Desde a década de 1960, quando assumiu uma cadeira no Atheneu, que Jackson da Silva Lima manifestou, perante os seus jovens alunos, o compromisso com a cultura sergipana. Falava com intimidade sobre poetas e escritores sergipanos, sem esconder sua preferência por Tobias Barreto. As pesquisas e os estudos ampliaram tanto o seu conhecimento, como o elenco de suas paixões: José Sampaio e Santo Souza encabeçando-o. Mais adiante, atraído pela criação popular, descobriu em casa, com sua mãe Perolina, um repertório imenso de romances, contos, cantigas, adivinhas, parlendas, um nunca acabar de coisas que foi recolhendo, organizando, sistematizando como um documento repertorial dos sergipanos.
Jackson da Silva Lima tratou com igual interesse a literatura e o folclore, dando a Sergipe livros fundamentais, como os volumes da História da Literatura Sergipana, O Folclore em Sergipe – Romanceiro, Os Estudos antropológicos, filosóficos, ou, também, a organização de Obras Escolhidas de José Sampaio, José Maria Gomes de Souza, José Jorge de Siqueira Filho, Pedro de Calasans, Artur Fortes, e, ainda, os Esparsos e Inéditos de Tobias Barreto e a edição, restauradora, de Dias e Noites, do mesmo Tobias.
O que Jackson da Silva Lima publicou é pouco, muito pouco, diante do que tem nos seus guardados de pesquisador e historiador da literatura sergipana e de folclorista. A falta de uma editora no Estado, que pudesse sobreviver no mercado e a ausência de uma política de cultura, a mais do que os esforços dos administradores, respondem pelo ineditismo da obra do pesquisador e historiador.
O professor José Waldir Barreto dos Anjos, por exemplo, proclama em alta voz que o pequeno livro dos Estudos Filosóficos de Sergipe seja ampliado e novamente editado, como fonte, que o é, do pensamento sergipano. De vários lugares do Brasil chegam pedidos das obras de Jackson da Silva Lima, todas esgotadas. O próprio autor, sentindo o tempo passar roçando a sua cabeça, faz um esforço hercúleo de tratar o vasto material pesquisado, gravando em cd, como fez com a poesia de Garcia Rosa, José Gois Duarte, José Sampaio, Santo Souza, Antonio Carlos Vasconcelos Lima, Giselda Morais, a partir de gravações do Movimento Cultural de Sergipe, no seu programa da Rádio Difusora, comandado por José Augusto Garcez, na década de 1950, do Estúdio de José Orico, na década de 1960, conservados no PESQUISE, escritório de pesquisas de Sergipe.
Vultos e Vozes de Sergipe – 01, é o primeiro cd que Jackson da Silva Lima produz e distribui com instituições e pessoas interessadas, fora do comércio. É uma tentativa, heróica, de salvar vozes do passado, deixadas nas fitas e nos acetatos como marcas testemunhais da capacidade criadora dos intelectuais sergipanos. Garcia Rosa (1877-1960) recita Amália, Luz e Sol e Sonhar; José Sampaio ( 1913-1956) apresenta Nós Acendemos as nossas Estrelas e Meu Amigo o Negro Martins; J. Góes Duarte (1895-1961) declama Confronto, Ângelus e Aquarela Noturna; Antonio Carlos Vasconcelos Lima (1928-2003) canta Tangedô de Passarinho, Trevuada, Debaixo da Paia, Pau-de-Arara e Menino da Praia; Santo Souza diz Elegia nº 9, Ode Órfica I, II, III e IV, Pentáculo do Medo, 1º canto; Giselda Morais alem de recitar Pela Rua, O Ar Pesado e Continuarei, tem sua voz gravada com o texto da exposição inicial da Tese de Doutoramento, apresentada na Universidade de Lyon, na França.
Vultos e Vozes de Sergipe – 01 é uma experiência que diz bem da intenção de Jackson da Silva Lima de salvar suas pesquisas e oferecer, em suporte atualizado e de uso comum – o cd – para recircular textos importantes de autores do primeiro grupo da literatura sergipana. É um começo, um bom começo, como é um exemplo, um bom exemplo de responsabilidade para com a cultura sergipana. A idéia deveria ser aproveitada pela Secretaria de Estado da Educação para levar à sala de aula, tão carente, uma antologia da poesia sergipana. Cito a Secretaria da Educação que tem recursos próprios, não depende de minguadas transferências mensais de custeio, como é o caso da Secretaria da Cultura, que resiste graças a tenacidade e a teimosia do Secretário José Carlos Teixeira. Além do mais, a SEED tem cerca de 500 escolas e nelas são ministradas – Deus sabe como – as disciplinas Sociedade e Cultura, no Ensino Fundamental, e Cultura Sergipana, no Ensino Médio.
O disco é completado com as Apresentações feitas por José Augusto Garcez e por Luiz Antonio Barreto. Ficou faltando a palavra do próprio organizador, explicitando as suas intenções com a gravação dos poetas sergipanos. Jackson da Silva Lima pretende gravar outros cd’s, não apenas de poesia sergipana, mas também de prosa, de folclore em geral, produzindo um acervo essencial da cultura de Sergipe. E tudo por conta própria, sem qualquer apoio financeiro de entidades locais.
Felizmente em Sergipe ainda existem pessoas devotadas à causa da cultura, capazes de custear pesquisas e edições em nome do compromisso firmado com as diversas gerações de criadores, artistas, intelectuais, que deram ao Estado uma marca que impõe respeito e provoca admiração e que representa o mais elevado bem que a sociedade sergipana pode, a qualquer tempo, partilhar: o bem cultural, imaterial, intangível, que é ao mesmo tempo corpo e alma, síntese de vida.
Jackson da Silva Lima dá um exemplo excepcional de engajamento, de responsabilidade, fazendo o resgate de vozes ilustres de vultos destacados na militância cultural, pondo – os, como água, ao alcance de qualquer ouvido, na paráfrase a José Sampaio.
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