Lisboa, 20 de abril de 2008
Caros amigos de Sergipe:
Neste fim de semana aproveitei para treinar o meu carisma de pré-candidato. Comecei a acenar para desconhecidos na rua. Decididamente, não foi uma boa idéia.
O primeiro a me reconhecer foi um ex-colega de faculdade que cismou que eu lhe devia uma enorme quantia em dinheiro. Disse-lhe que, certamente, estava me confundindo com o Antonio Bandeiras e que fosse cobrar à sua produtora. Não prestou! A pancadaria rolou no meio da rua. Um vexame!
Ontem estive reunido com o Conselho Político para a definição da estratégia que devemos adotar na nossa campanha. A partir dela escolheremos o slogan e programaremos atividades que reforcem o nosso foco estratégico.
O eminente assessor Totó Penteado lembrou que sou português. Ele acha que com tantos brasileiros fazendo besteira no governo, o povo pode ser simpático á idéia da volta dos portugueses ao poder. Sugeriu uma articulação com os simpatizantes do Partido Monarquista e um slogan que, segundo ele, remete ao descobrimento do Brasil: “Morro à viiista!”. Decididamente, a publicidade nunca foi o seu forte.
Ponderei que o tal slogan era uma maluquice sem pé nem cabeça. Ele riu com uma ponta de sarcasmo e explicou-me seu ousado plano.
_Maluquice uma pinóia! O Morro do Urubu será a nossa galinha dos ovos de ouro, Apolônio! Com a vocação que aquele povo tem pra roub, digo pra ganhar dinheiro, tenho certeza que estamos diante de um novo Eldorado.
– Como assim, Totó? Perguntei curioso.
_É simples. Simples e complexo! Construiremos ali a maior área de turismo religioso do nordeste. Um parque temático onde o chá de cogumelo, que abunda na região, seja a estrela da festa. Uma espécie de Santo Daime nordestino, ó Popó! Não tive outra opção a não ser demiti-lo do Conselho.
Calimério Bragança tentou ser mais sensato e sugeriu que o nosso foco deveria ser o velho ataque às suspeitas de maracutaia.
_ O povo sabe que político é tudo igual, Apolônio. Você não é um político profissional, isso faz toda a diferença. E também sapecou um slogan: “Apolônio, esse sim é amador!”. Foi a segunda baixa no Conselho.
Sobraram Zenóbia e Sulamita. A primeira, esposa dedicada e beletrista, se prontificou a escrever os textos para o programa de tv. O que aliás, será absolutamente desnecessário já que não terei mais três inserções semanais de cinco segundos cada uma. Falarei por capítulos. “Boa noite, amigos e amigas de Aracaju”, na primeira aparição, “Meu nome é Apolônio Lisboa” na segunda e assim por diante. Contribuição rejeitada.
Já a Sulamita, que só pensa em sexo, fez uma abordagem psicanalítica da minha campanha.
_ Você tem que canalizar pra você o bom humor, o prazer. Continue escrevendo semanalmente aquelas bobagens pro Jornal do Dia, porque o povo quer mesmo é gozar. Nem que seja com a cara dos outros.
Apliquei-lhe um pequeno castigo sexual por chamar as minhas Cartas de ‘bobagens’, mas pedi que prosseguisse com a sua teoria tresloucada.
_O povo tá cansado de candidato carrancudo, Apolônio. Você pode ganhar justamente por ser uma piada. Isso é que vai alavancar sua campanha.
Disse isto olhando marotamente para as minhas partes pudentas, ao tempo em que também sugeriu o seu slogan:
_”Apolônio, esse é gozador”.
Aproveitei para testar a eficácia do slogan e fui aos píncaros do prazer.
Até semana que vem.
Um abraço do
Apolônio Lisboa