Como já é de costume, todo início de ano volta à tona em Aracaju a questão do transporte público, mais precisamente a discussão sobre o aumento da tarifa de ônibus.
Durante a abertura da maior festa privada/comercial da cidade – que é, inclusive, financiada pelas empresas de ônibus – o prefeito João Alves disse que, “pessoalmente, não vê com simpatia um possível aumento”, mas “que qualquer proposta será analisada a partir das planilhas de custos apresentadas pelas empresas”.
A afirmação de João Alves aparenta uma preocupação em não onerar a população com mais um aumento da tarifa. Mas, apenas aparenta.
Se, de fato, estiver preocupado com o transporte público de qualidade na capital sergipana, o prefeito João Alves vai publicizar quanto a prefeitura arrecada com o imposto pago pelos empresários; vai encaminhar a discussão sobre a tarifa para a Câmara de Veradores; vai promover uma série de audiências públicas com a população; e vai ativar o Conselho Municipal de Transportes, com participação da sociedade.
Se, de fato, estiver preocupado em não aumentar os gastos dos aracajuanos com transporte público, o prefeito solicitará não a planilha de custos, mas sim a planilha de lucros das empresas.
É essa planilha que vai mostrar quanto os empresários de transporte enriquecem todos os anos, oferecendo à população ônibus velhos, superlotados, sem horários definidos, sem qualquer controle social e com trabalhadores com elevado nível de stress por conta da pressão que sofrem cotidianamente.
Na verdade, demonstrar uma aparente preocupação com os problemas enfrentados pela população no que diz respeito ao transporte público parece ser uma tendência em Aracaju. Foi assim com o prefeito anterior – Edvaldo Nogueira – que, ao não aumentar o preço da tarifa de ônibus no ano passado, tentou construir uma imagem de prefeito que “governa pensando na população”.
Também, nada além da aparência. Afinal, o valor da tarifa não aumentou, mas o Imposto sobre Serviços (ISS) pago pelos empresários diminuiu consideravelmente.
Nunca é demais lembrar ainda que, entre 2000 e 2011, o valor da passagem de ônibus na “cidade da qualidade de vida” aumentou 150%, passando de R$ 0,90 para R$ 2,25. Além do ano passado, apenas em 2005 não houve aumento.
Este ano, o sindicato dos empresários – Setransp – ainda não se manifestou sobre uma nova proposta de valor. Mas uma coisa é certa: todos os anos, a estratégia das empresas é “pedir o ótimo” para “ganhar o bom”. Quem não se lembra de 2010, quando o pleito dos empresários era R$ 2,45 e a tarifa subiu para R$ 2,25?
Essa estratégia busca somente gerar uma aparente necessidade das empresas terem que atuar em desequilíbrio com os cálculos “planejados”. Só aparência, nada mais. Podemos, então, esperar uma proposta de aumento do Setransp e uma “contraproposta” da prefeitura num valor inferior.
Na essência, é um verdadeiro jogo, consequência das relações pouco republicanas – quando não promíscuas – entre empresários e poder público. As empresas de transportes são responsáveis por grande parte do bolo do financiamento das campanhas eleitorais dos principais partidos do país. A cada início de ano, é hora de pedir o troco. E quem paga?
Certo faz o Movimento Não Pago – que, devido à sua mobilização, foi o principal responsável pelo congelamento da tarifa de ônibus no ano passado – ao se antecipar e já iniciar a necessária articulação entre estudantes e trabalhadores para, mais uma vez, voltar às ruas e propor um transporte público de qualidade para a população de Aracaju.
NOTAS
1. Brasil de Fato: uma década de resistência
Fazer um jornal popular, comprometido com os movimentos sociais não é tarefa fácil, principalmente num país em que poucos meios de comunicação comerciais dominam quase toda a informação que circula.
Alguns, resistentes, conseguem e permanecem. O melhor exemplo é o jornal Brasil de Fato que, nessa sexta-feira (25), completa uma década de atividades ininterruptas. Todas as semanas, com a disciplina necessária, o jornal esteve nas bancas do país, nas residências dos assinantes e na internet.
Parabéns e vida longa ao jornal que nasceu durante o Fórum Social Mundial de 2003 e, desde então, se mantém firme como uma voz da classe trabalhadora brasileira.
2. Aniversário de injustiças e violência
No último dia 22, completou-se um ano da violenta desocupação do Pinheirinho, que deixou cerca de 1700 famílias sem moradia na cidade de São José dos Campos, em São Paulo.
Passado um ano do despejo das famílias, o terreno de mais de um milhão de metros quadrados voltou a ficar abandonado, sem cumprir qualquer função social.
Um ano depois, as famílias resistem e exigem reparação pelos danos morais e materiais sofridos durante a desocupação.
3. Escola Democrática e Popular
Na próxima quarta-feira (30), o SINTESE lança o projeto “Escola Democrática e Popular – A Educação que queremos”.
Fruto de discussões acumuladas pelos professores sergipanos nos últimos 20 anos, o projeto propõe um novo paradigma de educação para o estado, a partir de quatro eixos: Formação Humana, Trabalho Docente, Gestão Democrática e Políticas Estruturantes.
O lançamento do projeto acontecerá na Sociedade Semear, a partir das 19h.