Todas as pessoas temem alguma coisa. Alguns medos são bastante difundidos: a acluofobia (medo da escuridão), a gerascofobia (medo de envelhecer), a aerodromofobia ( medo de viagens aéreas).
O meu medo é perder a ternura, de me tornar amarga, vazia e entristecida por viver em um mundo sem generosidades e delicadezas.
Minha predileção, muitas vezes pela companhia dos meus animais de estimação, tem aumentado com o passar dos anos. Pode ser por defesa, por garantia ou simplesmente por desejo. Ainda não descobri. Tudo que sei é que é uma afinidade eletiva, escolhida, diferente dos laços de parentescos ou de outros convívios sociais.
O fato é que minha capacidade de afinidades com pessoas está se tornando pouco comum em uma sociedade de extrema descartabilidade. As amizades parecem não possuir interesses em firmar laços. Não existem entregas, talvez pelas tantas possibilidades das escolhas num mundo pós-moderno.
Li um artigo tempos atrás sobre uma pesquisa realizada pelo grupo MTA-ELTE da academia de Ciências da Hungria, em Budapeste, que dizia que “existem pessoas de animais”. Estão convíctos os especialistas, que certas pessoas possuem mais habilidades e afinidades com animais domésticos que outras. Certamente por opção absoluta, eu me incluo neste grupo.
Eu sou dessas pessoas que ficam destruídas quando está na rua e vê um animal abandonado. E Sempre me faço a mesma pergunta: quem pode deixar na rua, sem comida e sem teto, um animal nascido para o afeto?
O sofrimento está estampado nos olhos desses animais. Contudo, ao contrário de alguns de nós, humanos, que com o tempo vão se tornando ásperos, desagradáveis e irônicos pelos revezes da vida, eles ainda mantêm a capacidade de dar amor. Apesar da dor que vivem diariamente por estarem jogados à sorte das ruas, dos intempéries climáticos, das esmolas de comida e água que podem ser ofertadas por alguma alma bondosa que cruze o seu caminho, os animais são seres amáveis.
Tudo isso me faz pensar que assim como nós, os animais também têm seu destino. Uns atraem situações mais favoráveis que outros. Uma coisa é certa: o valor da vida é igual para todos os seres da Terra, ao menos para mim.
Enquanto escrevo esta postagem, tenho ao meu lado o Bruce, com seus súbitos acessos de ternura. Sentado aos meus pés, com a pata direita sobre o meu pé esquerdo, pedindo carícia e encostando a cabeça na minha perna, como se quisesse me dizer no seu código canino tão sensível , “aqui estou eu, se você tiver tempo dá-me um pouco de carinho!”
A ternura do Bruce me contagia, não tenho dúvida. O amor de um animal de companhia nos torna mais humanos, mais sensíveis e mais tolerantes.
Esta convivência diária nos prova que o amor não precisa de fala para poder falar para nós. É preciso ser leve e delicado para poder sentir.