A sucessão municipal dá sinais claros que já começou em Aracaju. Paralelamente, evidencia-se que o prefeito Marcelo Déda (PT) está iniciando o seu trabalho para conquistar o interior. Mesmo assim, o relacionamento entre o prefeito da Capital e o governador João Alves Filho se mantém estável, dentro dos critérios de entendimentos administrativos, principalmente no que se refere à Aracaju. No restante, deixa-se claro que o processo sucessório na capital já se iniciou e a perspectiva é que, imediatamente após, entrará em ritmo de sucessão estadual. As chuvas que inundaram o sertão foram testemunhas disso. Cada um fez a sua parte, sempre buscando reduzir o trabalho do outro. João Alves Filho tomou as providências que impõe o Estado. Arregaçou as mangas e caiu em campo para reduzir os graves problemas causados pela seca. Distribuiu remédios, alimentos, colocou um helicóptero para servir à comunidade e está recuperando estradas e pontes. Tudo com a pressa que requer uma situação de catástrofe, como é o caso de enchentes, principalmente em uma área onde a água rareia e a população está habituada com a eterna ausência dela. O prefeito Marcelo Déda agiu paralelamente. Evidente em menor proporção, mas dentro das condições de uma Prefeitura Municipal, que também tem que cuidar de problemas em Aracaju, atingida por fortes chuvas, mas que está sobre controle. Sábado passado, Marcelo Déda e seu grupo político se deslocaram para a região atingida e visitaram os locais em maior dificuldade, como os povoados de Porto da Folha e Poço Redondo. A Petrobrás, presidida pelo petista José Eduardo Dutra, foi acionada para dar ajuda financeira às Prefeituras, além de alimentos e o que fosse possível para reduzir o sofrimento de famílias ilhadas e famintas. José Eduardo teve ação imediata em relação aos alimentos: já chegaram na região, enviados pela Petrobrás, 5 mil litros de leite, que serão distribuídos com as vítimas do sertão. Também foram prometidos R$ 150 mil para as Prefeituras de Poço Redondo e Porto da Folha. Até o momento esse dinheiro não chegou. Deve estar a caminho. O deputado federal Jackson Barreto desclassifica o trabalho realizado pelo Governo: “a Petrobrás já investiu mais, no sertão, do que o Estado”, comemorou, como se isso marcasse ponto político. Outra demonstração de que há ranço político neste momento de aflição, é que o prefeito de Porto da Folha, Júlio Santana (PMDB), foi absolutamente ignorado pela comitiva liderada pelo prefeito Marcelo Déda. Tudo foi contatado com o pároco da cidade, padre Antônio, que trabalha ao lado do prefeito. Ele vai receber os R$ 150 mil prometidos pela Petrobrás, para empregar no trabalho contra as enchentes. Também foi Jackson Barreto quem disse: “esse dinheiro não será entregue ao prefeito, porque pode não ser usado para os fins específicos. A gente confia mais no padre”. A ação da Petrobrás é exemplo. Pela primeira vez a estatal se envolve com problemas do tipo em Sergipe. Mas não deve ser utilizado como argumento político. O bom seria que todos se unissem nessa luta, porque, como ensinou o próprio prefeito Marcelo Déda, “Ai de quem quiser fazer campanha política com a miséria alheia”. A responsabilidade do Estado, num momento de calamidade, é de todos os homens públicos. Que se unam para salvar uma população, que ignora de quem vem qualquer tipo de ajuda. A miséria não rende votos. É possível que provoque ódio, principalmente contra quem quer se aproveitar da situação. O momento é de se dar as mãos e cada um fique com a consciência tranqüila do dever cumprido. O Governo Federal ignora a catástrofe, mas os sergipanos não podem fazê-lo. Por isso é muito bom que agora, quem puder fazer alguma coisa que se uma. Juntos, serão mais fortes e capazes de salvar vítimas. O momento não é de medir quem fez mais ou de querer desqualificar o trabalho dos outros. A hora é de solidariedade humana e não de se formar um palanque político para colher sentimentos e simpatias dos que estão na mais plena miséria. É estupidez, é desumano, se um lado ou outro agir pensando em conquistar votos. ACORDO O prefeito Marcelo Déda (PT) avisou que não vai fazer acordo político com ninguém, para as eleições deste ano, pensando em 2006. A intenção de Déda, que ainda não se declarou candidato à reeleição, é um projeto para 2008. Ninguém pense que vai ser vice na certeza de assumir a Prefeitura 16 meses depois. DISCUSSÃO Quanto à história de chapa puro sangue ou não, Déda admite que deve ir para discussão entre todos os partidos aliados, até se chegar a um consenso. Acha que quando tiverem à mesa, os partidos devem lembrar que o candidato a vice tem que ter um sangue bom, penetração no eleitorado e liderança. O VICE O deputado Heleno Silva (PL) concorda que tem de se discutir o nome do candidato a vice na chapa de Marcelo Déda (PT). Heleno Silva acha que não pode haver qualquer tipo de imposição, mas discussões e se o melhor for um nome do PT, não se pode abrir mão. Ou mesmo de Edvaldo Nogueira. REFINARIA O prefeito Marcelo Déda reconhece que não existe uma briga política entre o presidente da Petrobrás, José Eduardo Dutra (PT) e o governador João Alves Filho (PFL). “Com todo o respeito, o governador tem politizado a questão da refinaria, que ele vinha conduzindo com equilíbrio”, considerou. OCULTO Marcelo Déda acrescenta que não vê razão para se ter um sócio oculto: “tem que ser colocado à mesa das discussões o grupo que está em parceria com Sergipe”. Lembra que os governadores dos demais Estados, interessados na refinaria, apresentaram os seus cacifes. “Na hora que isso vira uma disputa política fica ruim para todos”, advertiu. AÇÃO O prefeito de Siriri, Waldomiro Silva (PL), ameaça entrar com ação de improbidade administrativa, contra o presidente da Petrobrás, José Eduardo Dutra. Acusa Dutra de fazer política com dinheiro da estatal. Waldomiro tem documentos sobre a liberação de R$ 250 mil para uma festa em Japaratuba e R$ 50 mil para outra promovida por Jackson Barreto, em Santa Rosa do Lima. ASFALTO Waldomiro Silva também quer asfaltar rodovias que vão da sede do município a povoados que produzem petróleo. Diz que Petrobrás está fazendo asfaltos em Japaratuba. Lembra que José Eduardo está fazendo tudo por Japaratuba, porque o prefeito é do PT. Diz que quando entrar com a ação contra José Eduardo dará entrevista até no Bom Dia Brasil. DOSSIÊ Os prefeitos de cidades produtoras de petróleo estão fazendo um dossiê para mostrar que a Petrobrás está agindo politicamente em Sergipe, para beneficiar aliados de José Eduardo. O encontro dos prefeitos será dia 12 e o dossiê vai para as mãos da ministra Dilma Rosset e para o Conselho Deliberativo da Petrobrás. ESCLARECE O gerente de Comunicação Empresarial da Petrobrás, Luiz Roberto, explica que a estatal patrocinou o festival cultural de Japaratuba, mas não liberou recursos para festas profanas. Disse também que a empresa não está asfaltando ruas em Japaratuba, mas que fez a obra de calçamento em Siriri, ligando a sede ao povoado Siririzinho. FESTIVAIS Luiz Roberto lembrou que a Petrobrás não faz política, mas participa de festivais culturais, como em Santa Rosa do Lima, através de uma entidade, em Propriá e em Carmópolis. Não quis falar da reunião dos prefeitos e sobre um dossiê, por considerar que é uma iniciativa deles “que a gente não pode opinar”. MINISTRO O presidente Lula já concluiu a reforma ministerial e, em nenhum momento, o nome do prefeito Marcelo Déda foi cogitado para assumir qualquer cargo em Brasília. Um aliado do prefeito disse que o lugar de Marcelo Déda é em Aracaju e que ele foi eleito para cumprir o mandato até o seu final. E-MAIL O leitor Reinaldo Melo envia e-mail à coluna dizendo que não vê politicagem no trabalho realizado pelo ex-senador José Eduardo Dutra, à frente da Petrobrás. E acrescenta: “comparando a administra de Dutra na Petrobrás com este Governo do Estado, realmente o que se vê é o desejo de estar no lugar dele”. RECICLAGEM Reinaldo Melo diz que não houve reciclagem do governador João Alves Filho. E ironiza: “a grande reforma administrativa anunciada merecerá prêmios!!! Acho muito interessante sua afirmação de que Dutra está inviabilizando a refinaria, por ter que aceitar critérios técnicos”. Diz e pergunta: “Afinal a refinaria é o quê?”