Fala-se tanto em fidelidade partidária, a sociedade já cobra tanto respeito aos partidos (ou dos partidos?) que o Tribunal Superior Eleitoral obrigou-se a fazer uma interpretação da lei proibindo a mudança de agremiação política àqueles que acabaram de ser eleitos por ele. No entanto, longe de Brasília, loteia-se partidos políticos como quem comercia com carro usado. O partido que agora é de fulano daqui a pouco pode ser de sicrano, como se de repente mudasse de dono.
É o que se dá agora com o PR (que substituiu o PL e o Prona). O empresário Edvan Amorim, que era o senhor do PSC em Sergipe — e pelo qual elegeu uma dúzia de deputados estaduais e o irmão, Eduardo, o mais votado deputado federal —, agora se apoderou do PR, onde até recentemente quem cantava de galo era o pastor Heleno Silva. Interessante é que, passado o susto, o pessoal do partido, os antigos “liberais”, começa a encarar a chegada do novo dono como um fato normal. O negócio está fechado, fazer o quê?
O deputado estadual Mardoqueu Bodano, que é carne, unha e igreja com Heleno, já faz discurso enaltecendo as qualidades de Edvan Amorim. “Temos ótimas referências do empresário e espero que ele tenha o mesmo sucesso obtido em outras agremiações partidárias”, disse Mardoqueu, dando um aval a esse troca-troca de mandatários partidários e agora enaltecendo a figura do genro de João Alves Filho como “grande articulador”.
E para quem pensa que Heleno Silva ficou sem a presidência do PR porque perdeu musculatura política ao deixar de ser deputado federal, é bom lembrar que Edvan Amorim nunca teve mandato político nenhum. E no entanto…
Ainda Agonalto
Falar de quem já morreu é fácil. Mas há mortos que dizem mais do que outros. É o caso de Agonalto Pacheco, tema da última coluna. Foi um dos textos assinados aqui que mais renderam comentários.
Roberto Nunes, da Cine Vídeo e Educação — Ações Culturais, enviou um pressbook do documentário “Hercules
A propósito, o filme segue boa parte da imprensa nacional e comete um erro histórico, identificando Agonalto como ferroviário. O jornalista Célio Nunes escreveu para reparar o erro. “Certamente na pressa de noticiar, alguns órgãos de comunicação registraram que Agonalto Pacheco, falecido dia 13 passado, era ferroviário. Engano. Agonalto, veterano comuna (do Partidão, militei com ele na década de 50, em Aracaju) era servidor público da (hoje) Secretaria da Fazenda. Trabalhou no antigo prédio do Tesouro do Estado e foi presidente da então famosa Aspes — Associação dos Servidores Públicos do Estado de Sergipe. Com o apoio dos servidores foi eleito vereador de Aracaju. Depois da anistia, ele, que tinha sido demitido e depois banido, requereu legalmente e obteve aposentadoria pelo Estado”, corrigiu Célio Nunes.
UM MANIFESTO E UM POEMA — Welington Batista Luz, professor de Matemática do Município de Aracaju, fez um manifesto pró-socialismo. “Parece que no Brasil realmente prevalece a tese dos militares de que ‘comunista bom é comunista morto’, dado o ostracismo com que figuras como o Agonalto são lançadas e, de repente, são lembradas às portas da morte, ou depois dela, geralmente velhos e amargurados. De passagem, faz-se questão de salientar que o capitalismo liberal venceu e que a história acabou, como diria o Francis Fukuyama. Ledo estorvo, pois a história não acabou. O 11 de setembro e o Genocídio do Iraque estão aí para provar isso. O fato de a classe pensante mundial (geralmente a classe média) se encontrar anestesiada, porque momentaneamente saciada no seu conforto ‘material’, enquanto uma maioria de iletrados passa fome e se mata pelo mundo afora, não garante que será sempre assim de hoje por diante. Enquanto houver injustiça no mundo, haverá sempre um punhado de ‘loucos’ dispostos a lutar contra ela ou contra quem as promove, de um jeito ou de outro. E é isso que é belo no ser humano: o infinito inconformismo. Veja você Marcos, Bin Laden era um milionário e membro da elite mais inescrupulosa do Oriente Médio. De repente se transformou em um revolucionário que combate o Império Americano de frente. Não nos iludamos. A história não acabou e também o sonho do socialismo, que não precisa vir associado a nenhuma ditadura. Já amadurecemos bastante para retrocedermos a esse ponto à custa do sacrifício dos Agonaltos da vida. A luta dele não foi
Mais doce foi o compositor João Mello. “Sua coluna está excelente e aborda realmente a figura de um patriota que viveu e morreu em Aracaju escanteado pelos que ele tanto ajudou e sem perder a fidelidade a seus princípios e convicções políticas. Fiz com ele longa entrevista para a Videoteca Aperipê Memória, onde Agonalto relata toda a sua luta, sofrimentos e já àquela época alguma decepção pelo que estava vendo”. João encerra pedindo licença para destacar da coluna passada o que intitulou de “Um poema para Agonalto Pacheco”
O espírito conciliador
Do velho comunista,
Estava presente no próprio velório
Onde os cristãos se benziam
E faziam orações silenciosas
Diante do corpo morto do materialista
Dentro de um caixão,
Coberto pela bandeira vermelha
Do Partido “Comunista”.