“Vivemos em um mundo onde a hipocrisia reina absoluta”. Esta frase foi pinçada de um diálogo interessante que presenciei ontem, aqui mesmo em Aracaju, entre dois ilustres cidadãos acostumados com os métodos utilizados, ao longo dos anos, por boa parte dos políticos brasileiros.
Um deles mostrava-se ardoroso defensor da CPI dos Correios e de uma apuração rigorosa do “mensalão”, denunciado pelo petebista Roberto Jefferson à Folha de São Paulo, no último domingo; o outro, mais experiente, era totalmente contrário. Não preciso nem dizer a quais partidos essas ilustres figuras pertencem. Ou torcem. Basta apenas que se acompanhe o raciocínio de cada um deles para que se chegue a uma conclusão adequada.
Pelo que pude notar, o defensor da CPI, eufórico ante a possibilidade de “desmascarar” o Partido dos Trabalhadores, sentia o momento como uma bela oportunidade de ir à forra. Coisa típica de quem enfrentou maus bocados nas mãos do PT, no passado, tendo que lutar, a todo custo, para evitar a instalação de diversas CPI’s no Congresso. Já o que era contra tudo isso, um tanto quanto desconsolado, valia-se de argumentos jamais imaginados, vindos de quem vieram. A frase inicial deste artigo, por exemplo, partiu dele: “Vivemos em um mundo onde a hipocrisia reina absoluta”, numa alusão às velhas práticas daqueles que se encastelam hoje na oposição. Dele também ouvimos a seguinte pérola: “O mensalão é pinto perto das emendas ao Orçamento da União”. Humm! Aí complicou ainda mais. E a emenda, convenhamos, saiu pior que o soneto.
Quase todo mundo sabe o que está por trás das emendas ao OGU, no Congresso. Sempre foram moedas de troca (voto = liberação de emenda = comissionamento). O mal cheiro das negociações é sentido até no Memorial JK, localizado a uns 10 quilômetros de distância. Aliás, acordos com emendas, mensalão, e outras coisinhas mais, são do conhecimento de todos em Brasília. Entre jornalistas que cobrem o Congresso existe uma máxima que diz: esse tipo de acordo é como o vento. Você não vê, mas sente e sabe que existe. Não é à toa, portanto, que a Comissão de Orçamento continue sendo das mais disputadas pelos parlamentares naquela Casa.
Conclusão do diálogo de ontem: não é só em Sergipe onde todos se conhecem e tudo se sabe.