Transando gratuitamente com Nick.

Leio na Folha de São Paulo, que Nick, 36, um técnico de segurança bancária, dirigiu oito horas de sua casa na França até Praga na República Tcheca para transar gratuitamente no bordel Big Sister.

 

Aqui, temos a rede Globo nos enfiando diariamente a praga do seu medíocre Big Brother. Em Praga existe o bordel gratuito Big Sister, uma espécie de reality show também.

 

No tal Big Sister, cerca de 15 mil homens já passaram pelos seus quartos desde 2005, trocando sexo por exposição on-line.

 

Relata também a Folha que os visitantes do Big Sister (www.bigsister.net) logo que chegam são apresentados a um cardápio eletrônico das mulheres disponíveis, contendo sua idade, peso, idioma falado, etc, tudo o que seja necessário para o procedimento de uma boa escolha. Após a escolha da parceira, o visitante se compromete, mediante documentação assinada e juramentada a se deixar documentar audiovisualmente sua atuação sexual, em câmaras e microfones, cedendo todos os direitos de exibição, aluguel e venda internacionalmente.

 

É um novo enfoque no mercado do reality show; o de sexo, cuja meta é atrair o maior número de pessoas a assisti-lo pela TV.

 

Segundo anda a Folha que ouviu o gerente de marketing Carl Borowitz do referido bordel, o site recebe 10 mil a 15 mil visitas diárias. É o gerente quem diz, entre o gaiato e o pragmático: “Isso é um National Geographic para adultos. Todo mundo fica curioso em assistir o sexo do próximo.”.

 

E aí eu me lembrei que nos meus tempos de jovem quem era proprietário de prostíbulo não era uma figura bem aceita na sociedade. O mesmo para os chamados donos de “castelo”, assim chamadas casas onde quartos eram alugados para casais travarem suas lutas amorosas. Hoje os tais “castelos” são chamados de motéis. E quem é dono de um que bem fature é bastante reverenciado e homenageado. Coisas que o tempo muda a seu gosto e vontade.

 

Igual à vontade do personagem de Catherine Deneuve, a bela dama da tarde em Belle de Jour (1967) o excelente filme de Luis Buñuel, que muda com o passar dos dias em bom comportamento enquanto esposa de um cirurgião. Um misto de realidade e ficção no qual uma Deneuve bela, transparente e cristalina sente-se atraída pelo sujo, obscuro e mal cheiroso ambiente da prostituição. Temas que o nosso Nelson Rodrigues penetrou bem fundo, despertando na “vida como ela é”, uma série de contos e estórias de traições, traumas e taras. Tudo o que naquele tempo também enlouqueceu o cinema e o teatro de então, ensejando censuras e condenações.

 

Pois é o mundo mudou. Agora está Nick viajando centenas de quilômetros para se deixar filmar em ação como atleta sexual se mostrando para o mundo inteiro, porque entre outras coisas o “sexo não lhe é tabu”.

 

Desnecessário dizer que neste mercado sem tabus, o mais esquisito, o mais feio, o mais cabeludo, o mais disforme, o mais extravagante, têm a sua procura mais desejada.  Coisas do animal humano, do humano apenas, não do animal. Os animais, neste e em muitos outros temas, são mais puros, aí incluídos peçonhentos.

 

Coisa de nojentos, dirão outros. Aí inseridos muita gente que vê tudo isso como uma degradação de costumes.

 

Não discordo, mas não me empolgo com uma luta puritana para bani-lo. Creio-a mais como uma coisa inerente à liberdade. Melhor a ter que a proibir. Melhor é sabê-lo existente que mascarar a realidade fingindo que uma proibição extingue tudo.

 

Há pessoas que se sentem bem sendo vistas despidas e desejadas como um prato de maniçoba ou de sarapatel, suscitando babas e nojos.

 

Outros, felizmente a maioria, guardam-se em sua nudez pra si próprios ou para quem lhes é muito amado.

 

Não se trata de vergonhas e temor de peçonhas. Trata-se de amar e ser amado; a melhor coisa que se pode desfrutar na vida; gratuitamente também.

 

E deste gozo, este Nick francês jamais desfrutou, daí viajar muitas horas para transar em Praga, gratuitamente, num cardápio de consumo, exaustando-se e exaurindo-se num prazer mal amado e mal comido, sem sagrado e sem sentido.

 

Coisa infeliz de quem não quer bem, nem tem quem lhe queira tanto bem.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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