Você é um sabe-tudo? (*)

Conhecimento é a capacidade de agir efetivamente para produzir os resultados que se persegue”.

Fredy Kofman (Autor de Metamanagement)

 

Para muitos autores conhecimento significa saber o que fazer com a informação que recebemos, o que, de certa forma, é muito parecido com a definição de conhecimento dada por Kofman. Todavia, para a maioria de nós quando dizemos que uma pessoa é sábia significa apenas que ela tem a informação, mas nem sempre está claro que ela sabe o que fazer para efetivamente utilizar bem essa informação.

Todavia, quando falamos de aprendizado entendemos que estamos querendo incorporar novas habilidades ou novos saberes, os quais por sua vez irão permitir que atinjamos determinados objetivos, que antes – por não termos o conhecimento necessário – estavam fora do nosso alcance. Mas, o primeiro grande paradoxo que precisamos enfrentar, quando falamos em aprendizado é que – para aprender – precisamos, antes de tudo, estarmos cientes de que não sabemos de nada, ou em outras palavras que somos ignorantes naquele determinado tipo de assunto.

No mundo organizacional, via de regra, é muito complicado para as pessoas dizerem que não sabem fazer alguma coisa. Geralmente o preço pago por isso é muito elevado e, por esse motivo, a maioria das pessoas prefere omitir que não sabe fazer um determinado serviço, para não ser considerada burra, ignorante e outros nomes bastante corriqueiros. Assim sendo, as pessoas preferem ao fingir que sabem fazer uma determinada tarefa, sem sabê-lo na realidade, e assim ir “esquecendo” de completá-la.

Dentro desse vácuo aparece o famoso sabe-tudo no mundo organizacional. Encontramos esse indivíduo incorporado naquele gerente que dá ordens, mesmo quando sabe menos do que os seus colaboradores; naquele vendedor que argumenta categoricamente com um cliente sobre a importância de um determinado produto, mesmo sabendo que ele não terá nenhuma importância para o seu cliente; naquele executivo que descarta uma opinião de um empregado mais jovem por “acreditar” que ele não tem a experiência necessária para exprimir a sua opinião.

O sabe-tudo sempre tem razão, sempre está certo, sempre está pronto para interferir nas áreas dos outros, muito embora a sua área esteja um pandemônio. Ele sempre sabe o que fazer, sempre tem a resolução de um problema na ponta da língua e isso acontece porque esses indivíduos têm os seus egos assustados e intimamente são inseguros. Desta maneira, ele se sente mais seguro expondo outras pessoas (mesmo inconscientemente), por esse motivo, o sabe-tudo precisa explicar com os mínimos detalhes como é possível, justamente por que ele – sempre – tem todas as respostas explicativas porque as coisas não estão funcionando como deveriam.

Mas um indivíduo sabe-tudo não aplica devidamente a solução encontrada por ele. Geralmente esse indivíduo é categórico e está sempre pronto para levantar a bandeira da sua “inocência”. Assim sendo, uma vez que ele sempre tem a solução correta, é de se esperar que seja bastante evidente que a causa dos problemas está em outra pessoa já que ele sempre explica os erros sem assumir nenhuma responsabilidade sobre eles.

Assim sendo ele sempre sabe o que os outros deveriam estar fazendo e, por este motivo, não poupa severas críticas por não estarem fazendo as coisas como deveriam ser feitas. Na verdade, o sabe-tudo é um espectador por excelência, por esse motivo ele se protege de qualquer falta, é aquele indivíduo que assiste a um bom filme e depois faz uma lista de críticas de como poderia ter sido melhor se as coisas tivessem sido feitas daquela maneira. E, ao atribuir o erro aos outros ele poderá continuar de cátedra dizendo como deveria ter sido feito, mas nunca arregaçou as mangas para fazê-lo.

Finalmente, lembre-se que o sabe-tudo sempre é uma vítima, nunca um protagonista; como vítima ele está sempre atribuindo a culpa à outra pessoa e, portanto, nunca a responsabilidade é sua. E, quando atribui culpa ele sempre chama as variáveis que não poderia controlar, esquecendo-se estrategicamente daquelas que poderia ter controlado. Quer um exemplo? Um sabe-tudo foi à cidade resolver um negócio, caiu um temporal e ele ficou encharcado de água. Ao invés de assumir que ele se molhou porque não levou ou não tinha um guarda-chuva, ele dirá: “Caiu uma chuva inesperada e eu não tive onde me abrigar”.Trata-se de uma explicação verdadeira, todavia, ele buscou para sua explicação uma variável incontrolável (a chuva) e não o fato de não possuir um guarda chuvas.

Você conhece alguém assim? Se você conhece, aprenda com ele como não ser um sabe-tudo; todavia, se você age como um, corra rápido, ainda é tempo de você se recuperar. Lembre-se não existe figura mais chata do que um sabe-tudo ao nosso lado.

 

 

(*)Fernando Viana

Presidente da FBC

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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