. Notas LIBERAÇÃO O prefeito de Porto da Folha, Julio Santana (PMDB), disse ontem que antes mesmo da comitiva de parlamentares da oposição visitar a região, ele já tinha conhecimento da liberação de R$ 150 mil, através da Petrobrás, para ajudar as vítimas das enchentes no município, que foi duramente atingido. A princípio o dinheiro seria entregue à Associação dos Amigos da Terra (Amiter), que é controlada pelo vereador Manoel de Rosinha (PT). Como a Amiter não podia receber, resolveram passar para o padre Antônio. NÃO SABE Júlio Santana não tem conhecimento do depósito desse dinheiro, para ser aplicado na recuperação de casa e ajudar os flagelados, mas admitiu que se esse recurso chegar, a quem for entregue para usar no município, será muito bem aceito: “esteja com quem estiver e venha de onde vier”. Sobre Jackson Barreto, o prefeito Júlio Santana disse que os dois sempre se entenderam muito bem, mas que nas eleições passadas ele votou em Jorge Alberto. Júlio sempre apoiou com Jackson, mas ele mudou de partido. ENOQUE O prefeito de Poço Redondo, frei Enoque (PL), até às 14 horas de ontem, não tinha notícias dos R$ 150 mil da Petrobrás, cuja liberação deve passar por processos naturais da burocracia. A construção da ponte está adiantada, mas as chuvas que ainda caem na região podem atrapalhar a sua conclusão. Já o acesso para Canindé do São Francisco, cidade que não teve grandes problemas, está sendo feito por Alagoas e os carros transitando por cima da barragem de Xingo, cujo tráfego foi autorizado pela Chesf. É fogo O prefeito de Porto da Folha veio ontem a Aracaju para assinar um processo no valor de R$ 20 mil, para pagamento do hotel, que hospeda todo o pessoal do Estado, e do posto médico. O prefeito retornou porque recebeu notícias de que chovia muito na região e o chefe da Casa Civil, que assinaria o documento, ainda não havia chegado do Rio de Janeiro. O semanário que o empresário Ricardo Franco vai lançar está praticamente pronto. Sairá às segundas-feiras. O governador João Alves Filho leva o Governo Itinerante para a cidade de Pirambu, dia 16 de fevereiro. Vai atender a 14 municípios. Este ano a Prefeitura Municipal de Pirambu vai fazer 10 dias de carnaval, com a participação de vários trios. O deputado federal Bosco Costa (PSDB) está preocupado com a situação dos flagelados das enchentes no sertão sergipano. A deputada Ana Lúcia (PT) criticou o Governo por nomear um engenheiro para assumir a Secretaria da Educação. O engenheiro Gilmar Mendes, que está na Educação respondeu: “E Lula, que nomeou um médico para cuidar das finanças?” Gilmar Mendes admitiu que nenhum dos dois casos merece ser citado, porque isso está ultrapassado. O presidente da Petrobrás, José Eduardo Dutra, foi comunicado ontem, pela sua assessoria, de que o governador João Alves Filho iria para a audiência, marcada por ele. Ontem, o presidente da Petrobrás passou todo o dia no Rio Grande do Norte, onde fez visita a várias áreas de exploração petrolífera. A Receita Federal planejou para hoje, o pagamento de mais um lote residual de declarações de imposto de renda que foram retidas na malha fina em anos anteriores. O governador João Alves Filho não está socorrendo Canindé do São Francisco, porque acha que a Prefeitura tem recursos para isso. Por Diógenes Brayner brayner@infonet.com.br