Todos somos curruptos?

“O mais escandaloso nos escândalos é que nos habituamos a eles”.

 

Simone de Beauvoir

 

“Todos somos corruptos. Ninguém pode atirar a primeira pedra”.

 

 Mário Amato.

 

 

Não afirmaria que todos somos corruptos, como disse o grande empresário paulista.

Contudo, não dá para negar que todos procuramos sempre alguma vantagem indevida na resolução de nossos problemas diários.

 

O pior é que, com esse reiterado modo de agir, acabamos por achar que é correto, como disse Simone de Beauvoir: “nos habituamos”.

 

Mentiras, jeitinhos, “molejo”, “jogo de cintura”, malandragem, chantagem, sonegação, “roubadinha”, propina, “arrumação”, tudo isso sempre feito às escondidas para obter favores, ganhar tempo, espaço e vantagens para nós ou para os nossos.

 

São atitudes que devem ser evitadas, pois temos consciência de que é a partir dos pequenos atos que progredimos para os grandes, e como todos sabemos, as novas gerações são educados pelo exemplo, se  bons, certamente teremos também pessoas, no futuro, fazendo as coisas iguais ou melhores do que fazemos agora.

 

Porém, se banalizarmos os pequenos detalhes, achando que eles não significam nada, certamente, nossos filhos agirão do mesmo jeito, ou pior.

 

Necessitei passar numa farmácia para comprar um medicamento. Parei o carro no estacionamento lateral. Confesso que não me preocupei em arrumá-lo adequadamente e deixar passagem para os pedestres, de sorte que as pessoas seriam obrigadas a descer a calçada, se quisessem seguir em frente.

 

Imaginei: vai ser rapidinho, vou só comprar esse medicamento e volto em menos de dez minutos, portanto, não vou atrapalhar ninguém.

 

De fato, em menos de cinco minutos, estava de volta, pois na farmácia não havia o que eu procurava.

 

Apressado, volto ao estacionamento e percebo uma moto da SMTT – Superintendência Municipal de Transporte e Trânsito estacionada ao lado do meu carro e, naturalmente, um guarda escrevendo algo num bloco de notificação.

 

Saudei o Agente com um “boa noite” e, como quem não sabia de nada, perguntei:

– Algum problema, amigo? 

– Existe. Esse carro é seu?

– É sim. Só estacionei aqui para, rapidinho, comprar um medicamento, respondi.

– Mas o senhor podia ter deixado o seu veículo mais a frente, um metro, e estaria livre da multa. Eu já escrevi.

– Sem problemas, amigo, você está cumprindo a sua obrigação. Tenho que assinar em algum lugar? Ele ficou incrédulo.

– O senhor assinaria?!

– Claro, eu estou errado, diga-me onde devo eu assinar.

 

Sabe por que o espanto do Guarda? Porque ele esperava que eu tentasse me safar da multa, oferecendo propina ou tomando qualquer outra atitude bem conhecida dodos  ultasse estaria pratficar o Agente de trer livre de uma multa, no caso, s doe todos nós brasilianos.

 

O certo, para ele e para quase todos nós, seria tentar argumentar que foram só uns minutinhos, que ninguém foi prejudicado, que havia outros carros nas mesmas condições, e não foram multados, ou que não estava sabendo dessa lei que proibia estacionar daquele jeito.

 

E se nada disso funcionasse, ofereceria uma propina. Afinal, nesse caso, seria melhor pagar dez ou vinte por cento do valor da multa e se ver livre dela, bem como da perda de pontos na CNH. No caso, ganhariam os dois.

 

Isso é corrupção e corrupção, pequena ou grande, é crime.

 

Mário Amato cunhou uma frase que ficou célebre: “Somos todos corruptos”. Ou seja, em se tratando de corrupção, ninguém estaria moralmente autorizado a atirar a primeira pedra.

 

Noutra oportunidade, eu estava em um banco, aguardando ser atendido. A fila já tinha crescido muito depois de mim, quando chegou um grande amigo. Uma daquelas pessoas fora do comum, daqueles difíceis de lhe apontar uma falha de comportamento.

 

Naturalmente, tomou o ultimo lugar. Por ser meu amigo, convidei-o a se colocar na minha frente. Ele educadamente disse, – não esqueço nunca:

 

“Não, Pascoal, eu fico aqui mesmo, cheguei agora, não é justo tomar a frente dos outros”.

 

Para me safar do “mico”, falei incontinenti. “Não, eu estou convidando você a ocupar o meu lugar, vá pra lá que eu fico aqui.” A emenda não funcionou, foi pior.

 

“Não!” Repetiu ele. “Você, igualmente chegou primeiro, também não é justo que me ceda o seu lugar e vá para o final da fila. Não se preocupe, eu espero.” – Bem feito, “abestado”, por que não tem paciência? 

 

Voltei correndo ao meu canto, pois já havia dado dois foras em menos de um minuto. Estava bom. Aprendi.

 

Aprendi o que já sabia, mas não exercia.

 

Colocar uma pessoa na frente dos outros, não é correto. Por que fazemos isso? É a tal da ganância para aproveitar “oportunidades”, “situações”, e levar vantagem, ganhar, com isso, “algo”, embora sejam apenas alguns minutinhos. Isso, nada mais é do que o tal do “jeitinho brasileiro”, cultura daninha que devemos evitar.

 

Oferecer uma “caixinha”, uma “gorjeta”, uma propina para se livrar de uma multa, colocar uma pessoa a mais numa fila, estacionar em local proibido, não usar cinto de segurança, fazer “roubadinha”, beber e dirigir… Tudo isso não é correto.

 

Um dia, fazendo uma visita a um amigo, de origem norte-americana, que residia aqui em Aracaju, percebi que o terreno de sua oficina, situado numa grande avenida de nossa capital, era o único que ficava recuado da via pública, a uns vinte metros. Indaguei-lhe: por que não avança até a calçada, como todos os seus vizinhos.

 

Ele respondeu: “porque eu só comprei até aqui”.

Insisti. Mas todos já avançaram e ninguém fez nada.

Ele respondeu: “Todos estão errados, eu estou fazendo o certo”.

Insisti mais uma vez.

Mas, aqui é assim, todos já fizeram.

“Eles estão errados e eu certo; são eles que devem mudar e não eu”.

Calei-me. Chega!

 

Convido aos que se aventuraram a ler estas mal traçadas linhas para que empreendamos uma campanha contra isso. Não é necessário que queiramos mudar o mundo. Basta mudemos, nós mesmos, e, a partir do nosso exemplo, quem sabe, os nossos familiares, amigos, vizinhos e colegas de trabalho poderão ser tocados a seguir-nos, gerando, assim, uma onda de mudanças para melhor.  PENSEMOS NISSO!

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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