Uma guerra insana: notas sobre o filme A Batalha Esquecida (2021)

Maria Luiza Pérola Dantas Barros

Doutoranda em História Comparada (PPGHC/UFRJ)

Integrante do Grupo de Estudos do Tempo Presente (GET/UFS/CNPq)

Orientador: Prof. Dr. Dilton Cândido Santos Maynard

E-mail: malupedanbar@gmail.com

Cena do filme A Batalha Esquecida (2021). Fonte: https://www.adorocinema.com/filmes/filme-283570/fotos/detalhe/?cmediafile=21860821

 

Em meio a uma gama de produções cinematográficas que tratam de aspectos relacionados à Segunda Guerra Mundial (1939-1945), produzidas anualmente e disponíveis em plataformas de streaming, nos deparamos com o filme A Batalha Esquecida (2021).

Lançado em 2021 pela Netflix, e baseado em eventos reais, o filme se inicia apresentando uma Europa que, apesar de ocupada, via os nazistas perderem cada vez mais territórios. Naquele contexto, os aliados precisavam do Porto de Antuérpia para manterem as tropas, mas, enquanto os alemães possuíssem o controle do Rio Escalda, ele não poderia ser alcançado.

Toda a narrativa do filme é construída pelo cruzamento de três personagens, que acabam por nos apresentar aquela batalha a partir de três perspectivas distintas que se viram, por algum motivo, envolvidas naqueles acontecimentos: civis, nazistas e aliados.

A primeira personagem é Dan, da família Visser, que nos apresenta a batalha a partir da perspectiva dos civis. Seu pai era um médico que prestava assistência aos nazistas feridos, no contexto da Holanda ocupada, e o seu irmão, Dirk, um membro da resistência. Dan trabalhava na Prefeitura colaboracionista dos nazistas, que, naquele momento de proximidade dos exércitos aliados, buscava queimar os arquivos comprometedores. A grande virada da personagem aconteceu após a captura e morte de seu irmão, onde ela se aproximaria da resistência.

O segundo personagem é Van Staveren, que nos apresenta a perspectiva de um nazista envolvido no conflito. Oriundo de uma família em que o pai “trabalhava por uma ninharia” e os irmãos fariam o mesmo, ele buscava algo para sua vida que o fizesse se orgulhar. Após ser ferido na frente russa e se recuperar, é transferido para um escritório na Holanda. Talvez esse seja o personagem mais complexo da trama: era, de início, um idealista, que se convenceu e comprou todo discurso do nazismo, mas que, gradativamente, vai se deparando com a realidade da atuação nazista na guerra, até o ápice de sua explosão de raiva manifestada nas cenas finais do filme, em que ele mata um outro oficial nazista.

Por fim, o personagem Will nos apresenta a perspectiva dos aliados no conflito. Filho de um alto comandante da força aérea britânica, vai para a batalha por um ato de desobediência ao pai. A partir dele, vemos um front de guerra no qual a destruição e a traição pelos próprios companheiros se faziam presentes; e somos apresentados ao drama de um soldado inexperiente lutando para sobreviver naquele contexto insano.

Nas suas mais de duas horas de duração, vemos, a partir das três perspectivas brevemente apresentadas, uma guerra em que não há mocinhos e nem vilões bem definidos; um conflito humano, principalmente no que se refere às contradições inerentes ao ser humano; um conflito no qual tudo é insano e nada faz muito sentido. O que vemos é o lado jovem e inexperiente de uma guerra, a partir de uma narrativa que não é gloriosa como, por exemplo, Até o Último Homem (2016); tampouco é uma narrativa que possua um romance, como A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata (2018); antes, é a insanidade de uma guerra e suas várias faces, a partir de três perspectivas distintas.

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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