Vestido de festa não é alta-costura

Numa dessas semanas em que a gente não sabe por onde continuar a vida – no meu caso, por onde continuar esse blog -, alguém jogou com certa impaciência: “Escreva sobre alta-costura”. Creio que a ideia partiu de uma conversa que tivemos tempos antes na qual eu, fazendo as vezes de figurinha de chiclete, comentei: “Você sabia que “alta-costura” é um termo patenteado e que apenas os membros da Câmara Sindical da Alta Costura podem se autodenominar assim?”. Como me deram corda, comecei a listar os requesitos para fazer parte desse “clube”, com o mesmo orgulho de uma criança que decora todos os nomes dos estados brasileiros, com suas respectivas capitais, e vai recitar para os pais na hora do jantar.

Giambattista Valli – Inverno 2013 (foto: reprodução)

Ah, vai, esse lance de Haute Couture é, no mínimo, interessante. Entre requesitos que mais parecem massagem de ego e outros que garantem a qualidade e revelam todo o talento das grifes, não há lugar para qualquer estilista. Primeiro por que o endereço da marca tem que estar em algumas das ruas mais importante de Paris como a Champs Elysées e que a sede, além de dispor de um salão reservado para os desfiles, precisa ter pelo menos cinco andares. Como eles chegaram a esse número é uma dúvida que provavelmente vou levar para o caixão.

O que mais me chama a atenção e desperta uma vontade absurda de poder tocar e examinar alguma dessas peças é que elas são feitas por artesãos especializados – ofício que muitas vezes se concentra nas mãos de algumas famílias. Essas mãos, aliás, precisam ter a sensibilidade e a habilidade de um verdadeiro artista, já que os modelos precisam ser artesanais, ou seja, sem costura à máquina. Outro absurdo é que algumas peças chegam a demandar até 400 horas de trabalho. Por curiosidade mórbida, apelei à matemática básica e descobri que se um artesão trabalhar, hora após hora, todos os dias e sem parar, ele precisaria de mais de duas semanas até o último ponto da tal peça.

Elie Saab – Inverno 2013 (foto: reprodução)

Com tantas minuciosidades, é óbvio que para se ter um vestido da alta-costura é preciso pagar caro. Muito caro. Dizem que uma peça pode custar até 100 mil dólares. Daí você já deve ter deduzido que o grupo de clientes é muito seleto. E só uma coisa, eles não são aqueles que desfilam pelos tapetes vermelhos – os modelos que as celebridades usam nas premiações geralmente são emprestados. As más línguas propagam que algumas clientes não repetem modelo em festa e acabam doando as peças para museus. Outra coisa, quem compra alta-costura pode ter algo exclusivo – no sentido mais rígido da palavra – feito de acordo com suas medidas pessoais e modelado em materiais nobres, através das técnicas mais apuradas de costura e bordado.

Mas afinal, quem são os membros dessa tal Chambre Syndicale de La Haute Couture, criada ainda no século 19? Entre casas conhecidíssimas como Chanel, Dior, Givenchy e Jean Paul Gaultier, nomes como Anne Valérie e Maurizio Galante também pode se denominar alta-costura. Entre os oficiais, também está o brasileiro radicado na França, Gustavo Lins, com o seu ateliê muito conceituado no exterior. Representando os estrangeiros estão nomes como Armani, Valentino e Elie Saab. Tem ainda o grupo dos convidados com grifes como Giambattista Valli e Julien Fournié. Quer saber o que eles desfilaram na última temporada? Clica aqui. E para saber mais sobre a história da alta-costura, aqui.

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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