Maria Viviane de Melo Silva
Doutoranda em História – PPGHST/ UFSC
Orientador: Prof. Dr. Alexandre Busko Valim
E-mail: viviane.melo@hotmail.com
É notável que o assunto do momento nas mídias como jornais, redes sociais, entre outros veículos de comunicação chama-se Coronavírus. Com os casos confirmados no Brasil, as mobilizações feitas por meio de campanhas dos Governos Estaduais e Municipais, seguindo as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), e os avisos formais para prevenção da doença tem tomado cada vez mais espaço em nosso país. Atualmente, uma das maiores recomendações é que as pessoas fiquem em casa, a fim de conter o avanço e a transmissão do vírus, processo denominado de quarentena.
Em virtude disso, várias universidades e escolas suspenderam as aulas. Muitos centros comerciais, bares, eventos e outros locais que possam gerar aglomeração pararam de funcionar, e alguns estabelecimentos adotaram o delivery como meio para continuar prestando serviço à população. Entretanto, para aqueles que podem ficar de quarentena, já que muitas pessoas não podem pois atuam nos serviços essenciais, fica uma questão: O que fazer durante esse período de isolamento social? Se digitarmos no Google “o que assistir durante a quarentena” não faltarão opções de sites indicando filmes tanto para crianças quanto adultos e séries para maratonar. Isso nos faz refletir acerca da demanda de pessoas que estão à procura de uma distração para ocupar as horas que antes tinham, ou não, outras atribuições.
Se em muitos lugares as salas de cinema não estão funcionando em virtude de evitar aglomerações, agora voltamos ao momento do cinema em casa. Assistir na Netflix que já era comum na vida de muitos, tornou-se um aliado ainda maior nesse período. Plataformas semelhantes como Amazon Prime Vídeo, NetMovies, BKSéries, entre outras, também disponibilizam entretenimento ao público durante a quarentena. Além disso, a TV aberta fez uma reformulação em sua programação que vai desde notícias com informações sobre o coronavírus, reprise de programas de auditório, jogos de futebol, até reapresentação de novelas em edição especial, uma vez que não é recomendado continuar com as gravações agora. Nesse âmbito, algumas operadoras de TV por assinatura também entraram em cena e liberaram canais como Telecine para quem não tem acesso, a fim de proporcionar outras opções para seus clientes, demonstrando o interesse de alcance social que eles possuem. Mas, seria exagero a hipótese de que há uma estratégia de marketing e de possível fidelização de outros pacotes na TV após o período gratuito acabar?
Dentro desse aspecto, um texto de Raymond Williams intitulado Publicidade: O sistema mágico nos direciona a pensar que não podemos ser ingênuos aos feitos e intencionalidade das informações propagadas nos veículos de entretenimento. No tempo presente é viável analisar as liberações de canais e o advento dos adeptos da Netflix como resultado da venda de um produto, de propaganda e transmissão de conteúdos que ocupam um espaço na formação cultural, política e ideológica da sociedade. O autor nos faz pensar em como podemos ser influenciados pelos conteúdos e discursos dos filmes, séries, entre outros que não estão ali disponíveis por acaso.
Assim, seja por meio de séries, filmes ou de qualquer outro conteúdo disponível, é válido também refletir sobre a maneira que nos apropriamos dos bens culturais de massa e em que medida temos a necessidade de ocupar o que chamamos de “tempo livre” com algo que amenize ou que por vezes nos leve a uma realidade melhor do que a que presenciamos no momento, nos ajudando a pensar em dias melhores.
Para saber mais:
WILLIAMS, Raymond. Cultura e Materialismo. Trad. André Glasser. São Paulo: Editora Unesp, 2011.