Salvador, 27 de janeiro de 2008
Caros amigos de Sergipe:
Depois de passar o domingo de Pré-Caju na terra dos cajueiros, não resisti à tentação e estiquei até Salvador para uma típica semana de verão baiano.
Para tanto aluguei uma casa de praia, através da amiga Lícia Fábio, que aliás, deu a maior bola para a minha instigante pessoa.
Na chegada, claro, fui à praia para pegar uma cor. Saí vermelho como um camarão. Pra piorar o negócio, resolvi comer um acarajé na Dinha e não me dei com o dendê. Fiquei dois dias com disenteria, mas refeito do desarranjo fui ao Candeal Gheto Square.
Na festa de Carlinhos Brown conheci Fabiana de Jah, a mais nova fiel dos ‘Rastafari de Cristo’, uma seita maluca que mistura, reggae, Jesus e maconha.
Ela me ensinou que Jesus é um grande apreciador do reggae e nada tem contra os estimulantes naturais que abrem os “portais da alma”, segundo ela mesma. Uma doidivanas sem a menor dúvida.
Confesso aos senhores que não estaria tão apreensivo, se a última reunião da estranha seita não tivesse sido realizada na minha casinha alugada. É que com a crise financeira por que passa o novo culto, o templo doado pelo governo baiano foi vendido e o dinheiro depositado num paraíso fiscal na conta do pastor Peter Cliff, mentor espiritual das ovelhinhas tresloucadas.
Com os insistentes pedidos acompanhados de valorosos préstimos pornô-eróticos de Fabiana de Jah, não tive outra alternativa a não ser ceder o imóvel para a tal reunião.
Tal qual nos cultos ao Santo Daime com aquela beberagem maluca, as tais reuniões são regadas a um grande consumo dos morrões fumegantes, para a qual a carola da massa real encontrou até uma referência na Bíblia. Só não me explicou qual é.
Nesses alegres encontros é discutido também o destino dos abstêmios do fumo após o Juízo Final, a beatificação do guru Jimmy Cliff, a descriminalização das drogas menores e tantas outras questões concernentes aos propósitos da instituição festivo-religiosa. Oxalá a Polícia baiana não leia esta bendita carta.
No último sábado Fabiana e seus companheiros de empreitada foram até o Morro do Calabar com o propósito altruísta de doar cestas básicas para a população carente.
A cesta geralmente é composta de duas latas de leite, um pacote de mariolas, um quilo de arroz, outro de feijão, um CD pirata com os hits jamaicanos e, naturalmente, um cigarrinho manufaturado para ajudar na conversão de novos adeptos. Segundo ela, a chegada da trupe é sempre saudada com música e fogos de artifício.
De modo que, invadido pela maresia de dezenas de ‘Rastafari de Cristo”, estou em dúvida entre sair de casa para escapar de eventuais baculejos ou entrar de vez na onda transcendental rumo às ‘maravilhas do Reino de Jah’.
Em suma, amigos, não sei se ligo para a Polícia ou começo logo uma arrecadação interna para comprar o templo.
O pior é que o carnaval aqui já começa na próxima quarta e a fumegante troupe já promete uma vigília religiosa que eles batizaram provisoriamente de “Chama Fumegante do Senhor”. O nome é preocupante. Acho que vou me mandar enquanto é tempo!
Até semana que vem
Um abraço do
Apolônio Lisboa.