Ingrid Nogueira do Nascimento Magalhães
Graduanda em História pela UFRRJ.
Integrante do Grupo de Pesquisa intitulado Ética, Relações de poder, Subjetividade e Tecnologia junto à base de dados da CNPq.
Bolsista PIBIC-CNPq no projeto Desafios Éticos na Contemporaneidade: Relações de poder, Produção de Subjetividade e Sexualidade.
Em Psicopolítica, o filósofo Byung Chul-Han explica que a sociedade contemporânea se fundamenta na performance produtiva. Atingir metas tornou-se mais importante que viver. Ele diz: “o capital se multiplica enquanto competimos (…) a liberdade é uma servidão na medida em que é tomada pelo capital”. O cenário do início da pandemia de covid-19 no Brasil, próximo ao começo do isolamento social ao entorno de abril de 2020, traz dilemas interessantes nesse sentido.
Há uma certa construção de racionalidade contemporânea que privilegia manter a produtividade sob o argumento de que o setor improdutivo da sociedade pode ser estabelecido como o outro e por isso, menos importante; ou mesmo, o inimigo. Assim, tentar manter vivos através do isolamento social idosos e demais pessoas do grupo de risco foi responsabilizado por alguns pela possível perda de empregos em massa.
Assim, para o grupo de risco se manter vivo, teria de se abrir mão da economia, ou melhor, da perspectiva de eficiência produtiva presente nela, mesmo a ciência negando essa prerrogativa. Como se de fato fosse possível, justo e verdadeiro estabelecer tal relação de causa e efeito.
Conforme a doença ia avançando no mundo, surgiam cada vez mais notícias falsas, provavelmente impulsionadas por razões político-econômicas, que levavam parte da população a crer em prerrogativas absurdas. O filósofo aponta que isso ocorre pois, em um cenário hipercomunicacional e hipermidiático é quase impossível haver controle sobre todas as fakenews.
Tem-se então, um falso dilema: isolamento total em prol da sobrevivência de todos, entretanto, sob o risco de desemprego em massa; ou continuar a produção, manter os empregos e a economia girando, e morrer uma parte da população cuja maioria é improdutiva do ponto de vista econômico.
Isso pois, segundo Han, tais bipolaridades são acentuadas dentro das redes sociais, que atuam em uma temporalidade imediatista movida por afetos, em que falta espaço para planejamento. Por isso, a política se dissolve em mera informação e opinião desprovida de questionamentos e reflexões que demandam um tempo que não existe dentro destas mídias.
Moldamos toda uma percepção da realidade e de saberes em prol da produtividade, ainda que isso custe vidas, mesmo as nossas. Isso, para Han, é o que nos torna senhores e escravos de nós mesmos, na medida em que escolhemos servir, achamos que estamos livres, mas usamos toda essa suposta liberdade somente para produzir, não para viver.
Para saber mais:
HAN, Byung-Chul. Psicopolítica – O neoliberalismo e as novas técnicas de poder. BH: Ed. Âyiné, 2018 [2014].