O desejo surgiu da afetividade e do amor entre duas pessoas do mesmo gênero. Ele tem o nome social de Jéssica Taylor e se apaixonou pelo amigo baiano Adriano. Com jeito feminino, coração altruísta e boa conversa, Jéssica conquistou o comerciário Adriano que desejaram formar um família.
Há oito anos, o Juízo da 5ª Vara Cível reconheceu a união civil dessas pessoas do mesmo sexo. O grande acontecimento, em maio do ano passado foi o Supremo Tribunal Federal (STF) reconhecer uma ação Homoafetiva como entidade familiar, assim como a união heteroafetiva. O ilustre sergipano ministro Ayres Britto argumentou que o artigo 3º, inciso IV, da CF veda qualquer discriminação em virtude de sexo, raça, cor e que, nesse sentido, ninguém pode ser diminuído ou discriminado em função de sua preferência sexual. “O sexo das pessoas, salvo disposição contrária, não se presta para desigual ação jurídica”.
Aqui em nosso Estado, temos 54 processos julgados procedentes com assunto União Homoafetiva no Tribunal de Justiça.
Jéssica Taylor |
Jéssica conta que atualmente se sente valorizada pelos familiares e satisfeita pelas garantias jurídicas da união estável, como o direito a partilha de bens, direito a herança, direito do uso do sobrenome do companheiro, da possibilidade de adoção, entre outros.
Ela diz que o percurso da vida dela foi sofrido. Aos dez anos de idade saiu da casa dos pais em Ilha das Flores, pois era muito discriminada pelo pai e pelo irmão mais velho, por gostar de se vestir de modo feminino e ter atração pelos meninos.
Foi morar então na casa de uma tia que também a discriminava. Na escola, os colegas sempre com chacotas e atos de bullyng homofóbico fizeram com que, mais uma vez, Jéssica saísse para algum lugar que a tratasse com naturalidade e respeito.
Jéssica e Adriano |
Desta vez, foi morar com um primo em São Paulo e lá começou a tomar hormônios para crescer os seios e ficar mais feminina. Quando retornou para Aracaju teve grande dificuldade em conseguir emprego e caiu no mundo da prostituição. Conseguiu emprego apenas como empregada doméstica e a partir daí começou a desenvolver os dotes culinários e ter comportamento admirado pelos patrões pela eficiência e por cumprir as tarefas e horários estabelecidos.
Atualmente, vive os seus 37 anos de idade, com entusiasmo na luta contra o preconceito, apoiando as travestis a lutarem pelos seus direitos. Como presidente da Associação das Travestis Unidas na Luta pela Cidadania, (UNIDA), ela cuida das pessoas excluídas para a afirmação da identidade de gênero e também orienta sobre os cuidados na prevenção e na assistência médica adequada ao uso do silicone e terapias com hormônio, trabalha com adolescentes nas escolas orientando que eles podem usar o nome social e também trocar o nome na identidade.
A história de vida dessa sergipana vem tendo conquistas pelo resgate da dignidade e pela superação de barreiras sociais amenizando a discriminação e humilhação que passa pela escolha sexual e pelo modo de vestir.
De bem com a vida, ela adora cuidar da casa, do seu companheiro e do seu estimado gato siamês, Matheus. Bem humorada e vaidosa, não descuida dos cabelos cumpridos, e da arqueada sobrancelha depilada. Sempre toma hormônios para os seios, para não crescer pelos e também para não ter ereção no ato sexual, pois se diz passiva.
De sorriso expansivo, ela fala do seu relacionamento com muito amor, lembra-se do primeiro beijo, da viagem que fez com Adriano pelo interior do Estado depois que foi oficializada a união civil, e da boa convivência que tem com ele nesses dezesseis anos. Agora Jéssica voltou a estudar e pretende se formar em Direito.
Para ela, esse reconhecimento social e jurídico contribuiu muito para diminuir a violência e a humilhação sofridas por todos aqueles que diferem da união heterossexual, além de reconhecer os direitos que todos devem ter, indistintamente de sexo, cor, raça ou religião, afirmando sua identidade e liberdade e o seu livre arbítrio em viver.