Uma festa, uma imagem rara

Gravura da Praça Fausto Cardoso em 1899
Os Presidentes do Estado, com o advento da República e a vigência da Constituição republicana de 18 de maio de 1892, passaram a tomar posse no dia 24 de outubro, quando começava o biênio administrativo( parágrafo 3º do artigo 28). Naquele tempo o mandato governamental era de apenas 2 anos, passando depois para 3, com o bacharel Martinho Garcez e principalmente com o padre Olímpio de Souza Campos e, finalmente, para quatro anos, com o segundo mandato do general Manoel Prisciliano de Oliveira Valadão, de 1914 a 1918. A eleição era, então, realizada no dia 7 de setembro, data maior do País, desde 1822. O 24 de outubro, o Dia de Sergipe, data da celebração popular da Emancipação Política, permaneceu como um símbolo da identidade sergipana, lamentavelmente extinto, desde a Emenda Constitucional nº 20, de 31 de maio de 2000, que passou a comemorar o dia 8 de julho, fazendo referência a Carta Régia de D. João VI, que desanexou o território de Sergipe do da Capitania da Bahia.

O período de Governo do padre Olímpio Campos coincidiu com a virada do século e permitiu grandes festejos. O Cruzeiro do fim do século, emblema religioso, foi fincado no Alto onde mais tarde o Presidente Graccho Cardoso construiria a Caixa d’Água, e que hoje está o Centro de Criatividades. O Cruzeiro do fim do século foi mudado, então, para o Morro próximo do Quartel do 28 BC, no bairro 18 do Forte. Em outras cidades os Cruzeiros estão em frente das igrejas matrizes, nas praças principais do interior sergipano.

O Governo do padre Olímpio Campos, de 24 de outubro de 1899 a 24 de outubro de 1902, foi responsável pelo início da pavimentação de Aracaju, com o calçamento de pedra das principais ruas do centro da cidade. Iluminação a gás acetileno, aterro da praça do Palácio e de outras áreas centrais e outros melhoramentos marcaram a administração do religioso, cuja atuação política era marcada pelas polêmicas.

Olímpio Campos mandou construir, para a festa de sete dias da sua posse, de madeira, um réplica da Torre Eifel de Paris, na praça que hoje leva o nome do seu desafeto Fausto Cardoso, nas proximidades do Palácio do Governo, que depois passou de sua morte passou a levar o seu nome. Era um adereço bonito, elegante, de porte destacado, que servia de coreto para recitais, apresentações musicais, e outras atividades recreativas na praça principal de Aracaju. Os coretos, de pedra e cal, foram obras posteriores, do período de Graccho Cardoso, tendo como Prefeito o irmão Hunald Santaflor Cardoso.

A partir da posse do padre Olímpio Campos e por alguns anos a Torre Eifel da praça do Palácio atraiu a curiosidade pública, ensejando uma imagem que correu mundo, como um cartão postal de uma cidade em ritmo de modernização, e que o tempo rareou. A Torre Eifel é citada por Corinto Mendonça, na parte referente as realizações do Governo Olímpio Campos – Contribuição ao Centenário de Aracaju (Aracaju: Curso de Tipografia e Encadernação da Escola Industrial de Aracaju, 1954) e a imagem da praça, com a Torre, está no livro The New Brazil, de Marie Robinson Wright (Filadélfia: George Barnie & Sons, 1907, 2ª edição), também uma raridade bibliográfica.

Aracaju tem perdido, ao longo do tempo, muito de suas velhas imagens, desde aquelas que o Barão Homem de Melo colheu, por volta de 1870, quando visitou a capital sergipana, até os cartões postais, em preto e branco, editados pelas óticas de Aracaju – Santana, Santa Luzia -, e as chamadas “vistas” da Casa Amador e de outros estúdios fotográficos. Fotos aéreas de 1923, tiradas pelo Tenente J. Kfuri, integrante do Raid Rio-Aracaju, não são conservadas, nem replicadas, como marca original de uma época.  Em vários livros que tratam dos Estados brasileiros são encontradas fotos de Aracaju, algumas delas raras, desconhecidas, como as que retratam os desfilem patrióticos de 7 de Setembro, durante o Governo do general Valadão, especialmente dos anos de 1915 e 1917, e as aulas de Educação Física (Ginástica Sueca), na Escola Normal e no Grupo Escolar Modelo, que funcionava como seu anexo. Algumas das fotos são assinadas pelo fotógrafo Hélios, certamente contratado pelo Presidente do Estado, outras não têm indicação. Em 1920 o Presidente Pereira Lobo contratou pelo menos três fotógrafos: Fabian, Guilherme Rogato, que tiraram fotos de Aracaju e transformam numa bela coleção de cartões postais do Centenário da Emancipação Política de Sergipe, e Leone Ossovigi, do jornal O Estado de São Paulo, responsável por fotografar a capital e o interior, para ilustrar o Álbum de Sergipe, de autoria de Clodomir Silva.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais