Uma história da Medicina em Sergipe

Durante muito tempo os temas locais ficaram de fora do objeto da pesquisa em Sergipe, com exceção, única, da questão dos limites, litígio antigo com a Bahia, que motivou autores que produziram verdadeiros clássicos, como é o caso de Ivo do Prado com o seu volumoso ensaio histórico A Capitania de Sergipe e suas Ouvidorias, contendo a boa defesa dos direitos sergipanos (Rio de Janeiro: Papelaria Brasil, 1919).

 

A própria história de Sergipe não tem merecido pesquisa e estudo abrangente, que lance sobre o tempo os métodos interpretativos, esclarecendo os fatos. A historiografia sergipana é fragmentada, e seus melhores textos cobrem recortes limitados, como a História de Sergipe, de Felisbelo Freire (Rio de Janeiro: Editora Perseverança, 1891), e o Álbum de Sergipe, de Clodomir Silva, editado em 1920 para celebrar o Centenário da Emancipação Política de Sergipe (sem registro de editora). No século XX ganham importância os livros de Maria Thetis Nunes, com estudos sobre Sergipe colônia e Sergipe província, os de Ibarê Dantas, de estudos políticos, e aqueles produzidos no interior da Universidade Federal de Sergipe, assinados por Maria da Glória Santana de Almeida, Terezinha Oliva, Lenalda Santos, Diana Diniz, Maria Matos, e outros autores.

 

O médico e professor Helvécio de Andrade, em ensaio publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (vol. 5, nº 9, 1920), sob o título de A Medicina em Sergipe durante um século, abre caminho a que outros autores tratem de questões sanitárias, especialidades médicas, fazendo registros essenciais, como o fez, recentemente, o professor Antonio Samarone, estudando as temíveis febres do Aracaju.

 

O professor e médico Henrique Batista, que guarda o sangue de historiador do seu pai, Abdias Batista e Silva, autor de várias monografias sobre os municípios sergipanos, publicadas na Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, volume correspondente a Alagoas e Sergipe, tem tratado, na cátedra do curso de Medicina, da história  da ciência ou da arte de curar, arrolando dados localizados, ambientados e conotados em Sergipe. Além de ser um dos mais abnegados estudiosos, no cotidiano do curso médico, Henrique Batista avança na busca de fontes, no conhecimento e na compreensão dos fatos, fixando um interesse que, certamente, está destinado a atender às novas gerações de estudante e estudiosos.

 

O projeto de uma história da Medicina em Sergipe, que envolva as ações do Poder Público, tiradas dos velhos Relatórios e Falas, dos  presidentes da Província e das Mensagens dos governadores do Estado, incorpora a vida das instituições, dos hospitais, centros médicos, e da própria Faculdade de Medicina de Sergipe, sonho que a sociedade sergipana acalentou, por décadas. Henrique Batista tem ampliado o horizonte da sua pesquisa e tem aprofundado a observação, disposto a levantar e a interpretar dados, que revelem o itinerário científico e social da Medicina em Sergipe.

 

É evidente que assunto tão amplo e diverso não pode ser esgotado num livro, mas o que foi feito ajuda, de forma inquestionável, ao conhecimento da história que a Medicina percorreu em Sergipe, e coloca o nome de Henrique Batista no justo lugar de pesquisador e de historiador, contribuindo com a bibliografia especializada, que é capítulo importante da produção do saber, nesta terra de grandes médicos, alguns com biografias consagradas em outros Estados, como Dias de Barros, Abreu Fialho, Ranulfo Prata, Olinto Dantas, ou mesmo aqui, nos limites da terra, como Augusto Leite, Lourival Bonfim, Garcia Moreno, Antonio Garcia Filho, Walter Cardoso e muitos e muitos outros que atualizaram a ciência entre nós, construíram hospitais, centros e clínicas de especialidades, ministraram aulas, proferiram conferências, escreveram ensaios, criaram métodos e aparelhos, tornando a Medicina em Sergipe um acervo de muitas e grandes realizações.

 

É no trato das informações, que Henrique Batista insere seu trabalho, consciente de que há ainda muito a ser feito, no desvendamento da construção da história da Medicina em Sergipe.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
Comentários

Nós usamos cookies para melhorar a sua experiência em nosso portal. Ao clicar em concordar, você estará de acordo com o uso conforme descrito em nossa Política de Privacidade. Concordar Leia mais