Tartufo na tribuna da ONU

O texto a seguir não é meu. É uma tradução feita por mim do artigo “Tartuffe*  à la tribune de l”ONU”, de autoria de Dominique Dhombres, que foi publicado na edição do Le Monde da terça 26.09.07.

 

Mahmoud Ahmadinejad enumerava, terça-feira 25 setembro, na tribuna das Nações Unidas, as ameaças que pesam no mundo, a começar pela primeira dentre elas, que é, segundo ele, de natureza sexual.

 

A radio LCI retransmitia ao vivo o discurso do presidente iraniano. Era decididamente estranho, e a tradução instantânea da farsa operada pelo encadeamento não arranjava as coisas. “Hoje, nós constatamos uma invasão de inimigos da humanidade que procuram minar a instituição da família, que põem à frente a violência e a concupiscência e que procuram dissimular a castidade e a decência. A existência tão preciosa das mulheres, que é uma manifestação da beleza divina e que é também a excelência da pureza tem sido largamente exploradas, nestes últimos decênios, pelos poderosos, por aqueles que possuem as mídias e a riqueza. Todas as barreiras da castidade e da pureza têm sido derrubadas pelos pés. A coerência da família é posta em causa”, dizia Mahmoud Ahmadinejad.

 

Esperava-se do presidente iraniano sobre a bomba nuclear que se supõe construir em segredo, mas é de uma outra bomba que ele tinha primeiro em mente. A liberdade de costumes e a pornografia, eis aí o inimigo!

Antes de falar dos grandes negócios do planeta ele estava manifestadamente urgente a denunciar as “tentativas organizadas” de levar o mal à família e a castidade. Organizadas por quem? O orador tinha o indicador erguido para o ar como um doutor da lei. Ele repetia as palavras “pureza” e “decência”. O sexo é aparentemente a arma secreta exibida pelos inimigos da revolução islâmica no Iran…

A outra obsessão do presidente iraniano é a segunda guerra mundial, ou antes, suas conseqüências.

“Uma análise científica cuidadosa mostra que a essência da situação atual resulta do segundo conflito mundial. Os vencedores têm procurado por no lugar uma dominação mundial, não a partir da justiça, mas para garantir seus interesses. Algumas grandes potências se comportam ainda como os vencedores do segundo conflito mundial e consideram os outros países, mesmo aqueles que nada tiveram a ver com este conflito, como vencidos. Eles pensam que deveriam ter direitos superiores aos outros”, dizia ele.

É isto que o presidente iraniano chama “a dominação dos incompetentes”.

Aí ainda, o pecado da concupiscência não está longe. Estas potências não têm vocação de reger o mundo, pois são incapazes de refrear os seus próprios desejos. “A única maneira durável de melhorar o futuro da humanidade é se voltar para os ensinamentos do Profeta, do monoteísmo e do respeito pela dignidade do homem”, concluía ele.

Hoje, Tartufo se veste de cinza e traz um colarinho aberto.

Dominique Dhombres

 

*Tartuffe, personagem título de peça de Molière se caracteriza como um farsante defensor da moralidade.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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