Três Pequenos Registros Sergipanos

O Homem da Natureza e os escravos

Antonio Moniz de Souza, nascido na Freguesia de Nossa Senhora Imperatriz dos Campos do Sertão do Rio Real, atual Tobias Barreto, em 1782, e que morreu, em Niteroi, na Província do Rio de Janeiro, em 1857, notabilizou-se pelas viagens que empreendeu pelo território brasileiro, anotando sobre costumes, plantas e remédios, modos de vida, riquezas minerais, e outras informações úteis. O pioneirismo do aventureiro sergipano, documentado em seus escritos – Viagens e observações de um brasileiro (1834), Máximas e pensamentos (1843), Descobertas curiosas, que no nos reinos Vegetal, animal e mineral (inédita) e reconhecido em seu tempo, requer, ainda hoje, um registro definitivo, capaz de salvar do implacável esquecimento a contribuição de Antonio Moniz de Souza ao conhecimento do Brasil.

Em 1850, Antonio Moniz de Souza libertou nove escravos africanos, antecipando-se, em muito, a outros gestos que deram liberdade aos negros que trabalhavam nos canaviais e nas fazendas de gado. Movido de espírito humanitário, consciente do estado deplorável em que vivia a população escrava no Brasil, Moniz de Souza dirigiu ao Imperador Pedro II uma Petição, na qual esclarece as suas posições de abolicionista:

“Senhor,

Antonio Moniz de Souza e sua mulher Maria F. de Abreu Rangel preferiram antes acrescentar o número dos súditos de V.M.I. com nove cidadãos que libertaram do jugo da criminosa escravidão, a ter como escravos entes que podem prestar bons serviços a V.M.I. e ao País.

Os suplicantes não puderam resistir aos ditames de sua consciência e quiseram reparar uma tão clamorosa injustiça, em desagravo das leis da natureza.

O suplicante, velho e com mui pouca fortuna, é onerado com numerosa família dedicou-se, desde a mais tenra idade, à exploração do interior do Brasil, e durante 28 anos de viagens contínuas, procurou alargar e recolher grande número de produtos dos três reinos da natureza, com o fim de ser útil à humanidade e ao seu País.

O suplicante ainda intenta, a despeito dos seus 68 anos de idade, empreender uma última viagem com o fim de descobrir novos produtos e talvez fazer aproveitar aqueles que sendo já conhecidos não são todavia aproveitados por gente que vive na maior pobreza, cercada das maiores riquezas.

Se os ministros do Augusto pai de V.M.I. ou de V.M.I., tivessem o coração patriótico do Conde dos Arcos, o suplicante não se veria forçado pela sua consciência ao fazer uma viagem no fim de seus dias, esperançado ainda de contribuir para fornecer novos gêneros ao nosso comércio, à indústria, à medicina, e livrar tantos indigentes das garras da miséria em que vivem. O suplicante, já tão próximo ao túmulo, ainda espera legar à sua Pátria o que a natureza lhe legou, isto é, os tesouros desconhecidos que a terra encerra em seu seio. Mas como o suplicante pode sucumbir antes de conseguir o seu intento, por isso Pede a V.M.I. se digne tomar debaixo de sua alta proteção estes inocentes cidadãos, que o suplicante e sua consorte libertaram da escravidão em honra de V.M.I., do País, da justiça e da humanidade.”

Apesar da Petição, Antonio Moniz de Souza resolveu assumir a educação dos nove escravos e filhos libertos. 

Eletricidade pelos raios do sol

O jornal aracajuano A Tribuna, edição de 20 de novembro de 1931, dá manchete de primeira página, a um sergipano – Raimundo Alves de Lemos – de 31 anos, nascido no Engenho Central (Riachuelo), que dizia ter  trabalhado, em 1925, na Sorveteria Alvaara, no Rio de Janeiro, como encarregado das máquinas produtoras de gelo, fazendo o carregamento das baterias, com sais químicos, a fim de conservar a temperatura. O sergipano conta, em entrevista, como chegou  a conclusão sobre os efeitos da luz solar sobre os sais químicos. Prometendo iluminar uma cidade inteira, todas as noites, com seu invento, Raimundo Alves de Lemos disse que como sergipano não poderia divulgar no Rio de Janeiro, onde trabalhava e morava, a sua invenção, e prometeu procurar as autoridades sergipanas, para prosseguir com suas descobertas.

Pobre, dependeu de ajuda de um amigo conterrâneo para fazer a viagem desde o Rio de Janeiro até Aracaju, para onde trouxe o seu segredo, pensando em viabilizá-lo economicamente. O noticiário da imprensa não desdobrou o assunto. 

A profecia do fim do mundo

O jornal A Tribuna, dirigido em Aracaju por Humberto Olegário Dantas, estampa, na sua edição de 8 de outubro de 1932, matéria intitulada Nota Sensacional, a profecia de que o mundo vai se acabar parte de Sergipe. A nota referia a um recanto de Capela, onde um ovo anuncia que no dia 31 de dezembro (daquele ano) o mundo deixaria de ser mundo.

Na Fazenda Calumbi, no município de Capela, uma galinha teria posto um ovo que trazia, em alto relevo, a inscrição: “O mundo se acaba em 31 de 12 de 1932.” Quem divulga o fato, em despacho para Humberto Dantas, é Inácio Soares, de Maroim: “Queria dizer, pelo seu jornal A TRIBUNA o que acabo de ouvir neste momento, com o testemunho de meu amigo Sr. Carlos Melo da Silveira, e todos os meus empregados, em minha casa comercial, de viva voz do meu amigo Sr. Pedro Soares da Silva, residente em Muribeca, o seguinte:

“Diversas pessoas inclusive ele, informante, têm ido a Fazenda Calumbi, município de Capela, em casa do Major Francisco Nilo de Menezes, a fim de verem o que está escrito em um ovo de galinha, em letras naturais com relevo, das quais se destinguem os seguintes dizeres: O MUNDO SE ACABA EM 31 -12-1932.”

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais