A eleição de 1962 tinha já, em Sergipe, antecipado os fatos. O Deputado Federal Seixas Dórea, orador dos maiores de todos os tempos em Sergipe, homem de comunicação, superou os estreitos limites partidários e ofereceu-se em aliança com antigos adversários, para mudar a rotina da alternância política do Poder, empatada em 8 anos de comando da coligação PSD-PR, 8 anos da UDN. Na Estância um jovem advogado e jornalista, aliado dos Governos Goulart e Seixas Dórea, conquistou um mandato e deu a ele uma chancela eminentemente popular, o que combinava com a tradição da cidade, trabalhista pela presença de fábricas de tecido, que expunham, às claras, os donos – ligados ao Partido Repúblicano – e os operários, atraídos pelo discurso do Partido Trabalhista Brasileiro, de Francisco de Araújo Macedo. Pascoal Nabuco era, a um tempo, a expressão legítima do Poder local, e suspeito de ações subversivas, comunistas, o que provocou a sua prisão, deposição e perda dos direitos políticos em 1964. Fui, como presidente do Grêmio do Colégio Tobias Barreto e candidato à presidência da USES, algumas vezes a Estância e pude constatar o cuidado do prefeito com a educação local, e o zelo pessoal de Pascoal Nabuco com a sobrevivência de escolas essenciais ao desenvolvimento do município, como a Escola Técnica e o Colégio da CNEC. O jeito simples, os modos democráticos, a postura popular do Prefeito Pascoal Nabuco despertavam nos seus adversários as mais sórdidas e urdidas campanhas, visando desgastar a imagem do administrador. Foram anos de afastamento até que, pela via do concurso público, Pascoal Nabuco recupera a mais plena cidadania e passa a ocupar um lugar que, pelo talento, formação, competência e sensibilidade política lhe pertencia. Virada a página da experiência administrativa no Executivo estanciano, vencida a quarentena dos atos de exceção, Pascoal Nabuco exibia uma face renovada, atualizada, compromissada com tempos que sempre ele quis novos. Aberto ao diálogo e à convivência ampla com lideranças políticas, tanto na Estância, quanto no Estado, Pascoal Nabuco tornou-se Promotor de Justiça, Procurador, chefe do Parquet, concorrendo para que a sociedade sergipana tivesse um Ministério Público com funções ampliadas, constitucionalmente, e valorizadas no pleno exercício de suas funções, em todo o Estado. Foi o Ministério Público que o levou ao Tribunal de Justiça do Estado, substituindo ao desembargador Luiz Rabêlo Leite, cuja magistratura teve a mesma origem. Do seu labor como desembargador o melhor testemunho tem sido o tempo, o cotidiano dos votos, o estudo das questões que percorrem as agendas do Tribunal. Como Presidente do TRE, por exemplo, mais do que garantir a lisura das eleições que presidiu, deixou um farto documentário da história eleitoral do Estado, exposto no Centro de Memória Eleitoral, que embora tenha sido criado pela gestão do Presidente Antonio Góes, mereceu melhor espaço e utilidade. Como Presidente do Tribunal de Justiça conta, em seu favor, a criação e instalação dos Fóruns Integrados, modo de oferecer justiça gratuita ao povo, a construção do prédio próprio do Arquivo do Judiciário, garantindo a proteção ao acervo de documentos da vida judiciária do Estado e a instalação do Memorial do Poder Judiciário, no velho prédio do Tribunal de Relação, restaurado como Palácio Silvio Romero, para contar a história e mediar o judiciário sergipano com a sociedade. Agora, quando parece preparar sua retirada da cena pública do Tribunal de Justiça, Pascoal Nabuco oferece um depoimento sincero, uma visão personalizada dos fatos que viveu, uma recordação emocionada da família, dos mais velhos aos de hoje, uma afirmação, permanente, dos compromissos que tomou para realizar seu destino. O livro de Pascoal Nabuco é uma contribuição importante, mercê do conjunto de notas que expõe, objetivamente, como a recuperar, pedaço por pedaço, eventos, cenários, personagens, com os quais apresenta a realidade do seu tempo, sem retoques comprometedores, sem pudores, sem receios. É um livro que ensina e, principalmente, que trata da pedagogia da convivência, nos arroubos festivos das vitórias, ou nos percalços inevitáveis da história. As novas gerações de sergipanos ficam a dever a Pascoal Nabuco a enorme contribuição de sua biografia e, mais ainda, a compreensão de fatos do seu tempo, aflorados sem qualquer preconceito ou ressentimento. O livro contém, ainda, uma antologia de textos lidos em voz alta – conferências, discursos, dentre outras vozes que adornam a parte memorial. Um bom livro, de boa leitura, e de bons exemplos.
Tenho pelo homem público Pascoal Nabuco uma admiração, que remonta aos dias agitados dos primeiros anos da década de 1960. A campanha radicalizada para a presidência da República entre Jânio Quadros e o Marechal Teixeira Lott, cada um com seu símbolo, o primeiro com uma vassoura, emblema de limpeza e, por extensão, de combate aos desmandos da corrupção que, àquele tempo, dizia-se desenfreada; o segundo, com uma espada, representando a glória das armas, nas páginas da história brasileira. A vitória de Jânio Quadros e sua rápida passagem pelo Governo, sua renúncia, mobilizaram o Brasil em pouco tempo, criando uma perplexidade que continuou com a resistência militar à posse do Vice João Goulart. Jango no Governo cuidou de arregimentar a sociedade por dois caminhos: o do restabelecimento do presidencialismo, retirado da lei maior pelo casuísmo parlamentarista, que conciliou militares e políticos em torno da posse do substituto legal do presidente renunciante, e o das reformas de base, conjunto de mudanças com o qual o presidente e seus aliados esperavam modernizar o Brasil.
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