Uma Carta Ácida

Só tô escrevendo pra dizer que a porra do ácido bateu. E bateu forte na cabeça, fazendo subir do meu pé até a minha nuca um arrepio medonho, tipo sopro da morte quando vem nos buscar. É isso mesmo, tentei disfarçar (pra algumas pessoas) dizendo que era bebida, mas é á-ci-do mesmo. Não me questione a espécie, pois não sou especialista, porém, amor, meu amor que passou, tenho uma amiga barra-pesada que socou um pedaço de papel em minha boca e me fez enxergar que você é uma bosta de um nada.

Na verdade estou escrevendo essa carta medíocre só pra frisar que se eu soubesse o quão feliz estou agora, não perderia um traço da bateria do meu celular tentando convencer a você, de que ainda sou o melhor pra você. Ninguém convence ninguém de nada. Apenas se tem preguiça de lutar e morremos pela boca, ou no caso, deixamos a morte de uma vida a dois, morna desde o seu nascimento, nos guiar. A tal tragédia da classe média que tem preguiça de abdicar do casamento em prol da coragem de correr atrás de sua própria felicidade – este é o verdadeiro mal do século atual.

A melhor coisa que fiz foi mandar você se fuder e ter tomado este doce. Quanta liberdade! Quanta facilidade em enxergar que nós dois não temos mais nada em comum. Deixamos de ser um para outro naquele dia em que choveu e você simplesmente abriu o guarda-chuva e se protegeu. Naquele momento vi que eu caminhava só; e ainda bem, pois naquele dia infeliz vi uma das coisas mais bonitas que já pude presenciar: a chuva vindo molhando a vida em minha direção, fazendo subir aquele cheiro de terra molhada que me fez chorar sem você perceber. Só me arrependo de não ter dado um chute em você fazendo seu corpo se chocar a um carro vindo a cem por hora na direção contrária.

Você pode até ler essas palavras e achar que estou apenas reagindo ao abandono, que eu mesmo causei, mas oh saiba que não! O problema de ter sua vida impregnada na minha, só me disse respeito até hoje. Agora, meu amor de nada, estou livre, sambando num ritmo que só se passa em minha cabeça e que ninguém jamais entenderá, pois por fora aparento uma normalidade de quem estava meditando horas e horas, mas por dentro estou em choque. Descobri que sou ainda mais cínico assim: loucão.

Fui medíocre. Você foi medíocre. Nosso amor foi uma merda sem sentido e que durou até muito. Viver esses mais de oito anos com você em mim, me custou desaprender a respirar pelos meus dois pulmões. Vivia sem ar, equilibrando oxigênio entre um pulmão e outro e pequenas paradas respiratórias. E quem pode viver assim quando nascemos pra respirar com toda a força de que somos capazes? Aguentei não respirar por você até demais…

Quero apenas que você saiba, que mesmo assim fritadoooooooo, ouvi que sou bonito; e a garota que falou isso não tinha ideia do perigo que ela corria ao me elogiar. Pensei comigo mesmo na hora: com o dia claro, pupilas dilatadas, ouvir uma loucura dessa (que sou bonito), só sendo uma doidona também pra me elogiar assim! mas saiba que ao chegar em casa, antes de escrever esta carta, me olhei no espelho do banheiro e me achei mesmo o cara mais bonito do mundo, pois descobri que sou meu, sem possibilidade alguma de jamais voltar a ser seu outra vez.

Que vivamos distintos!

Assinado: Eu!

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