A oralidade é o curso natural das linguagens, com seu leito franco, sem qualquer censura. A escritura estabelece um rigoroso patrulhamento, que visa impedir que circulem termos, locuções, conotados pela obcenidade. Poucos autores escaparam do controle e incorporaram em seus livros o linguajar livre, e o melhor exemplo talvez seja o de Jorge Amado, escritor cujas obras obtiveram sucesso em vários países do mundo, onde certamente teriam tradução cuidadosa, para que os termos populares fossem lidos e compreendidos. Nos circos, nos teatros de revistas, nos pastoris profanos convivem, diante do povo, a homonímia, o duplo sentido, a pulha, e outras formas de uso das vozes populares, como:
Refresco – suco de frutas com água e açúcar
Enfiar o rabo (ou rabinho) entre as pernas – acovardar-se
Gabola – cabotino, ensimesmado
Carrancismo (tempo do) sistema de poder dos carranços,
Carranços – povos apegados ao passado
Zambeta – de perna torta
Bandalheira – anarquia
Esculhambação – anarquia
Sumana (de somana) – semana
Engambelar (de gambela) – moeda antiga, também engano
Rascar (calão do século XVI) – falar insistentemente, fintar
Brocoió – tabaréu, rústico
Peidar no fogo pra não comprar um abano – econômico, pão duro
Treiteiro – enganador
Lenga-lenga – conversa mole, papo furado, conversa fiada, blá, blá, blá
Ponta de rua – periferia
Chapéu de sol de gringo – guarda chuva
Gosto de cabo de guarda chuva – gosto estranho
Marraio – bola de gude, jogo infantil
Cruz credo, mangalô três vezes – espanto, proteção
Cu de calango – buraco apertado
Encangar grilho – não fazer nada
Malinar – mexer com as coisas que estão quietas, em seus lugares
Trompasso – encontrão, pancada, acidente
Quebra-queixo – doce de coco de dura consistência, vendido nas ruas
Pereba – pequena ferida
Pustema – coisa ruim, gente ruim
Sofrer mais do que suvaco de aleijado – comparação
Surdo como uma porta – comparação
Mais liso do que bunda de santo – comparação
Tomar sopa – tomar liberdade
Ou dá ou desce – ou é ou não é, como advertência
Bruguelo – filhote
Dança de rato – hesitação
Nascer com a bunda pra lua – nascer com sorte, ter sorte
João Torrão – vaidoso, cheio de si
Vote – expressão reativa, utilizada na pulha
Pulha ou empulhação – jogo lingüístico, geralmente de duplo sentido
Manteiga derretida – sensível
Estrupiço – encrenca
Rua do cu tapado – viela, beco sem saída
Galinhota – galiota, carro de mão
Enfiar peido num cordão – não fazer nada
Caixa – moeda de cobre
Cachorro azedo – raivoso, doente
Xereta – curioso
Gato-mestre – ensimesmado
Metido a arroz com casca – senhor de si, ensimesmado, superior
Língua de trapo – falador
Tostão – antiga moeda, equivalente a 100 réis, pequena quantia em dinheiro
Siri na lata – angustiado, preso, sem saída
Invertido – homossexual
Deus lhe dê em dobro tudo aquilo que me desejares – votos, algumas vezes irônico
Jesus reina neste lar – texto que ilustra imagem do Sagrado Coração de Jesus
Marreteiro – enganador
Tampa de binga – pessoa de baixa estatura
Bafafá – barulho, confusão
Rolete de cana chupado – gente que não tem mais o que dar, usado, sem serventia