Cheguei a conclusão, que no curso de nossas vidas somos submetidos a muita insensatez e muita tolice. A maior insensatez que vejo é conduzirmos a nossa vida como se ela tivesse um único propósito. Uma meta a ser atingida, um objetivo a ser alcançado. Quando vivemos desta maneira ,estamos reforçando a crença de que o nosso maior bem está no futuro. Por longos anos vivi assim, sempre deslocada e apostando todas as minhas fichas num amanhã promissor,onde todos os meus “desejos” aconteceriam . Afinal, eu estava empenhada e trabalhando para que eles acontecessem. Com o tempo, muitos desses investimentos se tornaram reais e tantos outros não chegaram nem perto, me causando depois enormes frustrações e desencanto. Não foi assim com você?
Então, fui ficando calejada e após algumas decepções ,descobri que o fluxo da vida é outro . Aprendi que gastava muita energia mental e física investindo em “coisas” que talvez nunca se tornassem reais. Nessa cultura impositiva tão cheia de papéis é fácil entender porque pensamos assim. Mas, viver é muito mais do que uma roda da fortuna, traçar os fios da nossa existência, requer a coragem de romper com toda essa incompatibilidade subjacente das imposições sociais.
Foi assim, que comecei a desatar alguns fios que me enredavam e entendi que a única certeza que temos é o momento presente. Com essa nova compreensão, fiz uma releitura dos meus valores antigos e decidi não viver mais na idolatria da beleza, do dinheiro, do poder, da juventude, dos prazeres efêmeros e do futuro perfeito.
Por alguma razão, lá pelas minhas vivências, senti que o caminho do bem viver era outro. Desde então, trago com a minha maturidade uma energia muito boa, um certo refinamento no sentir. Minhas escolhas e afetos se tornaram mais sólidos e hoje tenho uma maior capacidade em desprezar o ego sem muitos conflitos. É um exercício diário!
A mim, sempre fora do esquadro, me impressiona como nós humanos podemos alcançar tantos níveis de destrutividade a nós mesmos e aos outros, quando nos impomos padrões de pensamento, emoção, comportamento, reação e desejos que apenas refletem a nossa frágil e dramática identidade na busca da vida perfeita.
Minha vida, que está bem longe de ser perfeita, não é mais preenchida com o objetivo de alcançar nenhuma meta planejada, nenhum grande sonho que me fará ser mais feliz do que sou. Hoje os meus planejamentos são a curtíssimos prazos e estou preparada para possíveis quebras de promessas e juras de terceiros, me tornei desconfiada dos bonzinhos, dos sempre sorridentes e gentis…
A única certeza que tenho é a do meu momento presente,aliás é nele que invisto. Tudo que faço, todos os meus esforços diários não estão concentrados em alcançar nenhum fim. Não tenho mais nenhuma obsessão com o futuro e a minha felicidade e satisfação pessoal não estão mais atreladas ao virar à esquina ou confinada a prazeres de curta duração. Não corro mais atrás de nenhuma nova excitação momentânea e desconfio das alegrias exaltadas.
Não deixei de ser curiosa e tão pouco entusiasmada, não é isso. Porém ,deixei de ter uma programação fechada sobre o futuro. Minha vivacidade é nutrida com sensações e descobertas a cada dia. Assim, usufruo de todo o meu poder e potencial criativo no agora. Me libertei das amarras e das projeções mentais que me faziam refém de mim mesma. Respeito e acredito no movimento constante de tudo o que é vivo. Abraço a impermanência de cada situação e aceito a vida como uma eterna aventura, rumo ao desconhecido.
Com os meus bichos tenho o mais doce e afetuoso relacionamento, não quero viver de pequenas e nem grandes saudades, minha ternura e dedicação são visíveis àqueles que amo diariamente, mesmo quando estou envolvida por outras “delicadezas”-nesse caso, minha arte em fotografar e criar novos mundos imaginários. A vida é agora.