Lisboa, 20 de janeiro de 2008
Caros amigos de Sergipe:
Desde que morei aí na terrinha com a rapariga Leonor, tenho saído todos os anos no Caranguejo Elétrico, a agremiação carnavalesca do amigo Tom Milk. Semana passada não foi diferente.
Apesar de estar participando de um importante torneio de biriba com o José Saramago, acabei não resistindo à tentação e estive aí na barbosópolis só para participar do desfile.
Chegando na avenida fui imediatamente ao apartamento de um amigo na Beira Mar. Lá, depois de algumas doses, fui à janela e, qual não foi a minha surpresa, ao avistar ao longe o afoxé Filhos de Gandhi.
Pensei que estava maluco. Como podia estar vendo aquele belo tapete branco na avenida se o afamado afoxé baiano não estava nem participando da festa? Com a aproximação do bloco percebi que o que eu julgava serem os turbantes e mortalhas dos afro-baianos, na verdade, eram as brancas madeixas dos foliões do Caranguejo.
Olhei para a minha barriga proeminente e minha calvície grisalha e pensei: estou entre iguais! Desci para encontrar com os meus vetustos companheiros. Entrei na corda e logo avistei Adiberto, Eugênio, Everardo e tantos outros malhadões do jornalismo. Falamos sobre mulheres, angioplastia, pedra na vesícula e outros assuntos triviais.
No acesso aos banheiros do trio, esbarrei com o compadre Pascoal Maynard. Ele estava saindo e eu tentando entrar. Não deu outra. Entalamos as barrigas na porta do corredor. Ainda bem que chamaram a Defesa Civil.
Depois de aliviar a bexiga me deparei com o Sub-bloco do Cleomar Brandi, uma facção composta de belas mulheres sempre em volta da cadeira do inoxidável jornalista.
Foi entre elas que encontrei a minha paixão de carnaval. É como eu sempre vos digo: o amor é como a flatulência, quando você menos espera, ele aparece.
Venúsia faz o tipo intelectual e estuda filosofia.. Foi amor à primeira vista, ainda que eu tenha descoberto depois, que ela sofria de alguns males da visão. A começar por uma miopia de cinco graus, combinada com astigmatismo.
Pra falar a verdade, Venúsia é praticamente uma cegueta. Usa óculos de grau tão forte que de frente, seus olhos parecem saídos de um desenho animado japonês. Depois de vê-la agarrar a Ilma Fontes pensando que era o Armandinho, fugi do sub-bloco a fim de mulheres com uma visão mais acurada da realidade.
Encontrei o Pedrinho Valadares que me apresentou Leona, a ninfeta lésbica, mas quando descobri que era neta de um dos meus maiores amigos, sai para comprar uma cerveja e me escondi embaixo da saia de uma senhora de um grupo folclórico. Com o aquecimento global e a poluição dentro daquela estufa, fui parar no Samu.
Refeito do susto e por recomendação médica, voltei ao apartamento do meu amigo para tomar um ar e evitar outras emoções mais fortes. Qual nada?! Tomei foi outro Logan e fui apresentado à Evilásia, uma loira que estava, sabe-se lá porque, fantasiada de Sherazade. Como ela já estava um pouco alta por causa do uísque, tomei coragem para uma abordagem mais direta:
_E aí? Você faz sessenta e nove?!
_Amanhã, respondeu levantando o véu e erguendo um brinde ao aniversário.
Como diz o Sílvio Rocha: É uma luta!
Até domingo que vem.
Um abraço do
Apolônio Lisboa