Acontece cada uma que faz pena. Sei que errar é o que mais fazemos, pois, como vastamente propagado, “errar é humano”. Contudo, creio ser relevante de vez em quando evidenciar certos equívocos, sem identificar, naturalmente, as pessoas que erram, para que, quem sabe, sirva de alerta evitando que outros também não cometam a mesma falha.
Estamos cientes de que erros, sobretudo, nossos erros, nos ensinam muito, quando queremos. Porém, aqueles cometidos por outras pessoas despertam a nossa atenção e também servem para que evitemos praticá-los.
Vejam este caso que abaixo transcrevo.
Chego num grande hipermercado da minha cidade para comprar um aparelho de ar condicionado, encontro um vendedor e lhe pergunto:
– Quanto custa este aparelho de Ar condicionado?
– R$ 799 00, (setecentos e noventa e nove reais), e o pagamento pode ser dividido em 10 vezes.
Estranhei, pois no dia anterior estive naquela mesma loja e alguém tinha me informado o preço de R$ 899,00 (oitocentos e noventa e nove reais) para dez pagamentos. Fiquei alegre, pois de um dia para o outro eu economizaria R$ 100,00.
Indaguei:
– É uma promoção?
– É.
Respondeu o vendedor.
– Ok! Eu vou querer um.
Aí foi quando percebi que ele era iniciante, na verdade era um aprendiz, ainda não sabia sequer fazer uma negociação. Para tirar o pedido ele teve que se valer de uma senhora que, também vendedora, encontrava-se a alguns passos de nós.
– Fulana, você pode me ajudar? Este senhor quer um aparelho deste de R$ 799, 00, para pagar em 10 vezes.
– Não!
Respondeu ela.
– O preço e R$ 899,00 divididos em 10 pagamentos.
Fiquei triste. Lá se foram meus R$ 100,00.
– Mas, a gerente tinha falo que estava em promoção por 799,00!
Indiscretamente respondi.
Não tinha, tenho certeza. Ela não tinha falo.
– Falou, sim, ela disse que era R$ 799,00.
– Ah! Ela falou, está correto. Mas, falo, ela não tem, garanto.
Mesmo assim, houve uma pequena e desnecessária discussão. Pois o novato teimava explicar que a sua gerente tinha “falo” aquilo.
Enquanto a outra vendedora se preocupava em explicar para ele que o preço não era aquele que, gratuitamente teimava em afirmar ter ouvido R$ 799, 00, mostrando, inclusive, uma etiqueta – só agora localizada, – que estava grudada na lateral daquele aparelho. Eu tentava explicar que a forma como ele conjugou o verbo “falar”, naquela frase, estava equivocada e que “falo” é outra coisa.
Pensem num rapaz teimoso! Não se deu por vencido, continuou nas suas equivocadas “certezas”. Foi a outra vendedora, que de certa forma participava daquele debate e, também em dúvidas, aventurou-se a perguntou-me:
– Então, qual a maneira certa de dizer que uma pessoa tinha falado alguma coisa.
– Exatamente como você disse “tinha falado” e não, tinha falo.
– E o que é falo? Pois o senhor disse que é outra coisa.
– Desculpe, não vou lhe dizer, pergunte a algum professor ou vá ao dicionário.
Peguei o papel e dirigi-me à caixa e fiquei aguardando a minha vez, pois tinha uma pequena fila.
Poucos minutos vejo os dois se aproximarem de mim. A vendedora com um dicionário na mão, parecendo envergonhada, exibindo um discreto sorriso, pediu desculpas pelo novato e agradeceu-me pelo esclarecimento.
O pobre rapaz, meio sem jeito, também se aproximou e meio acabrunhado, falou:
– Obrigado, professor. Obrigado pelo seu “corregimento”.