UMA HOMENAGEM JUSTA, TARDIA E INADIÁVEL

            O médico Adib Jatene recebeu, nesta segunda-feira (16/05), em Aracaju, o título de “doutor honoris causa” da Universidade Federal de Sergipe, dentro da programação alusiva ao  43º aniversário de fundação da instituição e como parte integrante também das comemorações do Jubileu de Ouro da Faculdade de Medicina de Sergipe. Na oportunidade, outras personalidades foram homenageadas, entre elas os médicos Antonio Leite Cruz, José Fernandes dos Santos Macedo e Byron Emanuel de Oliveira Ramos, que receberam o título de professor emérito. Também foram homenageados o governador Marcelo Déda Chagas e todos os parlamentares sergipanos que, independente de siglas partidárias, apoiaram iniciativas ou carrearam recursos para a nossa Universidade na última legislatura (2006-2010).
         Um fato curioso para ser lembrado. Nos idos de 1995, Jatene, na condição de Ministro da Saúde, lançou a proposta da criação do CPMF como forma de salvar a saúde pública brasileira. Bem intencionado, usou de todo o seu prestígio pessoal para conseguir a aprovação do projeto pelo Congresso. Afinal ele acreditava na ideia e julgava justa a forma apresentada. A oposição era grande mas por outro lado, de vários pontos do Brasil, surgiam manifestações de apoio.
         Em Sergipe, não era diferente. O  tema foi discutido na Somese e sua diretoria decidiu, por unanimidade, convidar o Ministro para vir ao Estado com o objetivo de debater com os médicos. Tarefa difícil  de ser conseguida, achavam muitos. Com a ajuda da Associação Médica Brasileira, conseguimos o contato. Na condição de presidente da Sociedade Médica de Sergipe, falei por telefone com o seu chefe de gabinete. Para minha surpresa, talvez pela fato de ser a primeira entidade médica a manifestar um apoio oficial, ele prontamente aceitou o convite e marcou de imediato a data. O curioso da história é que a Secretaria de Estado da Saúde, comunicada oficialmente da vinda do Ministro, preparou uma ampla programação de visitas e inaugurações e distribuiu o roteiro com a imprensa, sem incluir a sua visita à sede da Somese, previamente acertada e motivo principal da vinda de Jatene.
          No dia da chegada, todos os jornais e rádios locais divulgavam a programação do Ministro em Aracaju, sem citar o encontro da Somese. Vários médicos e dirigentes de entidades já se encontravam na sede da entidade no horário combinado e nada do ministro. Questionavam se ele de fato iria comparecer, porque ninguém tinha observado essa atividade na programação.
          No entanto, às três horas da tarde,  uma hora depois do acertado, a comitiva chegou à Somese. O encontro fora salvo pela vontade e determinação do próprio ministro, honrando assim o compromisso. No auditório da Somese, ele debateu de forma bastante tranqüila, por quase duas horas com vários  médicos presentes, entre eles Antonio Roberto Figueiredo, José Teles de Mendonça, Adelson Chagas, William Soares, Jorge Alberto Teles Prado, entre outros. Foi a primeira vez na historia que um Ministro da Saúde visitava uma entidade médica de Sergipe.  E todos perceberam a sua satisfação e alegria por estar entre colegas, na casa dos médicos, a sua casa.
         Mas o objetivo desse artigo não é o de despertar certas reminiscências e sim destacar a vida e a obra desse vulto da Medicina brasileira, alvo de uma homenagem justa, tardia e inadiável da Universidade Federal de Sergipe, no momento em que o seu curso de Medicina comemora o 50º aniversário de fundação.
          A vida de Jatene foi de inteira dedicação ao estudo ( com centenas de trabalhos científicos publicados em revistas indexadas), ao desenvolvimento científico, como participante de dezenas de sociedades em várias partes do mundo, de um ente social e político, colaborando de forma absolutamente sincera e despretensiosa com os poderes públicos ( foi Ministro da Saúde por duas vezes), sem entretanto se descuidar dos cuidados de pai atento e zeloso , cujo exemplo de vida perpetua na descendência, com os médicos Fábio, Ieda e Marcelo Jatene e a arquiteta Iara Biscegli Jatene.

         Tive a honra e o privilégio de conviver com Fábio Jatene quando estivemos juntos na diretoria da Associação Médica Brasileira, de 1999 a 2003, ele no cargo de diretor científico e eu na diretoria de economia médica, cuja grande ação foi dar início aos trabalhos de elaboração da CBHPM. Na diretoria científica Fábio executou uma ação ambiciosa e inédita, hoje extremamente vitoriosa: o Projeto Diretrizes.  Atualmente, ele  comanda, entre outras atividades e todas com o mesmo brilhantismo, o Serviço de Transplante de Pulmão do INCOR – Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da USP.
         Já Marcelo Jatene comemorou nesta semana, no mesmo local, o centésimo caso de transplante de coração em crianças, cujo serviço é comandado por ele e que foi apresentado à sociedade por uma matéria veiculada no  Jornal Nacional, da Rede Globo. Foi gratificante ver crianças alegres, felizes e de volta à vida normal, graças ao seu trabalho e de toda a sua qualificada equipe cirúrgica, incluindo cirurgiões, intensivistas, anestesistas, enfermeiros, entre outros.
      Pai e filhos,  irmanados nos mesmos propósitos fraternos e humanitários, dignificam sobremodo a Medicina brasileira e para eles, deste modo, todas as homenagens são justas.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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