Um parque tecnológico de indústrias criativas para Aracaju: Sonho ou Possibilidade?(*).
O conceito de “high tech” bastante divulgado por Naisbitt nos anos 90 hoje já não atende às demandas do mercado que não só tornou-se exigente quando ao design como também com relação ao “high touch” e “high concept”. Portanto, o mercado que sempre esteve embelezado pela tecnologia, agora quer e deseja que essa tecnologia seja “bonita” e tenha “alma”. Segundo Pink , “high touch” é a capacidade de criar laços de empatia, de compreender as sutilezas das interações humanas, de encontrar alegria interior e suscitar às pessoas a enxergar além da superfície e, por outro lado, “high concept” é a capacidade de criar beleza artística e emocional, de perceber padrões e oportunidades, de conceber narrativas interessantes e de combinar ideias aparentemente desconexas e criar algo novo.
Portanto, isso significa, na verdade, que o intangível ocupou o seu lugar no mercado. Não basta apenas fornecer aos clientes produtos ou serviços bonitos, é preciso também que esses produtos ou serviços tenham alma e criem empatia com o cliente.
Do ponto de vista dos negócios o nítido crescimento do intangível começa a ser um grande desafio para as empresas. Como esse intangível está sendo visto pelos consumidores? E que intangível é esse que estamos falando? Muita coisa, como por exemplo: a gestão do conhecimento, as redes das relações, inovação, design, parcerias tecnológicas, comerciais e sociais, reputação, imagem e criatividade.
O que acontece no momento é que as empresas precisam ser vistas; todavia, no mercado existem milhares de informações sobre empresas similares e que oferecem diferentes oportunidades de negócios e ofertas. Por outro lado, o consumidor deixa cada vez mais de ser um “comprador passivo” a passa a querer produtos e serviços que efetivamente lhe encantem, lhe chamem atenção, que se identifiquem com o mesmo, que gerem simpatia e, principalmente, confiança.
Acabou o tempo do menor preço apenas valer, agora ele quer não só o menor preço, mas também o produto ou serviço mais fascinante e que lhe traga uma experiência transformadora.
E é justamente neste cenário que floresce a Economia Criativa, porque a mesma permite transformar a criatividade, ou seja, a ideia, em um resultado de valor, ou seja, a inovação. Além disto, a economia criativa promove o desenvolvimento sustentável e humano, logo, ela desenvolve o seu entorno de maneira que todos são beneficiados e, consequentemente, não trás resultados apenas do ponto de vista econômico.
Economia Criativa é um conceito que está sendo bastante discutido no Mundo, em especial na Europa, mas ainda é pouco abordado no Brasil. Na verdade, no nosso país parece que há ainda há um certo temor quando se fala em qualquer coisa que esteja relacionada à criatividade; principalmente em alguns setores da economia onde a impressão que a criatividade é necessária apenas para as artes e nada mais.
Criatividade é a habilidade de produzir algo que é novo e útil; e hoje em dia é encontrada em todas as formas de negócios e não apenas nas artes como a maioria das pessoas acreditava até bem pouco tempo. A criatividade está presente em todos os tipos de negócios, desde o gerenciamento de uma empresa, até o desenvolvimento de marcas e discussão sobre a forma de cada produto. No entanto, o que podemos afirmar é que poucos negócios são os mesmos que eram 10 ou cinco anos atrás, pois a competição cresceu sensivelmente, a tecnologia ficou volátil e a chegada de Internet obrigou com que todas as empresas que quisessem sobreviver começassem a trabalhar mais com a imaginação (criatividade) para o melhor desenvolvimento dos seus negócios e, ao mesmo tempo, mais orientadas na proteção dos seus produtos através do registro do direito de propriedade intelectual.
No caso do Brasil existem certamente alguns milhões que empresas que poderia ser consideradas que fazem parte da cadeia das indústrias criativas. Mas, como não temos ainda nenhum tipo de política pública que defina esse setor, que ajude no seu desenvolvimento e, certamente, na inclusão social de milhares de pequenos empresários empreendedores que estão espalhados por todo o pais muitas dúvidas ainda pairam.
As pesquisas informam que temos 52 mil empresas que compõem a cadeia da economia criativa, que por sua vez abrange cerca de 1,8% dos trabalhadores formais e, em média, essas empresas possuem até 19 funcionários. Considerando que no Brasil há inda muita “informalidade” quando falamos em pequenos negócios acreditamos que esse número poderá ser muito maior ainda.
Todavia, com a definição de políticas públicas que regularizem o setor, que dê acesso ao crédito, a possibilidade de que muitas ideias criativas possam vir a ser incubadas, tal qual acontece com a tecnologia, certamente esse mercado poderá vir a florescer e trazer inúmeros resultados para o país.
Então a minha pergunta é: Quando iremos realmente arregaçar as mangas e colocar o mercado das indústrias criativas em pleno vapor no Brasil? Esperar pelo Governo Federal? Ou cada Estado definir a sua política? Ou ainda cada município que se interesse defina a sua política municipal? Bem, o certo é que embora sejamos um país criativo, que possui milhares de empresas criativas a verdade é que continuamos engatinhando nesse setor. E muita coisa há para ser feita e, nesse caso, a primeira pedra precisa ser colocada não apenas pelos cidadãos, mas, certamente, também pelos representantes do povo, aqueles que têm por missão de fazer as leis e pensarem nas muitas formas diferenciadas de desenvolver este país.
Quem sabe Aracaju não poderá ter o primeiro parque tecnológico de indústrias criativas do Brasil! Afinal já somos a Capital da Qualidade de Vida (e da Criatividade)!
(*) Fernando Viana
www.fbcriativo.org.br