Caroline de Alencar Barbosa
Graduada em História na Universidade Federal de Sergipe (UFS)
Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS)
E-mail: caroline@getempo.org
Orientador: Prof. Dr. Dilton Cândido Santos Maynard
O antissemitismo não consiste em uma prática que advém da ascensão dos fascismos, da mesma forma que não se inaugura na Alemanha com o surgimento do partido nazista e chegada de Hitler ao poder. Esse sentimento de repúdio ao judeu na Alemanha nazista tem raízes históricas, foi fruto do nacionalismo em efervescência e se tornou exacerbado a partir do momento em que a Alemanha sentindo-se humilhada pelas restrições impostas no Tratado de Versalhes após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) voltou-se para o inimigo comum alemão: o judeu.
Nesse contexto, o periódico semanal alemão Der Stürrmer iniciou suas atividades em 1923 sob a direção de Julius Streicher (1885-1946), editor e principal disseminador das ideias antissemitas produzidas pelo jornal que ficou em circulação durante vinte e cinco anos (1923-1945). Em todas as suas edições, os judeus foram agredidos com discursos violentos nos artigos e posteriormente em charges. Seus primeiros números contaram com poucas páginas, não ilustradas, sendo o uso de imagens incorporado somente a partir de 1925.
O antissemitismo do periódico se utilizava de elementos representativos dos judeus enquanto desonestos e de mau caráter, além disso, os apresentavam através de diversas facetas: traidor, verme, diabo etc. Eram acusados de todos os crimes, de serem os responsáveis pela guerra, de conspirarem com outros países contra a Alemanha, de serem detentores de todos os bens e a razão para a ruína alemã. Esses discursos foram incorporados pela população alemã, conquistando o seu espaço enquanto instrumento de persuasão por parte da propaganda nazista nos anos do Terceiro Reich (1933-1945).
Na Alemanha a ditadura de Hitler tinha por determinação restaurar a pureza racial, sendo assim, os cartazes atribuíram ao homem ariano a função de exterminador da “praga judaica”, representada através de espécimes de seres malignos, ratos, vermes, aranhas. Nesse contexto, o judeu era visto não como uma comunidade determinada pela religião e sim como uma raça. A propaganda de Streicher, justificando ser uma ferramenta para a identificação do judeu por parte dos leitores, também os apresentava com estereótipos faciais e corporais definidos, como nariz e orelhas proeminentes, corpos avantajados (gordos), baixa estatura, além da coloração roxa. Seus cartazes violentos reproduziram as formulações acerca dos judeus inimigos da sociedade alemã que, segundo Streicher, Hitler e seus associados, deveriam ser identificados e combatidos por todo cidadão alemão preocupado com o bem-estar do país.
Ao final da Segunda Guerra Mundial em 1945, Streicher foi julgado em Nuremberg por crimes de ódio contra a humanidade, pois contribuiu significativamente para o arsenal propagandístico de Hitler. Mesmo não sendo o único meio de divulgação do antissemitismo na Alemanha, o Der Stürmer fomentou a imagem dos judeus enquanto uma ameaça. Assim, fortaleceu a adesão da população alemã aos boicotes a comerciantes, queima de livros, humilhações públicas, criação de guetos para segregação e confinamento e, por fim, a construção dos campos de concentração e extermínio com suas câmaras de gás que dizimaram milhares de judeus durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).