Uma Acusação

O cinema fascinou os sergipanos, ao longo do tempo, fosse para enfileirar multidões nos espaços onde eram postos os Cinematógrafos, aparelhos mágicos que mostrava a imagem em movimento, atraindo a cada sessão maior número de espectadores. A virada do século XIX trouxe a novidade, através dos equipamentos e dos filmes da Casa Pathé, de Paris. Sergipe participava, na França distante, do início da história do cinema, pela arte do laranjeirense Cândido Aragonez de Faria, que pintava os cartazes dos filmes dos Irmãos Pathé. Em 1913 começava a funcionar o Cine-Teatro Rio Branco, substituindo o Teatro Carlos Gomes, onde vários Kinemas (assim mesmo, com K) funcionaram. A função cinema do Rio Branco marcou época em Aracaju, tanto pelo pioneirismo, como pela animação cultural comum naquele espaço.

 

 

As casas de cinema proliferaram em Aracaju e no interior, consolidando o prestígio da 7ª Arte. Em Simão Dias, na década de 1920, Arivaldo Prata dirigia um jornal dedicado ao cinema. Uma empresa do Rio de Janeiro fez imagens de Aracaju, em 1923, quando do raid Rio de Janeiro-Aracaju, com os aviões comandados pelo almirante Protógenes Guimarães. O então estudante do Colégio Militar do Rio de Janeiro, José Lobo, filho do senador Pereira Lobo, foi o primeiro sergipano a andar de avião e desembarcar em Aracaju, na carona do hidroavião que integrava a frota que serviria para patrulhar a costa do nordeste.

 

 

Nascido em Propriá, J. Soares foi viver, ainda jovem, no Recife e lá compôs um grupo para fazer cinema, sendo ator e diretor de filmes como Aitaré da Praia, a Filha do Advogado, e outros do chamado Ciclo do Recife, na segunda metade da mesma década de 1920. J. Soares, que morreu nos anos 80 foi, no Recife, um grande colecionador de coisas de cinema, cujo acervo foi adquirido pela Fundação Joaquim Nabuco, como base de uma cinemateca, e foi, ainda, cronista desportivo consagrado.

 

 

Bedoia, em Estância, fez algumas experiências de filmagem. Na mesma cidade, na fábrica da família de Júlio César Leite, foram filmadas cenas externas para Os Corumbas, filme baseado no livro do mesmo nome, de autoria de Amando Fontes. O projeto não foi adiante.

 

 

Ivan Valença, Lineu e Chico Varela rodando o 16 mm “Uma Acusação” / (clique para ampliar)
Nas emissoras de rádio e nas redações dos jornais surgiram programas e colunas, revelando nomes que gravaram uma relação íntima com a arte cinematográfica, como Bonifácio Fortes, Alberto Carvalho, Silva Lima, que contava em seu programa com a participação do economista Antonio Rocha, que atuava com o pseudônimo de Dr. Gastão, Ivan Valença, que ainda hoje tem o cinema em sua vida, escrevendo e mantendo uma casa de filmes, em vídeo e em dvd, formando público para o cinema, João Simões Filho, que depois mudou-se para o Rio Grande do Sul, José Carlos Monteiro, Genaldo Resende,  e muitos outros.

José Carlos Monteiro, radicado no Rio de Janeiro desde 1966, também escreveu sobre cinema nos jornais e revistas cariocas e escreveu um livro sobre o cinema brasileiro. Foram notáveis os esforços de Bonifácio Fortes, Alberto Carvalho, José Lima de Azevedo, Núbia Marques, e outros na organização de clubes de cinema. Hoje, tal tarefa conta com a participação da professora Rosângela e de Murilo Navarro.

 

 

Orlando Vieira em “Uma Acusação” / Fotos: Arquivo
Também nos anos 60 foram feitas tentativas de cinema em Sergipe, talvez motivadas pelas filmagens de Nordeste Sangrento, do diretor Wilson Silva, em Maroim e em outros pontos do Estado. Alberto Carvalho escreveu a sinopse, e o roteiro de UMA ACUSAÇÃO, curta metragem rodada em Aracaju e em Laranjeiras e Maroim.

O filme, que tinha como atores Francisco Carlos Varela e Orlando Vieira, teve como câmera Lineu Lins, e como Diretor Ivan Valença, tendo Luiz Antonio Barreto como produtor e responsável pela trilha sonora. O curta contava parte da vida de um vaqueiro, numa ponta de rua, frustrado por não ter sido feita a reforma agrária, e um intelectual alienado, confinado ao seu apartamento, de barbicha, tomando whisky, ouvindo jazz.

 

 

Outros filmes, em bitola de 16 mm e de 8 mm, feitos por grupos de cineastas, entre os quais Hunald Alencar, Djaldino Mota Moreno, César Macieira, Marcos Prado Dias, Justino, Marcelo Deda, câmeras, roteiristas e diretores. Ipojuca Pontes com A Volta do Filho Pródigo, Hermano Pena com Sargento Getúlio tiveram Sergipe como cenário e recrutaram entre os atores sergipanos muitos dos seus protagonistas, principalmente o genial Orlando Vieira, sergipano que fez teatro no Recife, em Aracaju, fez cinema, novela, e outras coisas mais, afirmando seu talento de ator.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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