Vozes Populares (II)

A oralidade é o curso natural das linguagens, com seu leito franco, sem qualquer censura. A escritura estabelece um rigoroso patrulhamento, que visa impedir que circulem termos, locuções, conotados pela obcenidade. Poucos autores escaparam do controle e incorporaram em seus livros o linguajar livre, e o melhor exemplo talvez seja o de Jorge Amado, escritor cujas obras obtiveram sucesso em vários países do mundo, onde certamente teriam tradução cuidadosa, para que os termos populares fossem lidos e compreendidos. Nos circos, nos teatros de revistas, nos pastoris profanos convivem, diante do povo, a homonímia, o duplo sentido, a pulha, e outras formas de uso das vozes populares, como:

 

Refresco – suco de frutas com água e açúcar

Enfiar o rabo (ou rabinho) entre as pernas – acovardar-se

Gabola – cabotino, ensimesmado

Carrancismo (tempo do) sistema de poder dos carranços,

Carranços – povos apegados ao passado

Zambeta – de perna torta

Bandalheira – anarquia

Esculhambação – anarquia

Sumana (de somana) – semana

Engambelar (de gambela) – moeda antiga, também engano

Rascar (calão do século XVI) – falar insistentemente, fintar

Brocoió – tabaréu, rústico

Peidar no fogo pra não comprar um abano – econômico, pão duro

Treiteiro – enganador

Lenga-lenga – conversa mole, papo furado, conversa fiada, blá, blá, blá

Ponta de rua – periferia

Chapéu de sol de gringo – guarda chuva

Gosto de cabo de guarda chuva – gosto estranho

Marraio – bola de gude, jogo infantil

Cruz credo, mangalô três vezes – espanto, proteção

Cu de calango – buraco apertado

Encangar grilho – não fazer nada

Malinar – mexer com as coisas que estão quietas, em seus lugares

Trompasso – encontrão, pancada, acidente

Quebra-queixo – doce de coco de dura consistência, vendido nas ruas

Pereba – pequena ferida

Pustema – coisa ruim, gente ruim

Sofrer mais do que suvaco de aleijado – comparação

Surdo como uma porta – comparação

Mais liso do que bunda de santo – comparação

Tomar sopa – tomar liberdade

Ou dá ou desce – ou é ou não é, como advertência

Bruguelo – filhote

Dança de rato – hesitação

Nascer com a bunda pra lua – nascer com sorte, ter sorte

João Torrão – vaidoso, cheio de si

Vote – expressão reativa, utilizada na pulha

Pulha ou empulhação – jogo lingüístico, geralmente de duplo sentido

Manteiga derretida – sensível

Estrupiço – encrenca

Rua do cu tapado – viela, beco sem saída

Galinhota – galiota, carro de mão

Enfiar peido num cordão – não fazer nada

Caixa – moeda de cobre

Cachorro azedo – raivoso, doente

Xereta – curioso

Gato-mestre – ensimesmado

Metido a arroz com casca – senhor de si, ensimesmado, superior

Língua de trapo – falador

Tostão – antiga moeda, equivalente a 100 réis, pequena quantia em dinheiro

Siri na lata – angustiado, preso, sem saída

Invertido – homossexual

Deus lhe dê em dobro tudo aquilo que me desejares – votos, algumas vezes irônico

Jesus reina neste lar – texto que ilustra imagem do Sagrado Coração de Jesus

Marreteiro – enganador

Tampa de binga – pessoa de baixa estatura

Bafafá – barulho, confusão

Rolete de cana chupado – gente que não tem mais o que dar, usado, sem serventia

 

 

 

 

O texto acima se trata da opinião do autor e não representa o pensamento do Portal Infonet.
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