração mais nova estão aderindo ao mundo virtual.

De acordo com pesquisa do respeitado grupo Social Bakers, nosso país é o segundo maior entre os que mais possuem usuários do Facebook, a maior rede social da web no momento, perdendo apenas para os Estados Unidos e seguido diretamente pela Índia. A adesão maciça se iniciou aproximadamente em 2010, mesma época em que o Orkut, até então a rede social mais utilizada pelos brasileiros, sofreu um declínio entre os usuários brasileiros, numa espécie de migração digital. A geração X, composta pelos nossos genitores, fez parte desta transição. Sua presença nas redes sociais se revela um problema para seus filhos e netos, a chamada geração Y.

O primeiro problema que podemos perceber é o fator vigilância. A chegada dos mais velhos proporcionou uma cautela maior por parte dos adolescentes, principalmente, no meio cibernético. As fotografias das festas e suas manifestações pessoais sobre diferentes assuntos, antes formadoras de uma identidade (ainda que não completamente real), agora são repensadas. Os motivos vão desde a preocupação em revelar atitudes reprováveis por sua família, até a existência de certa vergonha em manifestações dos pais, cujo comportamento na rede é muito julgado pelos seus filhos.

O segundo problemas está justamente aí: neste julgamento realizado pelos jovens a respeito da forma como os mais velhos utilizam a rede social. Frequentemente o termo “orkutizar” é utilizado neste julgamento, associando o comportamento dos pais (o compartilhamento exacerbado de informações, de frases de efeito, pensamentos de auto-ajuda, entre outras coisas) aos motivos que teriam causado a migração para o Facebook: o acesso de classes menos favorecidas, supostamente responsáveis por um uso “inadequado” do site. Ora, este termo já constitui um preconceito excessivo contra estas classes que também são julgadas como pouco capacitadas para estar naquele espaço. Este “tribunal virtual”, esteja julgando os pais ou as classes menos abastadas, revelam um problema.

Embora Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, tenha criticado o comportamento dos brasileiros nesta rede, como um juiz máximo das premissas de sua criação, garantindo as justificativas da geração Y, devemos repensar estas acusações. Entender que se trata de um posicionamento a favor das expressões principalmente de camadas jovens da classe média alta, em maior número entre os perfis, determinando o que deve ou não ser postado nas muitas “linhas do tempo”, embora muitos deles se comportem de maneira contrária, impossibilitando uma regra. Entender também que a percepção de uma suposta “educação virtual” advém desta mesma camada social, cujo acesso à educação real não encontrou certas dificuldades. E que num futuro bem próximo, suas postagens também serão uma vergonha para seus filhos.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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