Um padre sergipano na comitiva de D. Pedro II

CULTURA                                                                         Luiz  Antonio Barreto

 

 

                  

 

 

Ponte do Imperador/Foto: Arquivo
Pedro II foi um dos maiores viajantes do seu tempo. Sempre acompanhado de altas autoridades, algumas vezes ao lado da mulher, o Imperador percorreu o Brasil e ainda teve tempo de correr mundo, fazer amizades e firmar, internacionalmente, uma imagem de governante ilustrado. Mais de século e meio depois, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva encanta estrangeiros de vários países, como um produto vitorioso de um País mestiço, descoberto e colonizado pelos portugueses e outros europeus, africanos, árabes e judeus, e que tinha uma população indígena numerosa, nem vínculo de parentesco com os povos do mundo.

 

Em 1859/1860, o Imperador Pedro II fez uma excursão demorada, de meses,  navegando pelo rio São Francisco, até a Cachoeira de Paulo Afonso, visitando as Províncias da Bahia, Sergipe, Pernambuco, Espírito Santo, tomando uma aula presencial sobre o funcionamento do Império brasileiro, que seu pai, Dom Pedro I, no Brasil, Dom Pedro IV, em Portugal, legou, em continuidade aos esforços do avô Dom João VI. O Brasil republicano praticamente arquivou tudo aquilo que teve relação com o Império, como antes os dirigentes imperiais fizeram com Portugal. A invenção do Brasil requereu, assim, um grande esforço que parece agora ser recompensado, na expressão admirada em torno do Presidente Lula.

 

Na viagem pelo rio São Francisco, em outubro de 1859, munido de bons mapas e contando com auxílio de entendidos, o Imperador conheceu as cidades sergipanas e alagoanas que ocupavam as margens do velho Chico, as ilhas, as grutas, os morros, cumprindo um roteiro que impunha contatos, beija-mão, visitas a escolas, igrejas, entidades pias, e a outros equipamentos sociais. De tudo Dom Pedro II fez anotações, registros, e desenhos que estão contidos nos manuscritos depositados e sob a guarda do Museu Imperial de Petrópolis, parte dos quais publicados. Em tais documentos foram fixadas informações úteis, que ajudam a recuperar a memória ribeirinha, nem sempre preservada.

 

No dia 11 de janeiro de 1860, no fim da tarde, Pedro II, sua mulher (que não estava na comitiva pelo rio São Francisco) e diversos convidados inauguraram a Ponte do Desembarque, que tomaria o nome de Ponte do Imperador, e pisavam nas areias e aterros do Aracaju, que estava em construção como nova capital da Província de Sergipe, graças ao ato conseqüente e responsável do Presidente da Província Inácio Joaquim Barbosa, em 17 de março de 1855. Aracaju estava engatinhando, e era um canteiro de obras, engalanado para receber tão ilustres visitantes. Foi um delírio para a cidade, um testemunho da capacidade de trabalho dos governantes, uma idéia de como o Império mantinha suas relações de Poder com as Províncias, um exemplo a ficar na história.

 

Em janeiro de 1860 estavam prontas a Casa de Oração São Salvador (atual Igreja do Salvador), que funcionava como Matriz, o Palácio Provisório, que foi adaptado para ser Paço Imperial, as praças e ruas centrais, algumas repartições públicas, do Império e da Província, e por todos os lados outras obras anunciavam o que seria a capital de Sergipe: novo Palácio, casa da Assembléia, correios, hospital, asilo, alfândega, força pública, e muito mais que requer uma cidade, com sua responsabilidade de ser porto mercantil, por onde circulasse a riqueza. O volume de obras descritas na memória sobre a visita do Imperador impressiona pela grandeza, pela capacidade técnica, pela firmeza da gestão provincial, pela disposição, incessante, dos administradores em cumprirem com o projeto da construção de Aracaju. Foram muitos dias de festas, atos públicos, e de visitas ao interior. Pedro II esteve na Barra dos Coqueiros, em Laranjeiras, em Maroim, no Canal do Pomonga, em São Cristóvão, e no Engenho Escurial, utilizando em suas visitas os mais diversos tipos de transporte possível, principalmente barco e cavalo.

 

Na comitiva do Imperador, em todas as visitas provinciais de 1859/1860, o Capelão era o padre Antonio José de Melo, sergipano, ordenado no Seminário da Bahia, cônego da Catedral do Rio de Janeiro, ecônomo da Mitra, (por morte do Conde de Irajá, Manoel do Monte Rodrigues de Araújo). Depois da visita, o cônego Antonio José de Melo foi designado Vigário geral Interino, designado diretamente pelo Imperador Pedro II para ser o Capelão das suas viagens, que, ao final, lhe rendeu a Comanda da Rosa e a nomeação, em 1864, para Monsenhor. Antonio José de Melo morreu no Rio de Janeiro em 1885.

 

Ao final da visita o Presidente da Província, Manoel da Cunha Galvão (1822-1872) mandou publicar o livro Viagem Imperial à Província de Sergipe ou Narração dos preparativos, festejos e Felicitações que tiveram lugar por ocasião da visita que fizeram à mesma Província Suas Majestades Imperiais em janeiro de 1860 (Bahia: Tipografia do Diário, 1860), de autoria de Luiz Álvares dos Santos, jornalista. e professor especialmente contratado para dirigir a Tipografia Provincial de Sergipe e para anotar a viagem.

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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